• Diferença entre o custo de captação dos bancos e o que eles cobram nos empréstimos passou de 25,3 pontos porcentuais em 2014 para 40,7 pontos este ano; para diretor do Banco Central, instituições precisam mudar o relacionamento com os clientes
Fabrício de Castro, Adriana Fernandes - O Estado de S. Paulo
O diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, Isaac Sidney, disse ao Estado que os bancos precisam diminuir a diferença entre as taxas que cobram nos empréstimos e a que pagam na captação dos recursos, o chamado spread bancário. “Precisamos reduzir o custo do spread bancário ao cidadão, para o Estado, para o País e as instituições financeiras poderem dar sua parcela de contribuição.”
Dados do Banco Central mostram que, em pouco menos de dois anos, o spread bancário subiu 15,40 pontos porcentuais. Em dezembro de 2014, os bancos captavam dinheiro a uma taxa média de 12% ao ano e emprestavam a 37,3%. Em agosto deste ano, o custo da captação mal tinha se mexido – estava em 12,3% ao ano –, mas os empréstimos chegaram a 53%. Ou seja, o spread passou de 25,3 para 40,7 pontos porcentuais, uma alta de 60%. O movimento ocorreu a despeito de a Selic (a taxa básica de juros) ter subido muito menos no período, de 11,75% para 14,25% ao ano.
Segundo Sidney, o caminho a ser seguido passa por uma nova política entre bancos e clientes que privilegie o relacionamento de longo prazo. “A variedade de tarifas bancárias e seus valores, muitas vezes excessivos, precisam ser substituídos por relações sustentáveis, de longo prazo”, afirmou.
O professor Ricardo Rocha, do Advance Program in Finance do Insper, afirma que o spread subiu porque, com a crise, os bancos “decidiram se defender”. “Com a Selic alta e num ambiente de crise, eles enxergaram que o risco de conceder crédito ficou maior. Ninguém quer dar dinheiro aos piores tomadores, então todo mundo sobe as taxas”, disse.
Concentração. Outro problema é que, no Brasil, o setor bancário é concentrado. Rocha lembra que apenas cinco bancos são responsáveis por cerca de 80% das operações de crédito e, em função da baixa concorrência, a redução do spread é dificultada. “Se olhar pela lógica do banqueiro, ele faz maiores provisões porque hoje há muita empresa em recuperação judicial. A lógica é que, quando você tem uma baixa concorrência na oferta de crédito, alguém vai pagar a conta pelos que não pagam”, diz Rocha.
Essa situação vem se intensificando em 2016. Em meio à crise no Brasil e às dificuldades das economias também no exterior, a operação local do banco HSBC foi vendida ao Bradesco e, mais recentemente, o varejo do Citibank foi comprado pelo Itaú Unibanco. O mercado de crédito ficou ainda mais concentrado.
A questão do spread bancário faz parte de um dos “pilares da agenda do Banco Central”, conforme afirmou no início de outubro o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, a senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Na ocasião, o spread chegou a ser qualificado como “jabuticaba brasileira” pelo senador Armando Monteiro (PTB-PE). “Não é à força que vamos reduzir o spread bancário; há várias questões de médio e longo prazo”, respondeu Goldfajn na ocasião.
Em 2012, quando a Selic atingiu o menor patamar da história, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega fez pressão para que os bancos reduzissem os spreads. O movimento até ocorreu na prática, mas teve uma curta duração.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que não comenta sobre juros, spread e temas da conjuntura econômica.
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