O Globo
Depois de dois anos de pandemia, a
Universidade Federal do Rio de Janeiro corre o risco de voltar a fechar as
portas. A ameaça não tem a ver com novos surtos do coronavírus. É resultado da
asfixia financeira imposta pelo governo.
Na quarta-feira, a direção da UFRJ fez um
pedido público de socorro. Segundo a reitora Denise Pires de Carvalho, a
universidade só tem verbas para bancar suas despesas básicas até agosto. “Daqui
a dois meses, não teremos mais como pagar as contas de luz e de água”, avisou.
O governo anunciou em maio o bloqueio de
14% do orçamento do Ministério da Educação. Isso inclui recursos destinados à
manutenção de institutos e universidades federais. Metade da verba foi
liberada, mas não há garantia de que o resto será devolvido até o fim do ano.
Na UFRJ, o corte de R$ 23,9 milhões agrava uma situação que já era de penúria. Em valores corrigidos pela inflação, o orçamento despencou de R$ 725 milhões em 2012 para R$ 329 milhões em 2022.
O estrangulamento aumentou após a aprovação
da emenda do teto de gastos, em 2016. Até receitas próprias da universidade
passaram a ser confiscadas para que o governo cumpra suas metas fiscais. Neste
mês, a UFRJ perdeu R$ 6,1 milhões que havia arrecadado com aluguéis.
“O chamado orçamento secreto está intocado.
Não é um problema financeiro, é uma escolha política de onde cortar”, protestou
o pró-reitor de Planejamento e Finanças, Eduardo Raupp.
A UFRJ é a maior universidade federal do
país. Tem quase 70 mil estudantes, 1.400 laboratórios e nove unidades de saúde.
Seus cientistas desenvolvem uma vacina contra a Covid-19 e acabam de
diagnosticar o primeiro caso de varíola dos macacos no estado do Rio.
O maior campus, na Ilha do Fundão, equivale
a uma cidade de médio porte. Hoje parte desta cidade parece abandonada. Nesta
semana, O GLOBO mostrou o cenário de obras inacabadas e prédios em
péssimo estado de conservação. Até o edifício da Reitoria sofre com
elevadores parados e salas interditadas após um incêndio.
A deterioração do patrimônio tombado é uma
das consequências dos cortes de verbas. A UFRJ ainda não conseguiu reabrir o
Museu Nacional, incendiado em 2018, e a Capela de São Pedro de Alcântara,
consumida por chamas em 2011.
Agora as preocupações se voltam para a Escola de Música, na Lapa. Lá estão partituras originais de Villa-Lobos e um órgão de seis mil tubos, que já precisou ser salvo de uma infestação de cupins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário