Folha de S. Paulo
Governo superestimou receita, aumentou o
gasto e ignorou mudança de cenário econômico
O governo de Luiz Inácio Lula da
Silva reconheceu que vai
ter um baita déficit primário neste ano —receitas menos despesas,
desconsiderados gastos com juros da dívida pública.
O déficit deve ficar entre 1,32% e 1,65% do
PIB —talvez fique no limite inferior caso o governo não consiga gastar o que
está programado no Orçamento, o que em quase qualquer governo ocorre por
inépcias, burocracias e outros atrasos de vida.
Quando se dizia que o déficit seria grande, o pessoal do ministério da Fazenda dizia ter um plano "B, C e D" para aumentar receita. Não rolou.
Fazer Orçamento é tarefa para pessimistas
afeitos a cálculo de risco e com juízo na avaliação de conjunturas econômicas.
Se não for assim, é grande a chance de dar besteira.
De janeiro a setembro deste ano, a despesa
aumentou 5,22% ante igual período do ano passado. Trata-se aqui de crescimento
real, descontada a inflação do período. É um aumento próximo do ritmo médio
acelerado dos outros anos petistas. O grosso foi para Bolsa
Família e Previdência.
A diminuição da receita líquida foi de 3,82%.
O governo diz que houve fatores extraordinários e perda de dinheiro devido a
esqueletos deixados no armário pelo governo de trevas. É verdade. Mas o governo
já sabia ou deveria saber disso.
A receita bruta do governo (antes da
repartição obrigatória com estados e municípios) diminuiu em cerca de R$ 80
bilhões de janeiro a setembro de 2023 ante janeiro a setembro de 2022, sempre
em termos reais, descontada a inflação. Essa receita é classificada em três
grandes grupos.
A receita de impostos propriamente ditos, a
arrecadação administrada pela Receita
Federal, baixou em R$ 22 bilhões. O dinheiro recolhido para a Previdência
(Regime Geral de Previdência
Social) aumentou em R$ 23,6 bilhões. A arrecadação que não é administrada
pela Receita caiu R$ 81,5 bilhões. O que é isso?
Na maior parte, dividendos de estatais,
receitas de direitos da União em exploração de recursos naturais (no grosso,
petróleo e minério) e de concessões (de obras e serviços para a iniciativa
privada).
A queda do preço de commodities, a redução
dos dividendos de estatais (por lucro menor e por decisão política) e o
desempenho pífio em concessões à iniciativa privada explica essa perda
espantosa de dinheiro. Sim, é arrecadação volátil, variável demais, incerta.
Por isso mesmo, é preciso ser prudente.
O governo das trevas contou ainda com
inflações diversas para conter déficit e dívida: altas de commodities, IPCA
alto (que por um tempo fez com que as taxas de juros fossem negativas). Passou
a bonança, a maré baixou e viu-se que estávamos nadando pelados.
O governo costuma dizer que já não contava
com tanto dinheiro assim desse tipo de arrecadação. Tudo bem. Ainda assim, é
preciso colocar no bolo das contas frustrações múltiplas. Especialmente quando
se promove um aumento grande de despesas, de resto permanentes.
Vai ser difícil de consertar o buraco, até
porque o governo prevê aumento real de benefícios (da Previdência, vinculados
em boa parte ao salário mínimo), ainda não resolveu a vinculação de despesas de
saúde e educação à receita, prevê gasto mínimo obrigatório em investimento etc.
O governo anunciou que vai manter a meta de
déficit zero em 2024. Mas ainda há pressões dentro do Planalto para derrubar a
meta; há ideias de gambiarras para evitar o corte maior de gastos. Se mantiver
a meta, mesmo que não a cumpra, a despesa de 2025 e 2026 estará sujeita a
limites maiores de crescimento, pela lei do arcabouço fiscal. Se vierem as
gambiarras, vamos para o vinagre.
De qualquer modo, o grande aumento de gasto
de 2023, em primeiro lugar, e a conjuntura desfavorável para a arrecadação
derramaram o leite das metas fiscais.
3 comentários:
O Brasil estagnou desde 1982, mas a partir de 2006/2007 o buraco na economia passou a ser cavado e aprofundado.
Fizeram besteira na economia em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016...
Corrigiram alguma coisa em 2016, 2017..
Voltaram a fazer besteira em 2018, 2019, 2020, 2021, 2022...
As besteiras estão sendo continuadas neste 2023.. Mais besteiras estão sendo prometidas para 2024, 2025...
■■E lá nos blogues de petistas, o que se lê é eles escrevendo:: "Pau na máquina, vamos gastar!" , "Gasto é vida!".
I.R.R.E.S.P.O.N.S.Á.V.E.I.S !
■E Bolsonaro foi irresponsável igualmente.
Estes caras vão destruir este país!
Depois, quando começam a aparecer os erros sobre os quais gente como Carlos Alberto Sardemberg alerta, eles sequer pedem descupas por terem xingado o Sardemberg por se sentirem contrariados quando ele apontava os erros.
Perdemos as décadas de 80, 90, 00, mas depois disto foi pior:: de 2007 para cá estamos sendo afundados!
Jesus!
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