Valor Econômico
Presidente fez novo aceno ao equilíbrio das contas públicas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou
ao fim de uma semana marcada pela revelação de um plano com detalhes
estarrecedores para dar cabo de sua vida, do vice-presidente Geraldo Alckmin e
do ministro Alexandre de Moraes com uma postura altiva e um discurso racional
na política e na economia, em meio à expectativa pelo pacote fiscal.
No primeiro pronunciamento público após as graves revelações do relatório da Polícia Federal, ele comemorou o consenso alcançado na declaração final da cúpula do G20, presidida pelo Brasil, celebrou os 37 acordos assinados durante a visita oficial do presidente da China, Xi Jinping, renovou o apelo pela volta da normalidade democrática, e restabeleceu o compromisso com o equilíbrio fiscal, às vésperas do anúncio do pacote de cortes conduzido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“É esse país sem perseguição, sem o estímulo
do ódio, da desavença, que a gente precisa construir”, exortou, em discurso no
Palácio do Planalto. “Eu não quero envenenar nem perseguir ninguém, a única
coisa que eu quero é que, quando terminar o meu mandato, a gente desmoralize
com números aqueles que governaram antes de nós”.
Num ambiente de incertezas com a economia, de
pressão inflacionária, escalada do dólar e sucessivos adiamentos da divulgação
dos cortes, Lula fez novo aceno ao equilíbrio das contas públicas. “Quero
devolver o país com estabilidade econômica, estabilidade fiscal e estabilidade
jurídica”, e voltou a prometer “previsibilidade” aos investidores.
Porém, ao reiterar o desejo de que esse país
sirva de exemplo “para os empresários brasileiros e para o mundo”, Lula tem de
dar o aguardado sinal verde para a divulgação do pacote de gastos, cujos
adiamentos têm gerado mais turbulências e instabilidade. Haddad afirmou na
quinta-feira que a divulgação do ajuste ocorrerá na segunda (25) ou terça-feira
(26).
As vitórias alcançadas por Lula nessa semana,
no entanto, apenas demarcam, positivamente, a metade de uma trajetória que
ainda tem obstáculos pela frente da magnitude de uma trilha de “sherpas” - os
negociadores do Itamaraty que costuraram, em meio a dias de confinamento, o
documento sem divergências assinado pelas 19 maiores economias do mundo (além
de União Europeia e União Africana).
Como se sabe, os “sherpas” são os guias que
conduzem os alpinistas na Cordilheira do Himalaia, que abriga as montanhas mais
altas do mundo, como o Everest. Para chegar ao cume, é preciso disposição,
condicionamento físico e coragem para escaladas em gelo e rocha, travessia de
abismos, ventos violentos e ameaças de avalanche. Em tempos de planos de golpe
de Estado e assassinatos de políticos e magistrados, trata-se de uma metáfora
adequada para quem se aventura na política nacional.
Na trilha de obstáculos que tem a percorrer
até 2026, caso decida concorrer à reeleição, o primeiro desafio de Lula, do
qual não cabe desvio, é entregar o país com a estabilidade econômica, fiscal e
jurídica com a qual está se comprometendo.
Uma rocha de gelo que emerge logo à frente é
o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que Lula gostaria
de assinar no dia 6 de dezembro, na cúpula de presidentes do bloco que ocorrerá
no Uruguai.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos
Fávaro, confirmou ao Valor que
a expectativa do governo é que o acordo seja anunciado na reunião em
Montevidéu. Nos últimos dias, entretanto, ele criticou o que classificou como
“ação coordenada” de boicote de empresas francesas para tentar inviabilizar o
acordo: “Não faz sentido achar que é coincidência que um mês atrás foi a Danone
que fez, e agora o Carrefour, apontando de forma inverídica as condições de
produção brasileira”.
Nos bastidores, a percepção de fontes do
Itamaraty e do Ministério da Agricultura é de que os ataques recentes de
empresários e varejistas franceses aos produtos do Mercosul seriam uma
demonstração velada de que aumentaram as chances de aprovação do documento.
Um diplomata ponderou, em conversa com a
coluna, que os produtores brasileiros e dos países vizinhos não ouvirão ataques
calados e preparam uma contra-ofensiva. A constatação é de que a batalha migrou
do campo político para a seara da imagem e da opinião publica, e é preciso
defender a qualidade da produção brasileira e do Mercosul. A França e seus
aliados estão em minoria e, no cenário atual, haveria votos para aprovar o
acordo no Conselho e no Parlamento europeu.
Corinthians. Antes das graves
revelações da Polícia Federal, Lula esbanjava entusiasmo nas reuniões do G20, e
não poupou gracejos com os chefes de Estado nas reuniões bilaterais, nas quais
falou até de futebol.
Ao propor o estreitamento dos laços entre os
países na reunião com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Sheikh Khaled bin
Mohamed bin Zayed Al Nahyan, chefe da delegação dos Emirados Árabes Unidos, o
petista elogiou a aquisição do time do Bahia pelo Grupo City, que detém 12
clubes (entre eles, o Manchester City). Na presença de ministros e assessores,
Lula puxou a brasa para o seu time. “O Brasil tem um time muito melhor e com a
maior torcida do país que o senhor tem de conhecer”, disse, em tom bem humorado.
Time do coração de Lula, o Corinthians escapou há pouco da zona de
rebaixamento, e tem uma dívida de R$ 2,3 bilhões para honrar.
Um comentário:
No Brasil tudo acaba em samba e futebol.
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