O Estado de S. Paulo
Com minerais críticos e desmatamento, Trump mexe com Defesa e Segurança Nacional
Sem diálogo, sem canais e com perspectivas
ruins, as tentativas do Brasil para resistir ao início do tarifaço de Donald
Trump, em 1.º de agosto, entram na reta final resvalando para um terreno
literalmente sensível, que divide opiniões, inclusive, entre Itamaraty e Forças
Armadas: a exploração de minerais críticos, ou das chamadas terras raras.
O Brasil é o segundo país nessas riquezas minerais, só atrás da China, mas praticamente nunca explorou seu subsolo e suas potencialidades. E agora? Isso pode entrar na negociação com Trump, que já vinha usando o poder dos EUA e sua expertise em chantagem para botar a mão nas terras raras da Ucrânia e da Groenlândia e acaba de incluir o Brasil na mira.
Além da área ambiental, as Forças Armadas já
tinham uma pulga atrás da orelha, como registrou Marcelo Godoy no nosso
Estadão, diante da inclusão de “desmatamento” na Seção 301, que investiga o
Brasil em várias frentes, sob ameaça de sanções. O sinal de alerta piscou
também no Itamaraty e todos tentam entender as reais motivações de Trump, até
porque ele não dá a mínima para florestas. A conclusão é que, tanto no caso do
“desmatamento” quanto no das terras raras, como em tudo que envolve Trump, o
que conta são os negócios e os lucros – nem só dos EUA, mas dele e sua família.
Há, porém, duas percepções diferentes. Para
os militares, a inclusão ardilosa do “desmatamento” remete à tese da
internacionalização da Amazônia, acalentada historicamente por EUA e Europa,
sob o argumento de que o Brasil não teria condições de cuidar do “pulmão do
mundo”. Já para os diplomatas, o interesse é mais direto: quanto mais
desmatamento, melhor para pastos, plantações... Ou seja: mais competição para
os EUA, grandes produtores agrícolas e de carnes.
Os minerais críticos cabem nesse balaio,
junto com “o petróleo é nosso”, “as riquezas naturais são nossas” e “o mar
territorial é nosso”, enrolado na bandeira da soberania brasileira. Por isso,
incluir uma negociação sobre exploração de terras raras no ataque de Trump,
junto com tarifas, big techs, Brics e processo contra Jair Bolsonaro pode não
só não ser suficiente contra os 50%, como encontrar forte resistência interna e
Lula já gritou: “Aqui ninguém põe a mão!”
Se há algo capaz de unir as esquerdas, as
Forças Armadas e as massas é o nacionalismo. Portanto, incluir na negociação
com Trump as reservas de lítio, nióbio e outros minerais estratégicos para
radares, navegação aeroespacial, satélites e chips tende a levar a discussão do
campo comercial para o econômico e dali para o político – num nível muito acima
do prender ou não Jair Bolsonaro.
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