Folha de S. Paulo
A realidade adversa e contundente: o poderio
dos EUA não se compara à capacidade do Brasil de retaliar
Depois de breves momentos de relativa
contenção e alguma calmaria, o presidente Luiz Inácio da Silva
(PT) voltou a adotar o tom de enfrentamento com Donald Trump.
Usou a figuração do jogo de truco para indicar que dobraria a pedida de mão, caso o norte-americano resolva impor sanções ainda mais gravosas que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Lula falou como se houvesse paridade de forças entre os dois países.
O discurso pode funcionar no palanque e daria
ganhos sólidos ao autor, se ele fosse um candidato de oposição. Na boca de um
presidente da República, pretendente à reeleição, soa como uma temeridade
completamente descolada dos fatos.
A realidade é adversa, mas dela não se pode
escapar: o poderio dos Estados
Unidos e a ausência de limites de seu atual mandatário são
incomparáveis à capacidade do Brasil de sair-se bem numa guerra de retaliações.
Nessa situação de desvantagem objetiva, o
blefe de Lula seria apenas inconsequente se não desse margem a consequências
indesejáveis.
Entre a submissão aos ditames inadmissíveis
de Trump e o confronto aberto há uma via intermediária. Caminho já adotado por
países muito mais poderosos que conseguiram mitigar os efeitos nefastos sobre
as respectivas economias, atuando com estratégia. Não consta que nenhum deles
tenha posto a soberania nacional a serviço dos Estados Unidos.
Animado com os ganhos políticos, o presidente
cria um cenário de dissonâncias no encaminhamento do problema. Ele vocaliza
atrito, enquanto o vice Geraldo
Alckmin (PSB)
atua no pragmatismo, o ministro Fernando Haddad (PT) transita entre os dois
polos e o Itamarati fica refém do antiamericanismo residente no Palácio do
Planalto, conceito manifestado em várias ocasiões.
Haddad e Lula fragilizam o Brasil quando um
admite que os filhos de Jair têm mais força que o governo junto à Casa Branca e
outro diz que Alckmin telefona, mas "ninguém quer falar com ele" em
Washington. Não ajudam e conviria não atrapalharem.
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