Folha de S. Paulo
O mais significativo do ato
pró-Bolsonaro foi a ausência dos governadores de direita
Os governadores de direita (ou de extrema direita, hoje no Brasil é difícil demarcar a linha entre as duas vertentes) sabem que dependem do voto bolsonarista para o projeto de concorrer à Presidência. Mas estão aos poucos tentando camuflar a herança tóxica do ex-presidente, a qual afasta uma enorme parcela de eleitores. Em busca da poção mágica que transforma o dr. Jekyll no mr. Hyde, esforçam-se para construir a imagem de um candidato híbrido, de dupla personalidade. Um líder que, conforme a ocasião, aja como democrata ou como ditador.
Com o ambiente sacudido pelo
tarifaço ideológico de Trump e o método miliciano de Eduardo
Bolsonaro nos EUA, a manifestação na avenida
Paulista lembrou a época em que os patriotas se mobilizavam para
exigir intervenção militar. A diferença é que agora, desiludidos com o
Exército, pedem a intervenção de um país estrangeiro no Brasil.
O mais significativo, no
entanto, foram as ausências de Tarcísio
de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior. Bem avaliada nas
pesquisas, Michele Bolsonaro também fez forfait. Não quis cancelar sua agenda
de pregação religiosa no Pará. A ex-primeira-dama é o trunfo do PL, partido que
alimenta o golpismo ao insistir na anistia, rejeitada por 55% da população,
segundo o Datafolha.
Caiado é o único até agora a
escapar dos ataques do filho 03, o celerado que se acha a última cocada preta
do tabuleiro. O governador de Goiás garante que, se eleito, vai "anistiar
todo mundo". Além de um ato inconstitucional, é um convite a levar um
golpe nos primeiros meses de governo.
Zema já escolheu Alexandre
de Moraes como alvo, dizendo que o ministro perseguido por Trump "paga
pelo que plantou". De olho no apoio do deus mercado, Ratinho morde e
assopra, é uma espécie de Eduardo Paes à procura de projeção nacional.
A alegação de Tarcísio para
faltar ao ato pró-Bolsonaro —fazer um procedimento médico na tireoide em pleno
domingo— mostra que, no momento, ele pensa mais em São Paulo do
que em Brasília.
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