Depois da sova por causa do Pibinho, o governo e os seus simpatizantes reagem aos críticos
Dilma Rousseff e seus economistas apanharam nas duas semanas seguintes à divulgação do Pibinho. Na semana que passou, o governo e seus simpatizantes reagiram. A crítica, diz-se agora, viria da finança e agregados, que perderam o maná dos juros altos, e de quem não entende que o país vive um "período de transição". É tudo verdade. E mentira também.
É verdade que não dá para levar o humor da finança muito a sério. Os rapazes do mercado promovem países a "queridinhos" quando enchem a burra e os rebaixam a "bola da vez" quando se lascam ou veem o peru gordo fugir da gaiola.
Basta lembrar o giro da roda da fortuna e da roda dos expostos da finança nos últimos 25 anos. México, Argentina, tigres asiáticos, tigrinhos vários, Brasil e tantos que entraram e saíram da lista mais de uma vez, por motivo fútil e injustificado.
No caso do Brasil recente, não apenas os rapazes do mercado lá de fora se amuaram. Dilma Rousseff sapateou sobre a banca nacional. Além do mais, muita gente avessa ao petismo estava com o "desenvolvimentismo" entalado na garganta e desabafou quando viu a vaca atolar no brejo do Pibinho por dois anos, com típica Schadenfreude (alegria com a desgraça alheia).
É verdade que há novidades não assimiladas pela economia, o que tem sido chamado de "transição". O país vai se rearranjar com taxas de juros baixas. O dinheiro que não rende nada vai procurar algum destino. Outra mudança, a no câmbio, demora a fazer efeito mesmo.
Se o governo enfim conseguir passar a tarefa de investir em infraestrutura para a iniciativa privada, alguma coisa vai andar.
Isto posto, vamos às mentiras e desconversas.
Primeiro, o governo passou o ano dizendo que "quem apostar no baixo crescimento vai se estrepar". Passou o ano quase inteiro com essa conversa de crescimento de 4%. Era, como se viu, mistura de previsão errada com conversa fiada.
Segundo, mesmo que o país "transite", há empecilhos inegáveis. O desemprego está baixo mesmo com o crescimento baixo. A mão de obra é escassa em quantidade e qualidade. Isso vai dar em problema se o país voltar a andar.
Terceiro, seja qual for o motivo, o país não está investindo. Provavelmente, o desânimo do investimento é uma resultante de uma pilha de motivos.
Porque: 1) Os lucros diminuíram, pois os custos estão altos; 2) Parte do consumo vaza (importamos demais) porque o país está caro; 3) O governo não investe, por inépcia e por causa dos rolos de corrupção que vêm desde 2011 (a tal "faxina"); 4) O governo não sabe conversar com as empresas e coordenar projetos; 5) Está difícil investir em projeto novo e sofisticado por falta de gente qualificada para tocar negócios novos e sofisticados; 6) Os estoques estavam altos devido ao exagero de expectativas otimistas de 2011; 7) A economia mundial é uma draga de ânimos.
Mesmo que a situação melhore, e tende a melhorar em 2013, o Brasil causa exasperação pelo conservadorismo e pela ignorância. Não vamos muito longe com essa burocracia pesada e enorme, com essa falta de educação, com essa aversão a mudanças institucionais, com esse Estado enorme e no lugar errado, com essa falta de ambição, com essa imaginação tacanha.
Fonte: Folha de S. Paulo
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