segunda-feira, 1 de julho de 2013

Na crise, Dilma convoca ministério

A presidente Dilma marcou para hoje reunião ministerial e quer mostrar que o governa não está paralisado. Entre os aliados, cresce a percepção de um “volta Lula" para 2014

Dilma convoca ministros

Em meio à crise, governo quer mostrar que não está parado nem mexerá em programas sociais

O BRASIL NAS RUAS

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff pretende reforçar, na reunião ministerial que presidirá hoje, a partir das 16h, o compromisso de seu governo com responsabilidade fiscal e programas sociais. A mensagem que deverá passar aos ministros é que o governo está atento aos apelos das ruas, trabalha para atender às novas reivindicações, mas sem se descuidar do equilíbrio fiscal e das conquistas asseguradas na área social. A reunião ministerial marca o momento mais delicado da gestão da presidente Dilma, cuja popularidade está caindo. Há crise na economia e protestos nas ruas por mais e melhores serviços públicos.

O compromisso com o equilíbrio das contas públicas foi enfatizado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista publicada ontem no GLOBO. Ele afirmou que haverá cortes nos gastos de custeio para compensar despesas adicionais que surgiram em função de novas demandas e não descartou aumento de impostos, se necessário.

Dilma deverá fazer uma recomendação expressa para que os programas sociais não sejam descontinuados em decorrência das novas demandas. A ideia é mostrar que o governo não está parado por causa da crise e os programas sociais continuam funcionando a todo vapor.

- Precisamos ter olhos e atenção às novas reinvidicações das ruas, olhando a questão fiscal e os programas já existentes. As conquistas que a população mais pobre teve nos últimos anos serão preservadas. Não haverá retrocesso - garantiu o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, resumindo o recado inicial da presidente Dilma em uma reunião realizada ontem, antes da final da Copa das Confederações, jogo ao qual ela não foi.

Bernardo participou da reunião, no Palácio do Alvorada, junto com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres), Luiza Bairros (Promoção da Igualdade Racial) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, também esteve com a presidente na residência oficial.

Dilma pretende detalhar no encontro de hoje com seus auxiliares as iniciativas anunciadas por ela segunda-feira passada em resposta às manifestações e protestos das ruas. Elas fazem parte do que chamou de cinco "pactos pelo Brasil": responsabilidade fiscal, reforma política e combate à corrupção, Saúde, Educação e transporte coletivo.

Outro tema que deve ser objeto de um detalhamento maior da presidente na reunião de hoje é a possibilidade de convocação de um plebiscito para tratar da reforma política. Ela consultou, semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral e pretende enviar mensagem com a proposta, ainda esta semana, ao Congresso. Se aprovada, o Congresso publicará um decreto legislativo e dará início ao processo de consulta popular. Dilma ainda não divulgou as perguntas que deverão ser feitas à população. Ontem, ela recebeu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para tratar do plebiscito. O governo ficou satisfeito com o resultado da pesquisa Datafolha que indicou que 68% dos brasileiros são favoráveis à consulta popular.

Dilma também comentou na reunião no Alvorada a queda em sua popularidade em decorrência dos protestos das últimas semanas. Segundo um interlocutor, ela demonstrou tranquilidade:

- Não foram manifestações apenas contra o governo federal. Houve muitos avanços, mas ainda há muitos problemas. São mobilizações pela ampliação de direitos. São legítimas e reforçam a democracia.

Governo tem máquina cara e pesada

Para fazer funcionar os seus 39 ministérios, o governo federal gasta por ano R$ 192,8 bilhões só com pessoal. Depois dos protestos, até partidos aliados já defendem cortes

No foco dos protestos, máquina administrativa federal consome R$ 611 bilhões por ano

Cargos comissionados no governo chegaram a 22.417, um recorde desde 1997, quando começou a série histórica

BRASÍLIA e RIO - É como se um paquiderme tentasse voar ou correr e seu peso o impedisse de avançar. Assim é o governo federal e sua gigantesca máquina administrativa. Nos últimos anos, com crescimento econômico fraco, o consumo dessa máquina é cada vez maior. Por conta disso, os manifestantes entoam nas ruas coros que cobram eficiência, e, agora, até mesmo quem pega carona nessa estrutura, como os partidos aliados, já defende o corte na carne. Especialistas avaliam que a União gasta muito e mal, e defendem uma reforma administrativa que reduza gastos, aumente a eficiência da gestão e enxugue o número de ministérios. Os números impressionam. A máquina administrativa do governo federal utiliza a mão de obra de 984.330 servidores para fazer seus 39 ministérios funcionarem - eram 24, no final do governo Fernando Henrique Cardoso; e 35, no último ano da gestão Lula. Hoje, o custo anual chega a R$ 192,8 bilhões só com o gasto de pessoal.

Somando o custeio de todas as pastas do Executivo - sem considerar investimentos -, o valor é astronômico: R$ 611.053.640.813. Somente secretarias vinculadas diretamente à Presidência da República são 14 - a mais recente, a da Micro e Pequena Empresa, foi criada para dar lugar ao aliado PSD, que nomeou o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, crítico contumaz do PT.

Na discussão emergencial que surgiu depois que as manifestações mostraram força nas ruas, o governo fez várias sugestões, ainda objetos de discussão. O PMDB, que ficou irritado por não ter sido consultado, embora tenha Michel Temer na Vice-Presidência, andou espalhando que uma das boas medidas seria a reforma administrativa, cortando, inclusive, nos ministérios do partido.

Professor da Escola de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Holanda Barbosa disse que o governo federal deveria pensar em fazer a reforma em até três anos:

- A reforma administrativa deveria cortar metade destes ministérios. Não faz sentido ter os vários que temos aqui. Ela começaria dando exemplo de que estas pastas não deveriam ser usadas para a troca de apoios - sugeriu o professor.

Enxugar a estrutura ministerial também é uma medida apontada por Ruy Quintans, professor de Finanças, Economia e Gestão do Ibmec:

- Os Estados Unidos governam o mundo com cerca de 15 ministérios. A gente tem 39. Será que precisamos de tantos?

Boletim Estatístico de Pessoal, feito pelo Ministério do Planejamento, mostra que o número de pessoas que tinham, em janeiro, cargo comissionado na administração direta, autarquias e fundações do Poder Executivo federal bateu recorde. Chegou a 22.417, o maior desde 1997, quando teve início a série histórica.

Fonte: O Globo

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