- O Globo
PMDB tende a apoiar o impeachment. A propaganda partidária do PMDB que vai ao ar hoje na TV tem um tom crítico que pode indicar que o partido do vice Michel Temer radicalizou sua posição devido aos novos desdobramentos da Lava- Jato, mas é pior do que isso. O PMDB avisa que, se fizesse o programa já sabendo da prisão de João Santana, o tom seria outro, com pelo menos “mais picardia”, como define um de seus líderes empenhado no impeachment.
Apresentar- se como alternativa de governo, com a elaboração do “Plano Temer 2” para a economia, para “manter e ampliar os ganhos sociais”, é apenas reafirmar o que já havia sido feito no lançamento do projeto “Uma ponte para o futuro”. As críticas ao governo refletem a posição do partido: “A economia desanda, o desemprego cresce sem parar e o brasileiro empobreceu”.
Quando Temer apresentou- se de maneira indireta como o homem capaz de reunificar o país, criou uma crise com PT. Mas agora, no programa, a posição é reafirmada: “O PMDB nunca hesitou em assumir a responsabilidade em tomar a dianteira e liderar um movimento para reunificar o país e restabelecer a confiança”.
Embora o tom crítico não possa ser atribuído às novidades políticas, é certo que ele caiu bem neste momento em que o partido está sendo instado a aderir à campanha do impeachment pela oposição. A alternativa seria esperar, ao lado do PT, provavelmente num abraço de afogados, que o TSE defina a questão do mandato da presidente Dilma que, se for cassado pelo tribunal, leva junto o vice Michel Temer.
O processo de impeachment ganhará mais força dentro do Congresso à medida que as manifestações populares se impuserem aos políticos. Nesse sentido, o panelaço de anteontem durante o programa do PT, considerado o maior já ocorrido, reacendeu a esperança da oposição de que a mobilização do dia 13 de março a favor do impeachment refletirá fortemente a vontade da maioria da população.
O processo no TSE é mais demorado do que o impeachment no Congresso, bastando neste que a vontade política da maioria se manifeste diante das inúmeras provas que estão se acumulando.
A decisão do PSDB e demais partidos da oposição de organizar manifestações pelo país para fortalecer a mensagem do impeachment parece a mais importante tomada até agora, pois o movimento deixará de depender apenas do tamanho das manifestações gerais. Será reforçado por encontros regionais que tenderão a aumentar o apoio ao impeachment.
Já há no Congresso uma mudança de ares com relação à decisão de impedir a presidente, e ela a cada dia fica com menos força para manobras. A comparação com os últimos meses do governo Sarney parece equivocada aos que viveram aquele momento, pois, apesar de todas as crises, o então presidente tinha força política no Congresso para garantir mínimas condições de governabilidade, até mesmo negociar a permanência por cinco anos de mandato.
À presidente Dilma faltariam essas condições mínimas de governabilidade, na medida em que ela não tem mais base política majoritária e vê os partidos que teoricamente a apoiam fazendo acordos com a oposição em questões fundamentais para o PT, como o fim do monopólio da Petrobras na exploração do pré- sal ou a aprovação da CPMF.
Quanto mais ficar claro que o processo no TSE caminha para a cassação da chapa, mais o PMDB estará se inclinando para o impeachment, e nesse caso terá sido inútil tamanho empenho do Planalto para eleger Leonardo Picciani para a liderança do partido.
Documentos enviados pelos EUA à força-tarefa da Lava- Jato mostram nove depósitos da conta secreta do operador de propinas Zwi Skornicki, entre 2008 e 2015, para Shellbill Finance, que seria do marqueteiro João Santana; três repasses de U$ 500 mil cada foram feitos entre julho e novembro de 2014, durante a disputa presidencial, o que pode desmentir a informação da defesa de que nenhum dinheiro recebido no exterior tem a ver com a campanha de Dilma à reeleição.
Essa história da carochinha de que a Odebrecht pagou a João Santana propina relativa a campanhas no exterior, em países onde a empreiteira brasileira tem negócios, deve esbarrar na própria Odebrecht e, principalmente, no operador Zwi Skornicki, que provavelmente fará uma delação para se livrar da condenação. Até agora, a grande maioria dos operadores de propina apanhados pela Lava- Jato não deixou de dar sua “colaboração premiada” aos procuradores da Lava- Jato.
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