- O Estado de S. Paulo
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pisou na bola nesta quarta-feira quando declarou à agência Bloomberg que é “altamente provável (highly probable)” que os juros básicos (Selic) caiam ainda este ano.
Pode não ter sido intenção produzir a estranheza que essa declaração causou nos mercados, porque Meirelles é um dos que mais defendem a autonomia do Banco Central no exercício de sua política monetária. Mais do que isso, não tem deixado passar uma oportunidade sequer para lembrar que enfrentou inúmeros episódios de atropelamento de sua autonomia quando foi presidente do Banco Central, nos dois governos Lula.
No entanto, pelas declarações não desmentidas, ficou parecendo que a queda dos juros já é considerada favas contadas pelo governo, seja qual for o nível de autonomia real usufruída pelos atuais diretores do Banco Central.
Essa declaração foi feita dentro do contexto da promoção do recém-lançado Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) entre os senhores do capital de Nova York. A provável queda dos juros é variável importante a ser levada em conta por quem pretende transferir trocados para o Brasil.
Independentemente do que houve, não dá para negar que há agora algumas razões para apostar em certa queda dos juros ainda este ano. Há, por exemplo, uma trégua relevante da inflação. Os números do IPCA-15 divulgados nesta quinta-feira mostram desaceleração significativa: inflação de 0,23% no período de 30 dias terminado dia 15 de setembro, ante 0,45% registrado no período anterior. Essa inflação mais baixa não é, por si só, garantia de inflação sustentavelmente mais baixa nos próximos meses, mas pode ser tomada como indicação de tendência.
O segundo fator de baixa dos juros é a relativa fraqueza do dólar no câmbio interno, o que ajuda a derrubar a inflação com base no barateamento dos importados. O início do processo de alta dos juros nos Estados Unidos foi outra vez adiado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central) e isso também adia a valorização do dólar nos mercados, inclusive no Brasil, na medida em que é fator que encoraja os investidores a aplicações de maior risco. Por aí, criam-se mais condições para maior entrada de moeda estrangeira também por aqui.
E não é só isso. Se a repatriação de capitais, com prazo de vencimento previsto para outubro (que pode ser eventualmente esticado até dezembro), for superior a US$ 20 bilhões, como alguns analistas estão prevendo, será inevitável o impacto baixista sobre o câmbio, mesmo levando-se em conta a provável intervenção do Banco Central com o objetivo de neutralizar excessos de volatilidade.
E há a equação dos preços dos combustíveis. A direção da Petrobrás não pode mais esconder que a criação de parcerias e associações em refinarias passou a fazer parte da estratégia da empresa. Isso não se faz se não houver garantia de que os preços internos dos combustíveis acompanhem o padrão do mercado global: ninguém se arriscaria a despejar dinheiro em refinarias se os preços dos seus produtos não acompanharem os preços externos.
Isto posto, não parece distante o dia em que a Petrobrás terá de reduzir os preços internos que hoje estão entre 20% e 30% mais altos. A própria direção da empresa avisa que estão em discussão os critérios que deverão prevalecer em sua nova política de preços para derivados, com base na paridade internacional. Se for por aí, os preços internos terão de cair e, assim, parecem fadados a ajudar a derrubar a inflação e, portanto, a abrir mais espaço para a queda dos juros.
A última Ata do Copom avisou que a baixa dos juros internos depende do cumprimento de três condições: reversão consistente da alta dos alimentos; velocidade significativa da desinflação; e encaminhamento firme do ajuste fiscal.
Nenhuma das três condições deve ser considerada definitivamente dada. É preciso ver se a derrubada dos preços dos alimentos veio para ficar. De um mês para outro, a velocidade da desinflação ficou relevante, mas desta vez pode ter sido apenas um soluço. E também o ajuste fiscal depende de muita coisa, sendo a mais importante delas a aprovação da PEC dos gastos pelo Congresso.
Enfim, se as indicações do Banco Central, que se destinam a fazer a cabeça dos agentes econômicos, têm de ser levadas às últimas consequências, não dá, ainda, para afiançar que os juros estejam prontos para cair.
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