Blog do Noblat / Metrópoles
Ministros do Supremo perderam a disposição
de fazer papel de bobo
É um truque que já não funciona, mas que o
presidente Jair Bolsonaro sempre aplica toda vez que uma crise detonada ou
agravada por ele o ameaça.
Engrossada, agora, com a aquisição do
senador Ciro Nogueira (PP-AL), líder do Centrão e novo chefe da Casa Civil da
presidência, a tropa de bombeiros entrou novamente em cena.
Quem tem relações com ministros do Supremo Tribunal Federal começou a procurá-los depois dos recentes ataques de Bolsonaro aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
O que acendeu a luz vermelha no Palácio do
Planalto foi o duro pronunciamento do presidente do Supremo, Luiz Fux, em
defesa dos seus pares e com críticas indiretas a Bolsonaro.
Os donos das mais prestigiadas togas da República conhecem o truque e já foram alvos dele no passado. Não parecem dispostos a se deixar enganar outra vez.
O enredo é sempre o mesmo: Bolsonaro não
quis dizer o que disse; o que ele eventualmente disse foi tirado do contexto;
são coisas da política e o presidente também deve satisfações aos seus devotos.
O antecessor de Fux na presidência do
tribunal, o ministro Dias Toffoli, acreditou que poderia domesticar Bolsonaro
ou pelo menos conter as manifestações dos seus instintos mais primitivos.
Foi Toffoli quem primeiro falou em um pacto
dos três Poderes da República pelo bem do Brasil. Deu em nada. Fux o sucedeu
embalado pela mesma ideia. Abdicou dela.
Ninguém no tribunal, salvo o ministro Nunes
Marques que deve sua nomeação a Bolsonaro, imagina que ele mudará de postura. O
trabalho dos bombeiros será bem-vindo, porém inócuo.
Por ora, voo rasante sobre o prédio do STF
é uma ideia arquivada
A que ponto chega a insanidade de Bolsonaro
ao sentir-se contrariado
Conta quem testemunhou a conversa e
espantou-se com a sugestão feita pelo presidente Jair Bolsonaro ao então
ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva.
Sexta-feira, 26 de março último. Em
despacho com o general no Palácio do Planalto, Bolsonaro queixou-se do pouco
engajamento das Forças Armadas no seu governo.
Foi uma conversa demorada. A certa altura,
Bolsonaro passou a falar mal do Supremo Tribunal Federal que, segundo ele,
cerceava a maioria de suas ações. Estava quase apoplético.
Então teve uma ideia: por que um dos jatos
supersônicos da FAB não dava um voo rasante sobre o prédio do Supremo na Praça
dos Três Poderes? Isso aconteceu uma vez no passado por acidente.
O voo rasante estilhaçaria os vidros do
prédio como da vez anterior. Serviria como aviso aos ministros, e como acidente
novamente seria tratado. O presidente falava sério.
O general discordou da ideia e, alegando
cansaço, marcou para retomar a conversa na segunda-feira, dia 29. Nesse dia,
mal entrou no gabinete de Bolsonaro, ouviu dele que estava demitido.
Em carta onde anunciou sua saída do
governo, Azevedo e Silva escreveu como se fosse uma mensagem cifrada que só
poucos seriam capazes de entender:
“Nesse
período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”.
Braga Neto, também general, sucedeu Azevedo
e Silva. A pedido de Bolsonaro, sua primeira decisão foi demitir os comandantes
do Exército, Marinha e Aeronáutica.
A ideia do voo rasante sobre o prédio do Supremo foi arquivada, mas esquecida não.
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