O Estado de S. Paulo
Lula finalmente entrou na articulação
política, mas Haddad é fundamental
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
confirma a regra de que é melhor começar com expectativa baixa e surpreender
positivamente do que o oposto, chegar lá nas alturas e frustrar na largada. A
escolha de Haddad foi recebida com desconfiança e dúvidas, mas ele vem se firmando
como o principal ministro e não apenas na economia, mas também na política. Que
tal um ministro da Fazenda que é articulador político?
Essa pergunta, aliás, tem sido feita pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, que sugeriu ao presidente Lula mover Haddad da Fazenda para a Articulação Política. Lula deu de ombros e Haddad continuou atacando na Economia e defendendo na política. É assim que o governo deverá ter vitórias importantes nesta semana, inclusive a aprovação do arcabouço fiscal no Senado.
Enquanto Lula se atrapalhava na política
externa, negligenciava da interna e era obrigado a um recuo atrás do outro,
Haddad seguiu firme, forte e discreto, angariando apoios à esquerda e à direita
(talvez mais à direita...), no Congresso, no setor produtivo, no financeiro.
Construiu pontes com o poderoso Arthur Lira e o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, e já foi chamado até mesmo para negociar com o MST. Quanto
aos ataques do PT, ele vai levando.
Ninguém levava muito a sério Haddad na
Fazenda, como homem forte da economia, do governo e virtual ungido por Lula
também para sua própria sucessão. Ele parecia excessivamente “low profile”,
muito técnico, com pouco carisma e até mesmo amigos avaliavam que ele caberia
melhor no Planejamento. Pois ele assumiu e surpreendeu.
Depois de pressões e muxoxos contra a
“articulação política” – leia-se: por ministérios, cargos, emendas e verbas –,
Lula entrou em campo e, antes de embarcar, nesta segunda-feira, para Itália,
Vaticano e França, se encontrou com Arthur Lira na sexta-feira. Teria ainda
reunião com os dois presidentes do Senado no próprio dia da viagem: Rodrigo
Pacheco, de direito, e Davi Alcolumbre, de fato. Mas o encontro foi adiado na
última hora.
São conversas difíceis, depois de Lira
concluir que a moeda de troca não são (só) emendas, mas sim ministérios. Ou
seja: para ampliar o apoio no Congresso, Lula vai ter de arranjar pastas para o
PP de Lira, o Republicanos do governador Tarcísio Gomes de Freitas e até o PL
do próprio Bolsonaro.
Com ou sem esse tripé, com ou sem ceder
ministérios, Lula deverá ter boas vitórias na semana: arcabouço fiscal e
Cristiano Zanin, além do início da CPI do golpe e do julgamento de Bolsonaro no
TSE. No mais, é trazer boas fotos da Europa, com o papa e com o Coldplay,
enquanto Haddad cuida de boas notícias na economia.
Um comentário:
Pois é,até o papa é vermelho,rs.
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