sábado, 11 de novembro de 2023

Cristovam Buarque - Ambições ausentes*

Revista Veja

As falhas da educação brasileira são um fracasso de décadas

Sucessivos governos executaram projetos que fizeram a educação brasileira avançar: Merenda Escolar (1955), Emenda Calmon (1983), Livro Didático (1985), Fundef (1996), PNE-I (2001), Fundeb (2007), Piso Salarial Nacional do Professor (2008), vaga a partir dos 6 anos (2010), PNE-II (2011), vaga a partir dos 4 anos (2013), vaga até os 17 anos (2016), reforma do ensino médio (2017), Base Nacional Comum Curricular (2020). Apesar disso, o Brasil continua entre os países com a pior e mais desigual educação. A ponto de ser necessário um Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2023), o que prova o fracasso de décadas.

Enquanto o mundo e as classes abastadas brasileiras já alfabetizam seus filhos aos 5 anos, ao mesmo tempo que iniciam estudos de idioma estrangeiro, estamos nos vangloriando da simples promessa de alfabetizar aos 8, em português. Não nos propomos a que todos terminem o ensino médio alfabetizados plenamente para a contemporaneidade: falar e escrever bem o idioma português; ser fluente em pelo menos mais um idioma; conhecer os fundamentos da matemática, ciências, geografia, história, artes; debater com competência os temas de economia, política, antropologia, sociologia, filosofia; saber usar as ferramentas digitais; dispor de pelo menos um ofício que permita emprego e renda; adquirir solidariedade com os brasileiros e com a humanidade; respeitar a natureza; querer participar da construção de um mundo melhor e mais belo, com desenvolvimento sustentável; ser capaz de continuar sua educação ao longo da vida; estar apto a disputar vaga em curso superior de qualidade, se desejar.

“Estamos nos vangloriando agora da simples promessa de alfabetizar alunos aos 8 anos de idade”

À falta de ambiciosa meta de educação com a máxima qualidade para todos, soma-se a ausência de uma estrutura com os instrumentos políticos e administrativos necessários para executar os projetos. Não há como promover a educação com qualidade e equidade sem um Sistema Federal Único Público de Educação de Base, mas as escolas dependem da vontade e dos recursos dos municípios, pobres e desiguais entre eles. A adoção dos sistemas municipais pelo governo federal requer estratégia de algumas décadas a um custo dentro das disponibilidades fiscais, no prazo de 20 a 30 anos.

Três características da sociedade dificultam essa estratégia: primeiro, educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; segundo, a igualdade como ela deve ser oferecida não faz parte do caráter nacional; terceiro, o imediatismo impede que os governos a programem para futuro posterior aos seus mandatos.

Nessas condições, o ministro da Educação não tem como se comprometer com estratégia para realizar o propósito ambicioso de colocar a educação de base entre as melhores do mundo, assegurando acesso a todos, independente da renda ou do endereço. Falta-lhe também ousadia para propor a construção de um sistema público nacional único, que permita plena alfabetização para a contemporaneidade a todos os brasileiros. Por tudo isso, sua missão se esgota com a proposta de buscar diálogo com os prefeitos, para um pacto que assegure alfabetização em português até os 8 anos de idade.

*Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867

3 comentários:

EdsonLuiz disse...

■Cristovam escreveu isto e eu copiei do texto dele para colar aqui::
▪▪" educação de máxima qualidade não é um objeto de desejo político nem uma prioridade maior do eleitor brasileiro; ".

O texto inteiro do Cristovam é importante. Mas Cristovam errou nesta fala que eu copiei e colei aqui, mais acima.

■Diferentemente do que escreveu Cristovam, o brasileiro pobre quer educação de qualidade para seu filho, sim. O brasileiro apenas não acredita que vai ter essa educação de qualidade para ele, porque entende que o estrago que educação mal aplicada faz, com ele este mal já está feito e ele não tem base para avançar.

O brasileiro pobre e mal alfabetizado tem uma maior lucidez sobre isto do que eu e Cristovam.

■A minha falta de lucidez eu não enxergo, como é sempre assim quando é com a gente ;
=》Já a do Cristovam eu enxergo:: a de Cristovam é a ambição de ser indicado para a UNESCO.

Esta ambição está fazendo Cristovam tramar até contra os poucos democratas abnegados que temos, como contra o democrata Roberto Freire, para agradar Lula.

EdsonLuiz disse...

■Contra Roberto Freire, Cristovam Buarque tem feito assim::
▪Ou você se cala em relação às delinquências de Lula ou eu vou criar todos os problemas e armar para incompatibilizar você com o seu Partido Cidadania23.

E pior é que Cristovam tem conseguido!

Daniel disse...

O colunista ERRA grosseiramente ao considerar a reforma do ensino médio (2017) e a Base Nacional Comum Curricular (2020) como avanços importantes. Foram RETROCESSOS que trouxeram grandes mudanças prejudiciais e muito poucas melhorias. Ou seja, PIORARAM o que já era RUIM!