O Globo
Apesar do discurso de frente ampla, a
esquerda apresenta uma política bem mais próxima de uma visão partidária
A frase que Lula disse na Etiópia repercutiu
fortemente durante toda a semana. Tão fortemente que não há muito mais o que
falar, exceto extrair algumas lições sobre nossa pátria amada, salve, salve.
Ouvi um repórter anunciar que a reunião do
G20 trataria de três temas: as guerras na Ucrânia e
na Faixa
de Gaza e o embate diplomático entre Brasil e Israel. Meu Deus,
pensei, como podem colocar no mesmo plano duas guerras reais, com gente
morrendo ou sendo mutilada, com uma disputa verbal entre duas chancelarias?
Claro que o G20 não abordou o tema, mas o tom
das reportagens deixa bem claro como superestimamos as situações em que o
Brasil é protagonista.
Duas repercussões políticas também me impressionaram. De um lado, deputados propondo o impeachment de Lula por causa de sua frase. De outro, a declaração de Celso Amorim de que a fala de Lula sacudiu o mundo e potencialmente ajudaria a acabar com a guerra.
Há quem espere consenso a partir de uma
discussão racional na política. Sou dos que acreditam que isso é impossível. A
realidade é um conflito insolúvel entre valores, e só a aceitação da
diversidade nos prepara, ainda assim modestamente, para a vida em comum.
Sinto que o Brasil polarizado está condenado
a duas políticas externas radicais. No período Bolsonaro, havia uma crença de
que o Ocidente estava ameaçado pelo marxismo cultural e de que era preciso
seguir Donald Trump, o salvador dos valores ocidentais. Aquecimento global,
feminismo, o que chamam de ideologia de gênero — tudo isso era arquitetado para
destruir a civilização e desintegrar as famílias patriarcais.
Apesar do discurso de frente ampla, a
esquerda apresenta, por seu lado, uma política bem mais próxima de uma visão
partidária que uma perspectiva nacional. O mundo está dividido entre Sul Global
e Norte rico, e o presidente precisa viajar incessantemente para defender os
pobres.
O curioso é que o caminho do meio é cheio de
saídas que as duas correntes desprezam. O Brasil é signatário de uma Declaração
de Dublin em 2022, precisamente protegendo populações civis de bombardeios. A
declaração é um avanço civilizatório. O país poderia, com base nisso, criticar
tanto Israel quanto a Rússia.
Nesse universo político a que estamos
condenados no Brasil, a Rússia está blindada. Putin é intocável para uma
esquerda que o vê como adversário dos Estados Unidos e ainda encara a Rússia
com a aura de uma revolução que aconteceu no início do século passado e não
deixou vestígios, a não ser as atrocidades de Stálin e o corpo de Lênin no
mausoléu.
Mas Putin é também admirado pela extrema
direita, que o vê como defensor de valores tradicionais, inclusive um
implacável perseguidor do povo gay na Rússia. Enfim, estamos condenados ao
desequilíbrio, passando pano para autoritários como Putin, Viktor Orbán, Nicolás
Maduro e Daniel Ortega.
Não há saída para isso num país polarizado,
apesar dos acenos em tempos eleitorais. Ainda assim, precisamos garantir em
nossa imagem internacional um respeito pelo sofrimento real que a guerra
produz.
A guerra na Faixa de Gaza passa por um
momento especial, a possibilidade de um ataque a Rafah. Mais de 1 milhão de
civis estão concentrados ali. Não têm para onde fugir, pois o espaço que Israel
propõe é muito pequeno para tanta gente.
Mais do que nunca, é preciso uma grande
unidade entre as pessoas que querem a paz. Além de todas as críticas já
repisadas por sua frase, Lula poderia pensar nisso. Ele provocou uma divisão
entre as pessoas que criticam mortes de civis em Gaza, querem não só um
cessar-fogo, mas também defendem a solução de dois Estados.
Precisamos de um consenso, ainda que pontual.
A luta continua e, apesar dos excessos verbais, da batalha de postagens, das
acusações mútuas e de toda essa agitação em redes sociais, a realidade continua
áspera, e a guerra continua matando. Hora de olhar para a frente, direto no
coração de tragédia.
3 comentários:
■■" Neste universo político no Brasil, a Rússia está blindada. Putin é intocável para uma esquerda que o vê como adversário dos Estados Unidos e ainda encara a Rússia com a aura de uma revolução que aconteceu no início do século passado e não deixou vestígios, a não ser as atrocidades de Stálin e o corpo de Lênin no mausoléu.
Mas Putin é também admirado pela extrema direita, que o vê como defensor de valores tradicionais, inclusive um implacável perseguidor do povo gay na Rússia. Enfim, estamos condenados ao desequilíbrio, passando pano para autoritários como Putin, Viktor Orbán, Nicolás Maduro e Daniel Ortega. " ■■
. Fernando Gabeira.
■■■■Enquanto vige a polarização entre dois populistas inimigos da democracias e do liberalismo, que fazem o mundo civilizado, o Brasil vai sendo condenado ao buraco.
■Nos últimos 20 anos o Brasil parou ou RETROCEDEU.
■O Brasil retrocedeu em::
●EDUCAÇÃO (É uma das piores do mundo, embora o Brasil gaste mais com educação que os países bem posicionados:: e o caso mais grave nesta área é a Bahia);
●SEGURANÇA (É o país proporcionalmente com mais homicídios e a violência geral só empata e não perde para os paises mais violentos, incluindo os que estão em guerra:: e o caso maus grave em segurança também é a Bahia);
●ECONOMIA (O Marcus Pestana, em artigo aqui, mostrou que o déficit primário em 2023 foi de 2,1% e, apenas para estabilizar, sem mudar a trajetória da dívida para melhorar os fatores, o Brasil precisaria de superávit de 1,4%. Ou seja:: o Brasil precisa avançar em política fiscal gigantescos 3,5% do PIB. Pobre Roberto Campos, certamente um dos economistas mais bem preparados do mundo e um brasileiro bem sério, em meio a brincalhões, incompetentes e corruptos bem delinquentes, como Lula, Arthur Lira e Bolsonaro e, no entanto, é xingado pelo PT, PCdoB e PSOL);
●POlÍTICA INTERNACIONAL (Deixamos de ser um país que praticava uma política externa equilibrada, consciente, não ideológica e que pelo menos por isso tinha algum peso e respeito do mundo e, com o PT e Jair Bolsonaro, passamos a ser um país de apoio a ditadores e até de terroristas)...
=》Vou para por aqui, mas a 1ª solução para o Brasil, não deve restar dúvida para ninguém saudável e preocupado de verdade com o país, é afastar a soma de delinquentes e malucos que polarizam nossa política.
Existe apenas um lado perigoso.
Existem dois e quem diverge, mente. MAM
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