quarta-feira, 26 de junho de 2024

Bernardo Mello Franco - Assange livre

O Globo

Casa Branca não explica por que libertou ativista agora, após 12 anos de confinamento e prisão

As Ilhas Marianas do Norte foram descobertas em 1521 por um navegador português a serviço do rei da Espanha. Tempos depois, seriam vendidas à Alemanha, tomadas à força pelo Japão e finalmente ocupadas pelos Estados Unidos.

Nesta quarta (noite de terça no Brasil), o pequeno arquipélago do Pacífico foi palco de uma notícia global. O australiano Julian Assange reconquistou a liberdade, depois de 12 anos de prisão e confinamento no Reino Unido.

Assange fundou o WikiLeaks para divulgar documentos secretos de interesse público. Em 2010, o site revelou milhares de papéis sobre a atuação americana no Afeganistão e no Iraque. O vazamento expôs abusos contra civis, comprovou crimes de guerra e desmontou mentiras contadas pelos porta-vozes do Império.

Alçado ao posto de celebridade, o australiano despertou desejos de vingança em Washington. Ameaçado de extradição, passou sete anos refugiado na embaixada do Equador em Londres. Depois foi recolhido a um presídio de segurança máxima, onde amargaria mais cinco anos de isolamento.

O calvário começou a terminar nesta segunda. Assange foi acordado de madrugada, algemado e transportado em sigilo até o aeroporto de Stansted. Lá iniciou a longa viagem até as ilhotas do Pacífico, oficializadas como território americano em 1986.

Em acordo com a Casa Branca, o australiano se apresentou a um tribunal e se declarou culpado numa das 18 acusações por violação de segredos militares. Como já havia cumprido o equivalente à pena de 62 meses, o processo foi encerrado, e ele foi autorizado a voltar para casa.

A libertação encerra a batalha judicial, mas não elucida todos os mistérios que envolvem Assange. O fundador do WikiLeaks continuará a dividir opiniões apaixonadas. Defensores o veem como herói, e detratores tentam reduzi-lo a uma marionete do Kremlin.

Resta entender por que o presidente Joe Biden topou o acordo para soltá-lo agora, às vésperas da eleição americana. Bom tema para um próximo vazamento de documentos secretos.

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é.

Anônimo disse...

Crimes de guerra dos EUA? Por que será que os demais colunistas brasileiros nem comentam sobre isto?? Quantas palavras Magnoli escreveu em defesa de Assange e sua luta pela LIBERDADE DE EXPRESSÃO? Lula se manifestou várias vezes, mas poucos governantes seguiram seu exemplo.