Em conversas gravadas pela PF, o bicheiro diz que é parceiro da Warre Engenharia, uma das maiores fornecedoras do governo de Goiás
Vinicius Sassine
A empresa que mais recebeu dinheiro do governo de Goiás, no primeiro ano da atual gestão de Marconi Perillo (PSDB), tem como sócio o bicheiro Carlinhos Cachoeira, segundo o próprio contraventor, em diálogo telefônico gravado pela Polícia Federal em agosto de 2011. Numa conversa com o araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, também investigado no âmbito da Operação Monte Carlo, Cachoeira diz ser sócio da Warre Engenharia nas obras do Parque Mutirama, em Goiânia, com 30% de participação.
Fraudes na reforma e ampliação do parque são investigadas pela PF desde o ano passado, o que levou o bicheiro a pedir o serviço de arapongagem de Dadá. “Eu sou sócio deles nessa obra. Então eu, senão pinga em mim, entendeu?”, disse Cachoeira. Em 2011, a Warre Engenharia foi a maior fornecedora do governo de Goiás para despesas de investimento. A empreiteira recebeu R$ 13,7 milhões da gestão de Perillo e ocupou o topo da lista dos maiores fornecedores do estado.
Até a posse do tucano, que deve ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em razão do envolvimento com Cachoeira, a Warre Engenharia não havia recebido tanto dinheiro do governo goiano. Em 2010, a empreiteira recebeu R$ 923 mil do estado e ocupou a 55ª posição na lista dos maiores fornecedores do governo. No ano anterior, foram R$ 3,1 milhões em repasses, o que garantiu a 31ª posição na lista. A Delta Construções, cujos diretores mantinham relações de proximidade com o bicheiro e também alvo da CPI instalada no Congresso, ficou como a maior fornecedora do governo goiano para despesas de custeio. Os repasses no primeiro ano da gestão de Perillo somaram R$ 48,5 milhões.
Quando ligou para Dadá, Cachoeira estava preocupado com as investigações da PF sobre a Warre Engenharia e com a divulgação de irregularidades envolvendo as obras da empreiteira no Parque Mutirama, reformado com dinheiro do Ministério do Turismo. Depois de o bicheiro dizer ser sócio no empreendimento, Dadá prometeu ir atrás das informações. Antes dessa conversa com o chefe da organização criminosa, o araponga já havia tentado obter dados da investigação envolvendo a Warre Engenharia. Os nomes dos sócios — Paulo Daher e Ricardo Daher — foram fornecidos por Cláudio Abreu, então diretor da Delta no Centro-Oeste. “Pode deixar que eu vou falar com o companheiro lá da CGU e um colega de lá do órgão que ele vai se interessar por isso aqui”, responde Dadá.
Prisão
Uma operação da PF em fevereiro deste ano, poucos dias antes da deflagração da Operação Monte Carlo, resultou na prisão de cinco pessoas, suspeitas de um desvio de R$ 2 milhões dos R$ 9,6 milhões usados na reforma do Parque Mutirama. Dois engenheiros da Warre Engenharia estavam entre os detidos, além de funcionários da Prefeitura de Goiânia, que contratou a empreiteira. O custo das obras do parque supera R$ 80 milhões, dos quais R$ 55 milhões são referentes a um convênio firmado entre o prefeito Paulo Garcia (PT) e o Ministério do Turismo.
A assessoria de imprensa de Perillo respondeu ao Correio que o governador desconhece relações de sociedade da Warre Engenharia com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. “Não existe contrato da Warre, no governo de Goiás, em sociedade com Carlos Cachoeira. No caso das licitações realizadas pela atual administração, não se permitem sociedades ou consórcios entre empresas.”
A gestão de Perillo firmou três contratos com a Warre Engenharia, referentes a obras rodoviárias e de conclusão do Centro Cultural Oscar Niemeyer. A empreiteira fez uma doação de R$ 500 mil à campanha do então vice de Perillo, Alcides Rodrigues (PP), em 2006. Rodrigues venceu a eleição e, depois, rompeu com o tucano. O Correio ligou para os sócios da Warre Engenharia e deixou recados, mas eles não deram retorno até o fechamento desta edição.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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