O
inimigo interno, que se beneficia da sociedade livre e plural, está à espreita
O Capitólio foi
invadido por americanos tomados de furor fanático, o que mostra
o estrago causado pelos inimigos internos das democracias, subjugadas em seus
próprios territórios por extremismos ideológicos que se tocam e se correspondem
na presunção de verdade e na intolerância que vê na sua visão de mundo a única
digna de ser defendida, esquecendo-se que a virtude das democracias liberais é
o triunfo do pluralismo de ideias e da busca do consenso por argumentação; não
por violência ou intimidação.
A aventura autoritária insuflada por Trump não se deveu ao fato de ser ele um político de direita. À direita ou à esquerda, os governantes, quando imbuídos de algum zelo democrático, permitem a alternância de poder sem sabotá-la com narrativas fantasiosas que incitam ódio e revolta. A atitude de Trump deveu-se, antes, a uma loucura ambidestra: o desvario do poder. Tomado por essa loucura, o líder populista constrói narrativas conspiratórias e, sustentado pela massa, vai com ela até onde der.
Após
conclamar seus apoiadores para o protesto e incitá-los a avançar sobre o
Capitólio —instrumento e símbolo da democracia americana—, o presidente os
abandonou e atacou covardemente, declarando que não representavam o país. Essa
é uma lição que deveria ficar para todos os tipos de fanáticos: seus chefes
idolatrados não hesitam em sacrificá-los.
Os
EUA vencerão a insanidade
populista, pois a história tem demonstrado o vigor de suas
instituições. Aquele inimigo interno, porém, que se beneficia da sociedade
livre e plural enquanto constrói narrativas para derrotá-la, está à espreita. O
futuro do mundo livre dependerá cada vez mais de um entendimento na diversidade
—E Pluribus Unum—, de uma política de dissolução de conflitos capaz de
congregar as forças mais diversas no intuito de construir uma sociedade mais
justa.
O que se entende por isso não é consensual, mas é algo que possui pontos comuns entre os dotados de boa-fé e boa vontade.
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