A
ordem é produzir fumaça para esconder o que acontece
A
cada dia, aumenta a agonia do presidente Jair Bolsonaro e do seu governo com a
retomada do avanço da pandemia do coronavírus. O próprio ministro da Saúde, o
general Eduardo Pazuello, admitiu que ainda não se trata de uma segunda onda do
mal, mas da primeira que ainda não quebrou de todo.
O
Brasil é o terceiro país com o maior número de casos, atrás apenas de Estados
Unidos e Índia. E o segundo em número de mortes, atrás apenas dos Estados
Unidos. Foram 483 nas últimas 24 horas, de um total de 203.140, com pouco mais
de 8 milhões e 100 mil infectados.
O
vírus pisou no acelerador duas semanas após o início das festas de fim de ano.
A tendência é que os números cresçam ainda. É por isso que os nervos do
presidente e dos que o cercam estão à flor da pele. E, à falta de vacina, a
ordem é produzir fumaça para desviar a atenção sobre o que acontece.
Recentemente,
Bolsonaro disse a um grupo de devotos à entrada do Palácio da Alvorada que o
Brasil está quebrado e que ele não pode fazer nada. Significa então: o país
quebrou no colo dele. Porque antes não estava quebrado. No Congresso, ninguém o
impediu de governar. Tampouco na justiça.
O que ele fez em dois anos? Nada, além de armar as pessoas como sempre defendeu, entregar a Amazônia aos cuidados dos desmatadores, a Educação a uma penca de ministros ineptos, a Cultura a quem tem horror a ela, e pôs nas Relações Exteriores um capacho, orientando-o a se curvar aos Estados Unidos.
Não
fez reforma alguma – herdou de Michel Temer a da Previdência, mas não se
envolveu com ela. As privatizações de empresas estatais prometidas? Nenhuma. O
auxílio emergencial de 600 reais foi invenção do Congresso. Se Bolsonaro
tivesse sido atendido, o auxílio chegaria, no máximo, aos 300 reais.
Atravessou
a pandemia desdenhando dela e exaltando os efeitos milagrosos de drogas
comprovadamente ineficazes. A aposta inicial em uma única vacina foi mais um
grave erro. Para completar, seu terceiro ministro da Saúde em menos de um ano
sequer conhecia o SUS antes de assumir o cargo.
Sabe
que deverá substituí-lo em algum momento – mas qual? Antes, durante ou só
depois da vacinação? Mas seu governo se aguenta de pé se a vacinação em massa
fracassar ou demorar em excesso? Se não bastasse, sua referência no mundo está
de saída do poder – e que maneira encontrou para sair…
Donald
Trump cederá a cadeira a quem Bolsonaro publicamente desejou que fosse
derrotado. O presidente do Brasil foi um dos últimos chefes de Estado, se não o
último, a cumprimentar Joe Biden pela vitória. E o único a dar razão aos
invasores do Congresso americano chamados por Biden de “terroristas”.
Convenhamos:
para quem reconheceu não ter nascido para ser presidente, nunca teve um projeto
para o país, não gosta de pegar no pesado e valoriza tão pouco a vida alheia,
tudo isso é, e com razão, um grande tormento. Só não faz sentido ele querer se
reeleger. Pode ser um sacrifício a mais que fará pelos filhos.
É bom que se frise: o Brasil não está quebrado, Bolsonaro é que não tem conserto. De todo modo, vida longa a ele para que colha o que plantou.
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