quinta-feira, 18 de julho de 2024

Vinicius Torres Freire - Algumas boas notícias, para variar

Folha de S. Paulo

Há mais ânimo no mercado de capitais e de crédito; comércio, serviços e emprego avançam

Jamais as empresas haviam tomado tanto dinheiro no mercado de capitais. Pelo menos no mercado de renda fixa, o volume é recorde, em termos reais, nos últimos doze meses, até junho. Trata-se aqui de crédito por meio da venda de debêntures e outros títulos de dívida. O dinheiro é usado em capital de giro, investimento na expansão do negócio, melhora do endividamento etc.

É um dos sinais de ânimo na economia, apesar do azar da virada financeira nos EUA, da bagunça sobre metas fiscais e da catástrofe no Rio do Grande do Sul. Pelo menos no que diz respeito ao andamento geral da economia, o efeito do desastre horrível que se abateu sobre os gaúchos parece ter sido menor do que o esperado.

Os números do mercado de capitais estão no balanço divulgado nesta quarta-feira (17) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Esse mercado se recuperou do desastre do início do ano passado, causado pela revelação dos crimes na Americanas, além de outros problemas em empresas, e por causa da taxa de juros ainda mais alta do que a de agora.

No que diz respeito a novas ofertas de vendas de novas ações ("IPOs"), o mercado continua em ponto morto.

Ainda assim e apesar do incessante tumulto brasileiro, parece que empresas e potenciais credores estão um pouco mais propensos a correr risco, melhora que é notável no mercado de renda fixa desde março. Também no crédito bancário se percebe recuperação.

O total de concessões (novos empréstimos) cresceu 4,1% nos últimos 12 meses, até maio (em comparação com igual período do ano passado, em termos reais). No caso de empresas (pessoas jurídicas) a alta foi menor, de 1,9% em doze meses. Mas o total de concessões anuais estava no vermelho até fevereiro.

O total de crédito em relação ao PIB estimado mensalmente pelo Banco Central estava em 53,7% em maio. Quer dizer, mais ou menos na mesma dos últimos meses, é verdade, mas maior do que em maio do ano passado.

Quanto à atividade econômica, o faturamento de comércio e serviços cresceu bem mais do que o esperado em maio. Pode bem ser que o PIB cresça ao menos 2,5% neste 2024. A julgar pelos dados disponíveis até agora, é possível que os bons números do emprego e dos salários sustentem o consumo, apoiado um tanto mais pela melhora do crédito bancário.

Dadas as limitações crônicas do crescimento brasileiro, as perspectivas são razoáveis —no curto prazo.

Um risco difícil de estimar é o de tumulto internacional, como aqueles que podem surgir nos voláteis Estados Unidos, com sua biruta nos juros e na política —há mais chance de que Donald Trump venha aí.
Há uma incógnita a respeito de quanto vai durar o bom momento do mercado de trabalho (que já vem de longe e ainda parece mal compreendido pelos economistas, que de resto não o previram).

Há uma suspeita forte: parte desse ritmo melhor do PIB dependeu do aumento forte do gasto público, que está chegando a um limite, de um modo ou de outro (ou a despesa é contida, pelo menos dentro dos tetos metas do arcabouço fiscal, ou as taxas de juros permanecerão altas).

Há uma certeza: a continuação de um ambiente mais animado depende de uma queda considerável das taxas de juros, o que ainda não está no horizonte, e também do preço do dólar —nesse nível em que anda, vai pressionar a inflação.

O alívio nas condições financeiras, por sua vez, depende das medidas concretas que o governo federal vai divulgar a partir da semana que vem: como vai limitar o estouro do gasto deste ano e como será o Orçamento de 2025. Tapar o sol com a peneira de medidas fiscais fracas vai jogar areia no motor ainda pequeno da economia dita real.

 

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