sábado, 6 de outubro de 2012

"Dor me impede de falar", diz ministro sobre o mensalão


O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) deu o tom, ontem, do clima entre os petistas históricos em relação ao julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "A dor me impede de falar, neste momento, dessa questão", disse Carvalho, que atuou no seleto grupo, coordenado por Dirceu, que trabalhou para levar Lula ao poder em 2002

"A dor me impede de falar", diz ministro sobre Dirceu

Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, evita comentar votos no Supremo pela condenação do ex-chefe da Casa Civil no governo Lula

Foi numa tentativa de se esqui­var de jornalistas que o minis­tro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, deu o tom do clima entre os pe-tistas históricos em relação ao julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo Su­premo Tribunal Federal (STF). "A dor me impede de fa­lar, neste momento, dessa questão", disse Carvalho, que atuou no seleto grupo coorde­nado por Dirceu que traba­lhou para levar Lula ao poder.

A rápida conversa de Carvalho com jornalistas ocorreu na aber­tura de uma exposição, no segun­do andar do Planalto, de seis qua­dros do italiano Michelangelo Caravaggio (1571-1610), mestre das expressões fortes, que explo­rava o escuro em suas obras.

Nas últimas semanas, os petistas influentes do governo evita­ram dar declarações sobre o jul­gamento do mensalão. As razões são várias, observam interlocuto­res do Planalto. A razão política é que o drama do partido não po­de atravessar a Praça dos Três Poderes - de um lado fica o STF e do outro, o Planalto. A razão par­tidária é que o mensalão não de­ve pautar as campanhas munici­pais do partido, como a oposição tenta emplacar. Há ainda a "ra­zão" dos advogados dos réus, preocupados com frases de efei­to que podem soar com tom de intromissão de poderes.

Durante os oito anos de gover­no Lula, o ex-seminarista Gilber­to Carvalho, o "padre""do grupo de petistas históricos, sempre foi visto como a segunda voz do presidente, que sempre transmi­tiu com fidelidade pensamentos e frases do amigo. Mas, o jeito afável e cordial sempre represen­tou mais um contraponto num partido acostumado a líderes ex­plosivos e temperamentais.

Agora, no julgamento do "ex- homem forte" do PT e do gover­no Lula, o "padre" é quem me­lhor pode expressar o que a maio­ria sente, diz outra pessoa próxi­ma de Lula. As eternas e sempre lembradas divergências de grupos, a obsessão demonstrada no passado por Dirceu em suceder Lula no governo e as contradi­ções de um líder que ao deixar o palácio após duas crises políti­cas (caso Waldomiro Diniz e mensalão) virou um homem de boas relações e bons negócios perderam sentido, observa um assessor influente do governo.

Para esse assessor, o fato con­creto é a condição de réu de um quadro forte de um partido hoje sem brilho, seja no Congresso, seja na direção da legenda e na organização da militância.

O que perturba os petistas his­tóricos não é a situação do "ex- poderoso" chefe da Casa Civil, do "capitão da equipe de Lula", do homem que, em 1° de janeiro de 2003, fez questão de subir a rampa do Planalto logo atrás do presidente eleito e do vice eleito, José Alencar.

Assessores observam que José Dirceu está para ser condenado por ministros da Corte compos­ta, em sua maioria, por pessoas escolhidas por Lula e Dilma.

Nas conversas informais, pe­tistas históricos gostam de res­saltar que é o PT que está no ban­co dos réus. E não demonstram ódio nas críticas que fazem ao STF. O drama de José Dirceu ma­chuca os históricos, mas é tam­bém motivo de conversas, como afirma um deles, para esquecer um drama que ninguém disfarça que parece doer ainda mais - a condenação do companheiro José Genoino, ex-deputado e ex- presidente da legenda.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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