Revista Será? (PE)
Com a autoridade que lhe confere o sistema de partido único, de jornal único, e de pensamento único, Cuba “condena energicamente o golpe de Estado parlamentar que está em marcha no Brasil e apoia resolutamente o povo e o legítimo governo” do Brasil, segundo nota publicada no jormal oficial Granma. Com a respeitabilidade de um Estado falido pelo populismo que sapateia nas regras democráticas e joga seus cidadãos na desgraça econômica, o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, solicitou o retorno a Caracas do embaixador venezuelano como reação ao que chamou de “golpe de Estado parlamentar” e de “canalhada”, bem no estilo grosseiro do desastrado populista bolivariano, esta invenção ridícula do seu guia espiritual Hugo Chavez. Três outros países da América Latina – Bolívia, Equador e Nicarágua – e as inóquas União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América/Tratado de Cooperação dos Povos (ALBA/TCP), se juntaram à agressão diplomática.
O comunicado da chancelaria cubana é uma peça de delírio político e conspiratório que remonta aos anos 50 do século passado. “Este golpe contra a democracia brasileira, afirma Cuba, é parte da contraofensiva reacionária da oligarquia e do imperialismo contra a integração latino-americana e os processos progressistas da região”. Cuba, um dos últimos resquícios da guerra fria (à qual teima em se associar a deteriorada Venezuela), apesar da aproximação recente com o governo “imperialista” dos Estados Unidos, continua pensando e agindo com a cabeça no século passado. E Maduro, seguindo os sussuros do fantasma de Chavez, disse que o processo judicial que visa ao impedimento de Dilma “faz parte da ofensiva imperialista para acabar com os governos populares e implementar outra vez seu modelo neoliberal repressivo”. Brincadeira ou golpe na diplomacia?
O Itamaraty, com a sua competência diplomática agora despoluida da antiguada ideologia populista e terceiromundista, refutou enfaticamente as maniifestações dos governos e organizações de países com falsas interprestações e desrespeito à soberania nacional. “Como qualquer observador isento, pode constatar – afirma a nota – o processo de impedimento é previsão constitucional; o rito estabelecido na Constituição e na Lei foi seguido rigorosamente, com aval e determinação do STF; e o Vice-Presidente assumiu a presidência por determinação da Constituição Federal, nos termos por ela fixados”, diz um dos comunicados.
Embora jogando com mentiras e manipulações, é compreensível que o PT continue inventando e propagando esta farsa de golpe mesmo que o processo tenha seguido todas as etapas e regras constitucionais, referendada pelo STF-Supremo Tribunal Federal formado de membros insuspeitos (quase todos nomeados pelos governos petistas). Como um partido político eivado de rancor ideológico, é permitido este devaneio que tem enganado milhões de brasileiros. Mas é absolutamente inaceitável que um Estado (principalmente Estados sem nenhuma credibilidade democrática), assuma posições agressivas, mentirosas e desrespeitosas, ignorando fatos e distorcendo a realidade, agredindo regras mínimas de civilidade diplomática.
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Sérgio C. Buarque é economista
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