Bruno Villas Bôas e Lígia Guimarães | Valor Econômico
RIO e SÃO PAULO - Depois de uma década em queda, a pobreza voltou a crescer no Brasil graças à longa e profunda recessão ocorrida entre 2014 e 2016. De acordo com levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), mais de nove milhões de brasileiros caíram, em 2015, abaixo da linha de pobreza (US$ 5,50 per capita por dia ou R$ 387,07 mensais), em decorrência da deterioração do emprego e da renda.
Do total, 5,4 milhões estão no critério do Banco Mundial para extrema pobreza, isto é, vivem hoje com menos de US$ 1,90 por dia ou R$ 133,72 por mês. As informações, obtidas com exclusividade pelo Valor, se baseiam em dados da "Síntese de Indicadores Sociais", documento elaborado pelo IBGE a partir da série histórica disponível da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Na sexta-feira, o IBGE revelou que 52,2 milhões de pessoas viviam abaixo da linha de pobreza em 2016, o equivalente a 25,4% da população. No caso da pobreza extrema, eram 13,35 milhões de pessoas, 6,5% da população. O Iets cruzou linhas de cortes e criou uma série histórica para comparar com outros períodos.
Segundo Samuel Franco, pesquisador do Iets, de 2004 a 2014, o Brasil retirou quase 40 milhões de pessoas da pobreza. Mesmo a crise mundial de 2008, que provocou pequena e rápida recessão no país, não foi capaz de interromper o processo de redução da pobreza. "O retrocesso ocorre de 2014 para 2015. É quando a crise [brasileira] começa a afetar a renda, provocar desemprego e gerar informalidade. Os empregos perdidos na construção civil, por exemplo, afetaram muitos trabalhadores", disse o pesquisador.
Francisco Ferreira, economista do Banco Mundial, chegou a conclusões parecidas. De acordo com ele, a parcela da população em situação de extrema pobreza cresceu de 4,1% em 2014 para 6,5% em 2016. Em entrevista ao Valor, José Graziano, diretor-geral da FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura, disse que mais de sete milhões de brasileiros, mesmo vivendo em situação de extrema pobreza, não recebem nenhum tipo de assistência social. O país, advertiu, pode voltar a integrar o Mapa da Fome mundial, que a FAO divulga desde 1990.
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