O Estado de S. Paulo
Tarcísio condecora coronel que ofendeu Moraes, Barroso, Fachin, Fux e o senador Pacheco
O Diário Oficial de 21 de junho registrou
um ato do governador Tarcísio de Freitas de dar inveja ao seu padrinho, o
ex-presidente Jair Bolsonaro: o decreto de concessão da medalha Valor Militar,
no grau ouro, ao coronel Aleksander Lacerda. O oficial é hoje subchefe do
Estado-Maior da PM. Foi retirado do ostracismo em que estava desde 23 de agosto
de 2021, afastado após publicar 148 críticas e ofensas a ministros do STF e do
TSE.
Em 5 de agosto daquele ano, ele escreveu em sua conta no Facebook: “Sinto nojo do STF”. O agraciado por Tarcísio publicou em 20 de agosto foto do ministro Alexandre de Moraes retratado com bigode do ditador Adolf Hitler. No dia 18, o inconformismo com a atuação do ministro Edson Fachin o levou a compartilhar a frase: “Fora Fachin”.
Outro alvo do policial foi o ministro Luís
Roberto Barroso, retratado em um post como agente da KGB. O ministro Luiz Fux
foi chamado de “vergonha”. O coronel não se limitava a achincalhar magistrados.
Ele também atacou o presidente do Senado, o senador Rodrigo Pacheco. “Covarde!
Honre seu Estado, que nos deu Tiradentes, JK, Tancredo e tantos outros.”
Nada disso impediu a concessão da medalha.
Tarcísio parece ter gosto por homenagens deste tipo. Não viu nada de errado em
nomear uma estrada com o nome do coronel Erasmo Dias, que confessou ao Estadão
ter fraudado investigações de homicídio e acobertado policiais assassinos
durante o regime militar.
Pode-se alegar que o governador nada sabia
sobre o novo cargo do coronel, que esse é um problema da PM. Pode-se também
concordar ou não com o ensinamento do general Gustavo Moraes Rego: “O
comandante é responsável por tudo o que é feito ou deixa de ser feito em sua
unidade”. Mas e a condecoração? A assinatura de Tarcísio está no decreto que a
concedeu ao oficial em “reconhecimento aos bons e leais serviços prestados ao
Estado de São Paulo”.
Lacerda, um coronel da ativa,
identificava-se com Bolsonaro. Dizia que ia comparecer ao comício do capitão,
em 7 de setembro de 2021 na Avenida Paulista. E ofendeu o então governador João
Doria. No Palácio dos Bandeirantes, alguém pode pensar: “Ah, o coronel nos
apoiou, então, tudo bem”.
Para quem assim pensa, fica a lição do
patrono da Cavalaria, Manuel Luís Osório. Instado a assinar um manifesto a
favor do governo provincial, o marechal se negou: “Não assinei esse papel,
porque o Exército que tivesse o direito de aprovar as qualidades do seu
governo, o teria também para as reprovar”. Bolsonaro ensinou que é possível
governar com pouco apreço ao Supremo e aos valores militares. Mas todos sabem agora
como isso costuma acabar.
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