Recebi com espanto e consternação as notícias vindas da Noruega. Um militante de extrema-direita, Anders Behring Breivik, de 32 anos, assumiu a autoria do atentado contra o escritório do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, do Partido Trabalhista, de tendência social-democrata, bem como o massacre de adolescentes no acampamento de férias da juventude trabalhista. Ao todo, segundo a polícia, foram 76 mortos.
O extremista, que se auto-intitula cristão radical e nacionalista, justifica sua ação como defesa da Europa contra o islamismo e o marxismo, isto é, as ideias socialistas.
É possível que aquela seja uma ação isolada de uma pessoa mentalmente perturbada. Mas o episódio está longe de ser um fato isolado. O substrato ideológico da ação há tempos se dissemina pelo velho continente. É a pregação do ódio racial, religioso e xenófobo dos muitos partidos de extrema-direita que crescem pela Europa, inclusive do Partido Popular, da Noruega, do qual o assassino foi militante.
Tal pregação contra os imigrantes, negros, árabes, latino-americanos, asiáticos, encontra receptividade junto a setores menos esclarecidos da população, assustados com a crise econômica, o rebaixamento do seu nível de vida, o desemprego e a falta de horizontes. Em vez dos judeus, a intolerância se volta agora contra os muçulmanos.
E nos Estados Unidos, cresce a pregação reacionária da ala de extrema-direita do Partido Republicano, o “Tea Party”, que vem criando obstáculos à administração do democrata Barack Obama.
A crise econômica nos EUA e na Europa
Em 2008, li mensagens de amigos esquerdistas alegres com a crise das hipotecas dos Estados Unidos. Segundo eles, enfim, o capitalismo vivia sua crise terminal. Lembrei-me dos tempos de militante do Partidão, nos anos 1980, quando os velhos e experimentados dirigentes rejeitavam a tese do “quanto pior, melhor”, muito comum, à época, a determinados grupos de esquerda.
Alertavam que, na crise de 1929, não foram as correntes socialistas que se beneficiaram das dificuldades econômicas e sociais, mas exatamente o seu extremo oposto, a extrema-direita. O exemplo era a Alemanha de Weimar, de 1918 a 1933, com mais de seis milhões de trabalhadores alemães jogados no desemprego, quando o Partido Social-democrata, o Partido Social-democrata Independente e o Partido Comunista foram incapazes de chegar a um acordo. O resultado trágico da divisão foi abrir espaço para a vitória da extrema-direita, do Partido Nazista, de Adolf Hitler.
Ainda que cada vez mais minoritárias, há ainda certas esquerdas que acreditam em construir um possível socialismo a partir dos escombros do capitalismo, que se auto-destruiria a partir de suas próprias contradições internas.
É curioso que já no século XIX, em 1890, um marxista alemão, Eduard Bernstein, em seu livro “Os pressupostos do socialismo e as tarefas da social-democracia”, rejeitava tal visão apocalíptica do ortodoxia socialista. Para ele, o socialismo seria não uma negação pura e simples do capitalismo, mas a sua superação, com a democratização de suas estruturas pela ação dos cidadãos, dos partidos e dos movimentos sociais. Tal superação não seria um determinismo histórico, mas uma opção ética e moral da sociedade.
Não sou cientista social, mas vejo como ingênua a visão daqueles que veem a atual como uma crise final do capitalismo. Avalio que aquele sistema ainda tem muito a se expandir pela Ásia, pela China, pela América Latina e pela África.
Volta à regulamentação social
Há pelos menos 300 anos, o mundo ocidental se bate internamente. De um lado, sua face sombria, das Cruzadas, da Inquisição, do absolutismo, do obscurantismo religioso, do fascismo, do nazismo e das ditaduras. De outro, seu lado esclarecido, do Iluminismo, da razão, do humanismo, dos ideais da democracia e da igualdade social.
Creio eu que o que está posto pela realidade é a necessária regulamentação do capitalismo em termos internacionais. É o que defende o historiador britânico Tony Judt, morto o ano passado, em seu livro “O mal ronda a terra”, ante à voracidade do sistema financeiro, desregulado nos anos 1980-1990, e reponsável pela atual crise mundial.
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