segunda-feira, 25 de junho de 2012

Perda de espaço revolta PT na Câmara

O grupo majoritário da bancada do PT na Câmara dos Deputados quer assumir o comando do partido nas eleições internas de 2013 com o objetivo pressionar o Palácio do Planalto a ampliar a participação do partido nos espaços e nas decisões do governo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um de seus principais alvos. Havia a expectativa de que a saída de Ricardo Flores levasse a Previ de volta à esfera de influência petista, o que não ocorreu. Credita-se a essa insatisfação, por exemplo, as recentes denúncias contra o BNB. O ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, vê crescer sua cotação como o ministro capaz de destravar o governo, que esse grupo considera paralisado.

Fazenda alija sindicalistas e desagrada grupo majoritário do PT na Câmara

Caio Junqueira e Daniela Martins

BRASÍLIA - O grupo majoritário da bancada do PT na Câmara dos Deputados quer assumir o comando do partido nas eleições internas de 2013 com o objetivo pressionar o Palácio do Planalto a ampliar a participação dos partidos nas decisões do governo. Nesse sentido, as eleições municipais de outubro e, mais do que isso, a disputa pela presidência da Casa em fevereiro são considerados passos importantes para que esses parlamentares se firmem como uma relevante força política.

A principal característica desse grupo é a transversalidade das correntes internas petistas que aglutina. Há nele setores da majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), do presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e do ex-presidente da legenda, Ricardo Berzoini (SP); a PT de Lutas e de Massas, do líder da bancada, Jilmar Tatto (SP); o Movimento PT, do líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP); e a Mensagem ao Partido, do vice-presidente da CPI do Cachoeira, Paulo Teixeira (SP).

Juntos, desbancaram a hegemonia de outra ala da CNB na Câmara que vigorou na maior parte do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Iniciada a era Dilma Rousseff, foram importantes no processo de imposição da cara do novo governo no Legislativo. O maior exemplo disso foram as derrotas de Cândido Vaccarezza (SP) no embate interno para presidir a Casa e, depois, quando foi preterido por Ideli Salvatti para a Secretaria das Relações Institucionais.

No entanto, o desinteresse de Dilma pela política e o alijamento não só do PT, mas da base em geral, do processo de tomada de decisões do governo e dos próprios espaços do Executivo no segundo e terceiro escalões fez com que esse grupo passasse a ser o receptor das críticas ao estilo da presidente, tão diverso do seu antecessor. A partir daí, foi um passo para passar a concordar com a maior parte dessas críticas. Hoje, a avaliação geral é de que o governo está parado e sua vitrine, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não anda porque as decisões, centralizadas, demoram a sair.

A insatisfação aumentou, contudo, depois que interesses petistas passaram a ser diretamente atingidos. O caso mais vistoso é o do Banco do Brasil, que acabou levando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a ser alvo preferencial, nos bastidores, dessa parte do PT. Com o aval de Dilma, ele intensificou a exclusão dos indicados de petistas históricos ligados ao sindicalismo bancário, como Berzoini; o tesoureiro do PT, João Vaccari; e o ex-secretário de Comunicação, Luiz Gushiken.

O grupo se uniu para protestar. A ira foi tamanha que Marco Maia chegou a abandonar sessão da Câmara em que seria votado o projeto que cria a previdência complementar do servidor público federal, prioritário para o Palácio do Planalto. Maia, porém, refuta essa acusação.

Semanas depois, a disputa no BB tomou proporções tamanhas que o Palácio decidiu substituir dois integrantes da cúpula do banco, o vice-presidente de governo do BB, Ricardo Oliveira, que vinha atuando, segundo petistas, contra o partido; e Ricardo Flores, então presidente da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), mais ligado ao PT. Havia a expectativa de que, com isso, houvesse uma repactuação de forças e retorno da influência partidária no banco. Só que não foi o que ocorreu.

Hoje, já estão em elaboração dossiês contra Mantega e seus indicados no BB. Fala-se até em uma "CPI do Banco do Brasil" para fragilizar, além dele, o presidente do banco, Aldemir Bendine. A artilharia aponta ainda para outras áreas de influência de Mantega, como o Banco do Nordeste (BNB). As denúncias contra o ex-presidente Jurandir Santiago, exonerado na semana passada após ser flagrado utilizando recursos do banco para benefício próprio, integram esse arsenal. Jurandir era indicado de Cid Gomes (PSB) e do vice-líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), adversário desse grupo petista. Mas foi avalizado por Mantega. Setores do PT asseguram que o ministro da Fazenda sabia das irregularidades de Santiago, mas nada fez para saná-las.

Desse modo, sob o argumento da inapetência técnica para gerir os tempos incertos que se vislumbram na economia, setores do PT só esperam a oportunidade para ajudar na queda de Mantega. Citam até um possível sucessor: o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, petista ligado à burocracia interna da legenda.

No entanto, como não há qualquer sinal de que Dilma irá tão cedo atender a essa ala do PT e derrubar Mantega, o grupo estrutura um fortalecimento político para se cacifar ante suas reivindicações. Para as eleições de outubro, a meta é ocupar espaço com as poucas candidaturas já oriundas desse movimento. No Rio Grande do Sul, Marco Maia foi além e formou um grupo novo do PT, batizado de "Socialismo 21", que tem no deputado estadual Adão Villaverde, oriundo da CNB, seu candidato a prefeito de Porto Alegre. Em Belo Horizonte, o vice na chapa de Márcio Lacerda (PSB), deputado federal Miguel Corrêa (PT), também é ligado a esse grupo -e, não ocasionalmente, a Fernando Pimentel. No Recife, o secretário de governo de Pernambuco, Maurício Rands, ligado à Mensagem ao Partido, é outro em contato constante, assim como o governador da Bahia, Jaques Wagner.

Passada essa eleição, o grupo vai se voltar para a sucessão de Marco Maia. A expectativa é eleger algum deles, como Chinaglia, e colocar outro do grupo, como Tatto, na liderança do governo. Os argumentos para o rompimento do acordo com o PMDB de Henrique Eduardo Alves (RN) já estão elencados. Para ficar em alguns deles: é preciso verificar a "viabilidade" da candidatura; o acordo não envolve todos os partidos; o acordo é que PMDB e PT marcharão juntos, não necessariamente com uma candidatura pemedebista. Entretanto, o documento assinado em dezembro de 2010 pelos então presidentes das siglas, Michel Temer, pelo PMDB, e José Eduardo Dutra, pelo PT, é claro: petistas apoiarão um pemedebista no segundo biênio do governo Dilma.

A conquista definitiva seria substituir Rui Falcão na presidência do PT e fazer valer no governo os interesses contrariados. O próprio Marco Maia está disposto a cumprir esse papel. Só que há a percepção de que, sem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu principal operador político, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, todo esse projeto cai por terra.

E aí é preciso estender o calendário político até 2014. A economia estará bem o suficiente para suportar a reeleição de Dilma, diante de um cenário partidário hostil a ela, tanto no PT quanto em seus aliados? Lula poderá utilizar esse movimento interno de modo a pavimentar seu retorno? Afinal, segundo um desses petistas diz: "Não há o PT de Dilma e o PT de Lula. Só há o PT de Lula".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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