quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Nau paulistana - Tereza Cruvinel

"Para não falar do passado mais remoto, quando um governador alardeava o "rouba, mas faz", nos tempos mais recentes a cidade mais rica e cosmopolita do Brasil fez escolhas eleitorais desconcertantes"

A cidade de São Paulo, que nos deu Adoniram Barbosa, entre outros sambistas, nunca mereceu o epíteto de "túmulo do samba". Mas merece, e como, ser chamada de vitrine da irracionalidade política ou das escolhas insensatas. São Paulo é pródiga em zebras eleitorais. Para não falar do passado mais remoto, quando um governador alardeava o "rouba, mas faz", nos tempos mais recentes a cidade mais rica e cosmopolita do Brasil fez escolhas eleitorais desconcertantes. No alvorecer democrático de 1985, ressuscitou Jânio Quadros e derrotou Fernando Henrique na disputa pela prefeitura. Elegeu Paulo Maluf e permitiu que este tirasse um sucessor estranho à política, Celso Pitta, do bolso de seu colete. Agora, Celso Russomanno, do pequeno PRB, está na liderança isolada da disputa pela prefeitura, deixando para trás os candidatos do PSDB e do PT, José Serra e Fernando Haddad, que vivem uma situação de empate técnico. Embora esteja na política há alguns anos, Russomanno também é um "outsider" no sistema, e alvo de denúncias que, até agora, não barraram sua ascensão. Aparentemente, o eleitorado está dizendo que se cansou de José Serra e não embarcou na proposta de renovação lançada pelo PT, na pessoa do ex-ministro Haddad.

"Se Russomanno fosse um político sério, já estaria eleito, mas não creio que ele resista até o fim", diz o deputado tucano — ligado a Serra — Jutahy Magalhães. Ele informa que, segundo o tracking diário do partido, Serra parou de cair no sábado, devendo agora começar a recuperar-se. Mas, por ora, segundo as últimas pesquisas, quem está subindo, além de Russomanno, é Haddad.

Como nem os institutos podem dizer hoje qual é o teto de Russomanno, caso ele não seja alvejado por alguma denúncia de alta detonação nas próximas semanas e, pelo menos, mantenha seus índices atuais, disputará o segundo turno com Serra (em caso de recuperação) ou com Haddad (em caso de aceleração do crescimento). Se um tal quadro se configurar, deixará na saia justa o partido que chegar em terceiro lugar, seja o PT ou o PSDB. Em 1998, o PT apoiou Mário Covas contra Maluf na disputa pelo governo do estado. Em 2000, o PSDB, sob a liderança de Covas, apoiou a petista Marta Suplicy contra Maluf na disputa da prefeitura. Mas hoje, definitivamente, não há clima para a repetição dessas alianças táticas. Embora não seja fácil imaginar o PSDB ou o PT apoiando Russomanno num eventual segundo turno.

Dois juízes, dois juízos. O ministro-relator Joaquim Barbosa nunca tem dúvidas e condena no atacado, como fez com os quatro réus do Banco Rural. Até agora, absolveu apenas Luis Gushinken, que já chegou ao STF inocentado pelo procurador-geral. O ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, seguiu Barbosa na condenação aos dois dirigentes e controladores do banco, mas absolveu dois empregados, Vinicius Samarane e Ayanna Tenório, que, a seu ver, não tinham poder decisório para conceder e renovar empréstimos tão fora do padrão. É um seguidor do princípio in dúbio pro reo. Ou seja, na dúvida, evite a injustiça decidindo a favor do acusado. A reação de Barbosa ao voto divergente do revisor quase provocou um barraco ontem. Um procura distribuir castigo. Outro, distribuir justiça.

Dilma na tela. A presidente Dilma Rousseff fala hoje à noite ao país em cadeia de rádio e televisão, pela passagem do Sete de Setembro. Fará uma avaliação da conjuntura nacional e um balanço das medidas que seu governo vem tomando em diferentes áreas. Na sexta-feira, estará no palanque da Esplanada.

No fim de semana, passará em revista as medidas que serão anunciadas na terça-feira, destinadas à redução das tarifas de energia para indústrias e residências. Nesse primeiro momento, a redução estará lastreada na desoneração de impostos e contribuições. A renovação (ou não) das concessões que vencem em 2015 não deve ser tratada neste pacote de bondade, coincidente com a reta final da campanha, embora esteja sendo preparado há algum tempo.

Já as novas concessões à iniciativa privada, na área de portos e aeroportos, devem ser anunciadas mais para o fim do mês. Segundo fontes do governo, por causa da complexidade do assunto, que ainda exige avaliações e estudos técnicos, especialmente em relação aos grandes aeroportos, como Galeão (RJ) e Confins (MG).

Trapalhada. Até agora ninguém sabe dizer quem autorizou, da parte do governo, o acordo que foi firmado com a bancada ruralista para viabilizar a votação da Medida Provisória do Código Florestal. Depois daquele bilhete da presidente para as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente), cobrando explicações, e de sua posterior desautorização do acordo, é claro que a votação marcada para ontem gorou. Diante do possível veto de Dilma, os ruralistas recolheram o trator. Agora, de duas uma. Ou Dilma recua sem recuar, aceitando uma fórmula intermediária, ou teremos um buraco negro nessa matéria. E assim, depois de termos destruído a Mata Atlântica, encolhido o cerrado e aberto clarões na Amazônia, deixaremos os rios e nascentes ao deus-dará dos grandes e dos pequenos agricultores. Mais dos últimos, que exploram 75% das terras agricultáveis do país. Na segunda-feira, os senadores Jorge Viana e Luis Henrique tentarão reabrir as negociações que literalmente empacaram.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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