Em sabatina ao GLOBO, candidato se irrita ao ser questionado sobre o pai, Cesar Maia
RIO — O candidato a prefeito do Rio, Rodrigo Maia (DEM), disse, nesta quarta-feira durante sabatina do jornal O GLOBO, que a Assembleia Legislativa do Rio “ocupou” o governo do estado com a eleição do governador Sérgio Cabral (PMDB) e fez duras críticas à política de educação e transporte do prefeito Eduardo Paes (PMDB).
O deputado federal é o terceiro entrevistado na série organizada pelo jornal com os postulantes à prefeitura. Para o democrata, Paes “não fala com a verdade” ao dizer que acabou com a reprovação automática e, que às escolas da rede municipal, há uma determinação para metas para o mínimo de aprovação na rede.
Índice de rejeição
Na última pesquisa, o senhor tem 42% de rejeição. A que atribui índice tão alto?
Não sou analista de pesquisa. Há outras pesquisas que mostram um dado diferente. Se há rejeição cabe a mim mostrar as minhas ideias, que tenho condição de ir para o segundo turno. Também faço pesquisa. E, baseado nas minhas pesquisas e agendas de ruas, não tenho dúvida de que o eleitor que tem como referência a minha história de 14 anos como deputado, como a da Clarissa, do Garotinho e do Cesar Maia, que ele estará nesta reta final sendo informado sobre quem é o candidato que representa nosso lado, as pessoas que mais precisam, os bairros que estão abandonados.
Não vinculou essa rejeição a suas propostas?
O que quero é tratar das minhas propostas. Tudo que acontece na minha eleição é responsabilidade minha. Escolhi minha candidata à vice. A campanha é de responsabilidade minha e, parte, da Clarissa. As decisões finais são sempre minhas. O senhor está desconfortável na campanha? O prefeito já foi seu aliado, e o senhor está junto de quem já foi adversário...
Estou muito confortável nesta eleição. Tenho o prazer muito grande de estar fazendo campanha com a Clarissa. Ando com ela todo o dia. Meu material tem a cara dela ao meu lado. Agora, é uma aliança menor do que a deles, claro. A política implementada no Rio de Janeiro, a partir de 2006, é uma política que, pela primeira vez, a Assembleia Legislativa assume o comando do Estado do Rio de Janeiro. A partir de 2006, com a vitória do Sérgio Cabral, a Assembleia assume o estado. E essa política de ocupação dos partidos políticos gera uma eleição de muita dificuldade para quem está na oposição. São 17 minutos de televisão contra 3 minutos e 40 segundos do segundo tempo, que é o meu. Então, claro que é uma eleição difícil, mas não tenho nenhum problema de estar ao lado da Clarissa. E não tem nenhum problema de ser o adversário do Eduardo. Não se esqueçam que quem trocou de lado, quem trocou de ideias não fui eu.
O senhor não vincula sua rejeição ao Cesar Maia e ao Garotinho?
Não me neguei a mostrar ninguém. Disse, desde o início, que o Cesar Maia e o Garotinho iam aparecer no meu programa eleitoral. Eles são partes da aliança e vão aparecer dando suporte à nossa aliança. Cesar Maia já apareceu no meu programa na área da Educação, onde os servidores o têm como referência. Garotinho vai entrar no programa falando dos projetos sociais. Mas o candidato sou eu. Não estou aqui para ser candidato terceirizado. Ninguém vota em candidato terceirizado. Vou repetir o que falei no debate da TV: Rodrigo Maia 25, Cesar Maia 25.111. São pessoas diferentes.
Mas o senhor é o candidato dele...
Não vou negar o meu passado e aquilo que o Cesar Maia acertou e aquilo que acreditamos. Que um legado importante foi abandonado pelo Eduardo, vamos tratar disso.
Por exemplo?
Já fiz um programa sobre o Favela Bairro e vou fazer um sobre Remédio em Casa. Fiz um sobre Educação voltado para os servidores, onde temos uma base eleitoral muito forte. Agora, tenho que ter minhas ideias. Seu for ficar repetindo, não precisava fazer campanha.
Aprovação automática
O senhor é contra a aprovação automática?
Olha, vamos deixar uma questão clara sobre a aprovação automática: a aprovação automática no Rio não acabou. Vou mostrar para vocês como ela não acabou nem no segundo, nem no primeiro ciclo.
Mas o senhor acabaria com ela?
Acho que da forma que foi implementada foi um erro. Você gerou um atrito com pais e professores. Então, este é um tema que está fora da minha agenda. Minha agenda hoje para a Educação passaria pelo o que foi mais importante, que foi o que o Cesar Maia fez, a valorização do magistério. Posso deixar com vocês um documento da Secretaria de Educação, a aprovação automática, agora, é indireta: “Definindo-se uma meta de 8% para os anos iniciais e de 16% para os finais no terceiro bimestre, a que distância sua unidade escolar está dessas metas?”Está aqui (no documento): aprovação automática disfarçada do governo do Eduardo. Eles mandam uma determinação para os professores que só podem reprovar 8% no primeiro segmento e 16% no segundo. Esse debate na educação está sendo feito de forma equivocada. Estamos politizando um tema, e não há espaço para esse debate: qual o melhor sistema? A privatização? Mercado?
Mas o que o senhor faria?
Vou fazer o que a Finlândia fez na década 1970, quando passou a ser a terceira melhor do mundo. Qual é base? A valorização do servidor. Vamos trabalhar com as universidades do Rio de Janeiro, Uerj e UFRJ, para que a gente possa ter uma escola de verdade, que ensine os professores para que eles possam, depois, educar bem nossos filhos. Passa pela valorização, e não a privatização (feita) pelo Eduardo. Você pode fazer qualquer pesquisa para ver como os professores estão desmotivados. A taxa de aposentadoria aumentou na prefeitura, passou de 2% para 8%. Estamos perdendo o que é de melhor na rede pública: os professores e médicos mais preparados. Todos aqueles que têm tempo (para se aposentar) estão pedindo baixa com medo dessa política de mercado e privatizadora do governo do Eduardo na Educação e na Saúde.
Transportes
O senhor está propondo passagem de ônibus a R$ 1...
No domingo!
Isso não é demagógico?
Não vai contra porque essa ideia nós trouxemos de Curitiba.
E como o senhor vai negociar isso com as empresas de ônibus?
Vamos fazer uma auditoria muito grande nas empresas de ônibus. Pergunto a você: será que o BRT da Zona Oeste, que vai custar R$ 1 bilhão, e mais o da TransCarioca, R$ 1,3 bilhão, mas o TransOlimpíca, R$ 1 bilhão e alguma coisa, e o da TransBrasil — que espero que não saia porque ele é criminoso para o Rio, porque é concorrente com o trem e o metrô — mais o BRS... todos esses benefícios que as empresas de ônibus tiveram. Mais a alíquota do ISS que é ilegal.
E ela é ilegal desde quando?
Depois vou explicar. Outra coisa grave: o sistema de bilhetagem deveria ter sido feito por uma empresa fora das empresas de ônibus, como em Bogotá, que tem o melhor modelo de BRT. Então, todos esses benefícios que as empresas de ônibus tiveram, inclusive o ISS de 0,01%, que é ilegal porque a alíquota mínima é de 2%, isso não vai retornar nada para o cidadão? Vai ficar tudo com as empresas de ônibus? Essa discussão não vai ser feita? São R$ 4 bilhões de corredores para eles.
Mas isso foi feito para a população e não para as empresas ...
O que estou dizendo é o seguinte: o governo está investindo quase R$ 4 bilhões em linhas exclusivas para as empresas de ônibus. Acho completamente equivocado. Será que a rentabilidade delas não aumentou o suficiente para que a gente possa fazer uma auditoria na planilha de custo?
O que o senhor faria para o transporte?
Primeiro, pegaria o dinheiro da Transbrasil e colocaria no trem e no metrô.
O metro é estadual...
A prefeitura de São Paulo colocou. Pegaria esse dinheiro e colocaria parte no trem e parte no metrô. Acredito que, se a gente quer fazer uma cidade grande, de primeiro mundo, não é através de ônibus.
Daria esse recurso para metrô e trem e, ao mesmo tempo, baixaria o preço do ônibus para R$ 1?
Mas é no domingo.
Mas os senhor também falou em diminuir a tarifa para R$ 2,50...
Claro que sim. Mas eles vão ganhar R$ 4 bilhões. Se eles tivessem que construir esses corredores exclusivos, teriam que gastar isso. E eles não estão gastando nada.
Milícias e loteamentos
E as vans?
Respeitaria a lei 3.360, aprovada em 2002.
Mas muitas são dominadas por milicianos...
Problema de milicianos é da polícia. Se o miliciano continuar ocupando aquele território, vai mandar de qualquer jeito, não só em Kombi e van. Vou pedir que a Polícia Federal entre comigo nas comunidades.
Como o senhor controlaria o crescimento das favelas pacificadas, dos loteamentos irregulares?
Voltaria com o Favela Bairro, que tem essa missão de reorganizar as favelas, criar infraestrutura. Foi um projeto de grande sucesso no Brasil e no mundo. No caso dos loteamentos irregulares, é o processo de regularização que já existe. De forma nenhuma vou estimular expansão de área irregular. O que queremos é, em parceria com o governo federal, ampliar o Minha Casa Minha Vida, mas com a prefeitura cumprindo seu papel. Botar não sei quantas mil moradias no Jesuítas, em Santa Cruz... Na hora em que se põe três mil pessoas numa unidade e não tem escola, sabe onde as crianças vão estudar? Na Cidade das Crianças. Por isso digo que o transporte de massa é importante. Não adianta ficar construindo moradia longe, sem transporte, sem planejamento para ter sala de aula, saúde, porque as pessoas vão voltar para a área degradada anterior.
Nova Sepetiba (do governo Garotinho) foi feita de maneira errada?
Não sei, não vou ficar discutindo Sepetiba para fazer “pegadinha". Já está feito, não vou ficar discutindo.
O que as pesquisas indicam é que as pessoas estão mais satisfeitas no momento do que há quatro anos. O senhor não percebe isso?
Não, não percebo. Acho que é um governo publicitário, que gasta milhões e milhões de publicidade junto com o governo do estado.
Não é assim em qualquer estado?
Não. O Cesar Maia gastava zero. Podem olhar as contas do governo. (O atual) É um governo publicitário. Não tem políticas de samba como foi prometido. Ilha de Segurança, portal de segurança. Não tem.
A culpa foi do Pan
Mas temos exemplos semelhantes também do Cesar Maia, de projetos que não aconteceram...
Fizemos muita coisa no governo Cesar Maia. Teve um problema depois do Pan-Americano, que concordo. Ali, teve problema no final, talvez de conservação, por causa da falta de recursos. Mas o que o Pan-Americano gerou para o Brasil? As Olimpíadas. Sem o Pan-Americano, pode perguntar ao (Carlos Arthur) Nuzman (presidente do COB) se teríamos Olimpíadas.
Todo o desgaste foi decorrente do Pan?
É o que avalio, que a conservação piorou porque foi preciso alocar recursos; o estado não colocou nenhum, e o governo federal entrou no final. Mas acho que o principal desgaste do Cesar Maia, que tenho em pesquisa, é a Cidade da Música.
Temos pergunta dos internautas Luiz Moreira Gonçalves, Rossana Pignataro e Rafael Penna, pelo Facebook, sobre projetos na área da Cultura e Cidade da Música.
Acho, não, tenho certeza que vai ser um grande equipamento para o Rio de Janeiro nos próximos anos. Infelizmente, ela, mais uma vez, fez parte de uma disputa política. Aliás, em rodas fechadas, os elogios do Eduardo à Cidade da Música não são pequenos. Não só em rodas fechadas, mas no edital que ele publicou nos últimos dias. Está aqui: “a Cidade das Artes representa um marco cultural para toda a cidade. Esse projeto inédito na América Latina foi concebido...etc.” O equipamento de cultura custou quase R$ 600 milhões. O que eu faria com a Cidade da Música? Primeiro, trabalharia com o setor privado, sim, mas não com OS (Organizações Sociais). Tenho certeza que muitas empresas terão interesse em operar a Cidade da Música. Será o melhor equipamento, não da América Latina, mas da América, de cultura.
Propostas para Saúde
Qual a sua proposta para a Saúde? É contra as OS (Organizações Sociais)?
Sou. Não sou contra o setor privado participar, mas o setor privado que está constituído na cidade. Se tem um hospital que tem espaço para ser utilizado, um centro cirúrgico, por exemplo, a prefeitura pode contratar esse serviço. O que não entendo é como a prefeitura faz um equipamento e o entrega a um terceiro. Acredito que, para resolver a médio e a longo prazo, passa por uma discussão ideológica. Alguns acreditam na política privatizadora do Sérgio Cabral e do Eduardo. Até o fim do mandato do Eduardo Paes, vai se gastar R$ 2,4 bilhões em OS, e a minha opinião é que o sistema de saúde piorou muito. Dois sistemas competindo um com o outro, o servidor público — que tem a experiência, que trabalha lá há 20 anos —, um ganhando R$ 2 mil e o outro ganhando R$ 10 mil. E ainda tem um terceiro sistema, que as próprias OS estão competindo entre si. Como não tem muito médico no mercado, a OS, vamos dizer, do Méier, faz leilão com a OS de Santa Cruz. Criou-se um sistema que não é gerenciável.
O que o senhor faria?
A minha proposta é que a gestão dos equipamentos seja feita por servidores públicos, da prefeitura. Temos que voltar a valorizar os profissionais. Não adianta abrir concurso do jeito que está o salário, do jeito que está a desmotivação, e ainda com um sistema paralelo de OS, que ninguém vai querer participar. O melhor modelo é que volte a ter um modelo público que permita ao Rio de Janeiro ser uma referência. Eu não acredito no modelo privado para gerir saúde, acredito no modelo público. Acho que, com a abertura de concurso, vamos dar oportunidade para os médicos e os profissionais de saúde para que participem.
Redução de impostos
Qual sua opinião sobre a redução de impostos como ISS E IPTU?
No ISS, vamos trabalhar nos setores que ainda não tiveram ISS reduzido para 2%. São áreas que têm sinergia com a cidade e com os eventos que vão chegar. Acho que, na Tecnologia da Informação, infelizmente, já perdemos para Recife uma grande base por causa do valor do ISS. Podemos pensar também em outras áreas, como o setor de saúde. Em IPTU, há algumas distorções. Como a arrecadação principal da cidade passou a ser o ISS, acho possível resolver algumas distorções, principalmente para estimular o comércio de rua. Para reduzir, é claro. No Méier, o Jardim do Méier era mais valorizado que a Dias da Cruz. Com o tempo, a Dias da Cruz ficou mais valorizada. Mas os governos continuaram cobrando IPTU mais caro no Jardim do Méier.
Tinta na caneta
Otavio Leite disse que foi um vice sem caneta. Qual será o papel da Clarissa Garotinho?
Otavio foi um grande vice e um grande deputado e é um dos melhores quadros que o Rio tem. Mas tinha a caneta um pouco mais cheia do que diz. Ele teve a secretaria de Turismo. Indicou o presidente da Riotour. Mas tinha razão. Tinha pouco poder no governo Cesar Maia. No caso da Clarissa, em todas as áreas que ela quiser ajudar. Ela é muito organizada, muito determinada. Ela pode ser secretária, coordenadora. Na área da juventude e social, com certeza vai ter um papel efetivo.
O cargo de secretário de Esporte na prefeitura é do PCdoB. No governo Garotinho foi, por muito tempo, do (deputado) Chiquinho da Mangueira. Sempre foi usado politicamente. E no seu caso?
Que seja um gestor que entenda da área de esporte. Pode ter filiação partidária, não vejo problema nisso.
E estrutura das Olimpíadas não será mudada? E os nomes?
A Maria Silvia (Bastos Marques, que comanda a Empresa Olímpica Municipal) trabalhou conosco. Se for do interesse dela continuar, não há nenhum problema. Ela é um grande quadro. Tanto que ela deu uma entrevista falando a verdade, que não há nenhum projeto executivo pronto até hoje. Só vão ficar prontos no segundo semestre de 2013. Não podemos então nem falar de valores.
Por que faltou ao trabalho? O eleitor Guilherme Augusto, via Twitter, pergunta por que o senhor faltou à votação dos royalties.
Sou deputado há 14 anos, e há 11 sou considerado um dos melhores deputados do país como representante do Rio de Janeiro. Aprovei leis importantes. Era líder do PFL quando mudamos a lei do Salário Educação e passamos a transferir para a cidade do Rio R$ 250 milhões. Ali (nos royalties)foram cinco a seis votações. E não participei só de uma. Foi uma votação que não fui de várias.
O eleitor quer saber por que o senhor não participou especificamente dessa votação.
Naquela votação, fui representar o Parlamento numa agenda externa.
Para encerrar, qual é a proposta principal do senhor para a área de sustentabilidade e ambiental na cidade do Rio?
A coisa mais importante para o Rio é o saneamento da Zona Oeste, que, infelizmente, foi prometido e não foi feito. A reestruturação da Comlurb, que é uma empresa com a cabeça da década de 90, e não de 2012. Precisa mudar sua forma de atuação e caminhar para a coleta seletiva e reciclagem. Mas, de forma urgente, o saneamento da Zona Oeste.
Um prefeito assumiu com bandeira do ordem pública e terminou no “Ilegal, e daí?". Qual vai ser a sua política na ordem pública?
Minha política é ordem pública com respeito ao cidadão. A prefeitura deve se antecipar à ocupação dos espaços para gerar o menor número possível de conflitos. O que há hoje é um excesso de repressão, o que acho equivocado. O comércio formal não pode ser competidor do informal. No informal, as pessoas têm que ter direito de trabalhar, mas de forma organizada, sem essa competição, assentando-se em áreas vazias. Mas deixar competição, de forma alguma. Nunca deixamos isso e não vamos deixar. Essa política de chegar às 17h repreendendo, batendo e perseguindo, acho um equívoco.
FONTE: O GLOBO
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