• Meire Poza diz à ‘Veja’ que esquema operado por Youssef beneficiava integrantes de ao menos 3 partidos – PT, PMDB e PP
O Estado de S. Paulo
A ex-contadora de Alberto Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, afirmou que o esquema operado pelo doleiro preso pela Operação Lava Jato movimentava “malas de dinheiro”, beneficiou políticos e pelo menos três partidos - PT, PMDB e PP -, segundo reportagem da revista Veja deste fim de semana.
De acordo com relato de Meire à revista, as malas de dinheiro saíram da sede de pelo menos três “grandes empreiteiras”, sendo embarcadas em aviões e entregues para políticos.
Dois dos integrantes da relação de políticos ligados a Youssef, citada pela Veja, já respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados: André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (ex-PP).
Meire afirma ainda que o doleiro teria depositado R$ 50 mil na conta do senador Fernando Collor (PTB-AL) a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, um ex-assessor do ex-presidente. Ela afirma também que o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) contou com a ajuda de Youssef para quitar dívidas de campanha. Outro político citado é o ex-ministro e ex-deputado Mário Negromonte. Conforme a ex-contadora, um irmão de Negromonte trabalhava para o esquema “transportando as malas, levando e buscando dinheiro nas construtoras”.
O próprio doleiro, segundo ela, se encarregava da distribuição de recursos aos beneficiários, que receberiam pagamentos em dinheiro vivo ou por meios de depósitos bancários feitos por ela. As investigações indicam que o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro do doleiro teria movimentado volume estimado em R$ 10 bilhões.
De acordo com a revista, Meire afirma que fez muitos pagamentos, mas não diretamente na conta de políticos e sim para familiares deles. Vargas, disse a ex-contadora, ajudou Youssef a lavar R$ 2,4 milhões por meio de uma empresa no Paraná. Como retribuição pelo serviço, o doleiro pagou R$ 115 mil para pagar o frete do jato que levou o ex-petista para férias na Paraíba. A operação, conforme aVeja, teria sido feita por Leon Vargas, irmão do deputado.
Argôlo é descrito na reportagem como uma das figuras mais assíduas do escritório Youssef.
A ex-contadora afirma que, por três anos, montou empresas de fachada e organizou planilhas de pagamento, entre outras funções. Ainda de acordo com a entrevista, um dos “botes” mais ousados do doleiro teria como alvo caixas de prefeituras. O doleiro pagaria propina de 10% a cada prefeito que topasse investir em um fundo de investimento criado por ele.
Conforme revelou o Estado, no depoimento à PF ela citou Paranaguá (PR), Cuiabá (MT), Petrolina (PE), Hortolândia (SP), Holambra (PR) e Tocantins.
A contadora disse também que André Vargas estaria se empenhado em conseguir que dois fundos de pensão, o Postalis, dos Correios, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal, colocassem R$ 50 milhões em um dos projetos de Youssef. Segundo ela, seu ex-chefe tirava a maior parte de seus lucros do PP, principalmente envolvendo transações da Petrobrás. As empreiteiras que prestavam serviços à estatal protagonizavam os negócios.
Respostas do citados. Os políticos citados pela ex-contadora de Youssef negaram as acusações e cobraram a apresentação de provas. “Dizem que eu tenho um contato com o Alberto Youssef e dizem que um assessor meu, sem dar o nome desse assessor, procurou essa senhora que eu não sei quem é. Então, é uma matéria furada”, afirmou o deputado petista Cândido Vaccarezza. “Primeiro, não conheço a pessoa. Segundo, nenhum assessor nunca procurou essa pessoa. Terceiro, eu não tive dívida de campanha.”
“Não conheço essa moça. Não procede o que ela está dizendo”, afirmou o ex-ministro Mário Negromonte. “Não tem denúncia nenhuma da PF, do MP, nada. Não tem telefonema meu, não tem mensagem, não tem depósito, nada. Repudio veementemente a declaração da contadora que eu nem sei quem é.”
Negromonte disse ainda que conversou com seu irmão, Adarico, também citado pela contadora, que negou a acusação.
O ex-presidente e senador Fernando Collor desligou o telefone sem responder às perguntas do Estado. “Muito prazer em falar com você. É uma alegria enorme! Obrigado”, disse, antes de desligar o aparelho.
Por meio de seu advogado, Michel Saliba, Vargas negou as acusações. “Ele nega veementemente ter recebido a viagem. Não foi em troca de nada. E muito menos ele lavou dinheiro. Essa é uma acusação absurda”, disse. Segundo Saliba, o mesmo vale para a acusação relacionada aos fundos de pensão.
Em nota, o Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, voltou a admitir que o diretor do fundo, Carlos Borges, recebeu o doleiro em março deste ano a pedido do deputado Vargas. Youssef apresentou uma proposta, mas o projeto foi “prontamente descartado” por não se adequar à sua política de investimentos.
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, disse que os fatos relatados são anteriores à sua gestão, mas que seu antecessor, senador Francisco Dornelles (PP-RJ), “nunca na vida sofreu nenhum questionamento”. “Tenho certeza de que, se falarem do PP, você não ver vai em minuto nenhum relação do Dornelles com essa figura (Alberto Youssef)”, disse.
Procurado, o advogado de Argôlo, Aluisío Corrêa Régis, disse que só representa o parlamentar no processo do Conselho de Ética. PMDB e PT não quiseram se manifestar.
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