Luiz Guilherme Gerbelli – O Estado de S. Paulo
O governo terá pouco espaço para estimular a economia em 2015. No primeiro ano do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, a equipe econômica terá de lidar com uma série de desequilíbrios, que passam por problemas fiscais, inflação pressionada e baixo crescimento.
Os números previstos pelos analistas econômicos justificam o pessimismo. Pela projeção dos economistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer menos de 1%, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará próximo do teto da meta estabelecido pelo governo, que é de 6,5% - há risco até de a inflação superar o teto.
O nó da equipe econômica ocorre porque ela não poderá contar nem com a política fiscal nem com a monetária para aumentar o crescimento. "A tendência das políticas públicas vai no sentido de desestimular a economia", diz Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Na política fiscal, por exemplo, espera-se um ajuste, que pode vir com aumento dos impostos ou redução de gastos. Quando foi apresentado, o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicou uma política fiscal mais conservadora do que a atual. Levy prometeu um superávit primário de 1,2% do PIB para 2015. "Os desafios (para a próxima equipe) estão mantidos, com a necessidade de ajuste fiscal, e grande parte dele vai ocorrer com o aumento de tributação", afirma Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada.
A piora na área fiscal já fez com que o Brasil entrasse no radar das agências de classificação de risco. Em setembro, a Moody?s manteve a nota do Brasil em Baa2, mas passou a perspectiva de estável para negativa.
Em março, a Standard & Poor?s (S&P) reduziu o rating brasileiro para BBB-, o menor possível entre os países com grau de investimento. O grau de investimento funciona como um selo de qualidade e mostra que o País tem capacidade de honrar suas obrigações.
Caso o Brasil perca esse selo, alguns fundos que investem no País vão ter de deixar de investir por restrições legais, o que pode provocar saída de capital e, consequentemente, a desvalorização da moeda brasileira.
Na política monetária, a inflação pressionada pelos reajustes de preços administrados e pela alta do dólar deverá obrigar o Banco Central a elevar a taxa básica de juros (Selic), o que tende a ser mais um freio para a economia do País - atualmente a Selic está em 11,75% ao ano.
A economia brasileira também não deverá contar com um cenário externo favorável. Os preços das commodities estão em queda por causa da desaceleração da China, principal importador de produtos brasileiros. Na venda de manufaturados, a situação também deve permanecer difícil pela fragilidade econômica da Argentina e Venezuela, dois grandes importadores de produtos das indústrias brasileiras. Em 2014, a balança comercial deverá ter o primeiro déficit em 14 anos.
No meio desse cenário difícil, a economia brasileira também vai ter de lidar com um possível aumento de taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em 2015. "Os Estados Unidos vão ficar mais atraentes por causa do crescimento e do possível aumento dos juros, então vai ser mais difícil captar fora", afirma Castelar.
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