• Partidos ampliam isolamento de Dilma, que ataca Temer e Cunha
Previsão no PMDB é que apenas oito dos 68 deputados da bancada votem com o Planalto no domingo; entre os 47 parlamentares do PP na Câmara, a maior parte se declara favorável ao afastamento
A cinco dias da votação do impeachment no plenário da Câmara, a debandada da base aliada foi acelerada ontem, após a derrota do governo na comissão especial. Num duro revés para a presidente Dilma, o PP anunciou que a grande maioria dos seus 47 deputados votará pelo impeachment. O presidente do PP, Ciro Nogueira, afirmou que o partido deixará o governo e entregará o Ministério da Integração. O PRB, com 22, formalizou decisão pró-impeachment. A bancada do PMDB já teria, segundo governistas, 60 dos 68 votos a favor do impedimento. Em mais uma cerimônia com aliados no Planalto, Dilma acusou o vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de traição e conspiração.
O desmanche se acelera
• PP deixa governo Dilma e causa efeito cascata; PMDB deve votar em peso por afastamento
Júnia Gama, Isabel Braga, Eduardo Bresciani, Manoel Ventura* - - O Globo
BRASÍLIA - A debandada de partidos da base aliada, que terá peso decisivo na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no próximo domingo, ganhou nova dimensão ontem com o desembarque do PP, que tem 47 deputados e havia se tornado a maior legenda aliada desde que o PMDB rompeu com o Palácio do Planalto. A decisão já começou a influenciar outros partidos que se encontravam divididos a respeito do impeachment, provocando um “efeito cascata”: o PRB, com bancada de 22 deputados, fechou posição a favor do afastamento da presidente; e o PR deve liberar a bancada de 40 deputados para votarem como quiserem.
A tendência é que haja impacto também sobre votos no PMDB, que até ontem contabilizava 26 indecisos entre os 66 deputados da bancada. Mesmo os peemedebistas mais alinhados ao governo passaram a admitir que, com a decisão do PP, parte desses votos deve se transformar, nos próximos dias, em apoio ao impeachment. Nas contas de um peemedebista desta ala, os votos pró-impeachment podem chegar a 60.
No Palácio do Planalto, a notícia do desembarque do PP e do PRB provocou desânimo. A ordem é continuar investindo no corpo a corpo com os deputados para conseguir votos individuais e evitar que a oposição alcance os 342 necessários para aprovar o processo. Segundo um integrante do governo, no entanto, a presidente ainda conta com votos de um núcleo duro em alguns partidos aliados. Essa conta é feita com base num cruzamento do mapa de votações, fluxo de demandas atendidas e uma análise de comportamento de cada parlamentar.
Na contabilidade do Planalto, segundo um assessor, Dilma teria, após os anúncios do PP e do PRB, cerca de 185 votos, uma vantagem de apenas 13 apoios. Há poucos dias, o governo dizia ter entre 200 e 215 apoios. No levantamento feito pelo GLOBO, o governo tem 110 votos declarados. Outros 304 são favoráveis ao impeachment, e 99 permanecem indecisos ou não opinaram (veja a enquete nas páginas 10 e 11).
Coube ao presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), anunciar que o partido deixará o governo formalmente, entregando imediatamente o Ministério da Integração Nacional, comandado por Gilberto Occhi, e a presidência da Companhia de Desenvolvimentos dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf ).
Nogueira trabalhou para que o partido permanecesse na base aliada e chegou a anunciar, semana passada, que o PP estaria ao lado do governo. Mas, diante da reunião da bancada do partido na Câmara, em que a maioria se manifestou a favor do impeachment, o senador se viu sem alternativa e formalizou o desembarque. A maioria ampla dos presentes à reunião defendeu a saída de Dilma.
— Eu defendia até o momento de hoje a permanência na base da presidente. Mas não me cabe alternativa, como seu presidente, a não ser acatar a decisão. Então, hoje, o partido solicita aos seus quadros que pertencem ao governo da presidente Dilma a carta de renúncia — afirmou Ciro Nogueira.
O senador disse que agora buscará a unidade da bancada em apoio ao impeachment, mas que não haverá sanções a quem votar contra:
— Eu não vejo como, se o partido está tomando hoje a decisão de romper com a presidente, nós permanecermos com cargos. A decisão da bancada é que haja a entrega dos cargos, o desembarque do governo. Mas o partido não vai perseguir ou penalizar qualquer pessoa que, por ventura, divirja — pontuou.
Reservadamente, integrantes da bancada afirmam que devem restar no PP apenas quatro votos contra o afastamento. Tanto o líder do partido, Aguinaldo Ribeiro (PB), que é ex-ministro de Dilma, quanto Ricardo Barros (PR), vice-líder do governo, sinalizaram ontem que votarão a favor do impeachment. Há relatos de que, em conversas com a cúpula peemedebista, teria sido oferecido ao PP ter o Ministério das Cidades e uma segunda pasta num eventual governo Temer.
O PR teve um dia de divisões. Pela manhã, houve um anúncio da indicação do deputado Aelton Freitas (MG) para a liderança do partido, reafirmando a posição da legenda contra o impeachment, mas ressaltando que não há necessidade de fechamento de questão para a votação. No final do dia, interlocutores do ex-deputado Valdemar Costa Neto, que cumpre prisão domiciliar pela condenação no mensalão e tem atuado em defesa de Dilma, afirmaram que a tendência era que a bancada fosse liberada para votar conforme cada um quisesse.
O partido ocupa o Ministério dos Transportes com Antonio Carlos Rodrigues e está sendo cortejado pelo PMDB para ter um “superministério” caso embarque no impeachment. A bancada contabiliza, pelo menos, 28 votos a favor do impeachment. No dia anterior, o então líder Maurício Quintella (AL) renunciou ao cargo e anunciou que votará contra o governo. O movimento do deputado contrariou a Executiva do PR, que defende o apoio à presidente, e agitou outros parlamentares a se rebelarem contra a orientação partidária.
A nota do PR foi distribuída pela assessoria em meio à reunião convocada por Quintella para “dar conforto” aos seus ex-liderados que “queriam votar conforme suas consciências”.
— Vim agradecer à bancada, explicar minha posição e dar o máximo de conforto, e dizer para ir em frente e votar de acordo com o que manda a consciência. Neste momento histórico, não tem que pesar a decisão partidária. Acredito que, na bancada, a maioria é a favor do impeachment, e vou trabalhar para que ela seja respeitada, para que não se feche questão. Eu já avisei à direção que uma ordem de cima para baixo racharia o partido — disse Quintella.
No fim da tarde, o PRB, que também integrava a base de Dilma até meses atrás, inclusive com o comando do Ministério do Esporte, fechou questão a favor do impeachment. Segundo o presidente do partido, Marcos Pereira, todos os 22 deputados da legenda votarão pelo afastamento de Dilma:
— A bancada decidiu por unanimidade apoiar o impeachment. Nós fechamos questão. A decisão é devido à análise do processo, da defesa, das provas. Nós entendemos que o processo tem viabilidade jurídica; política, nem se fala.
A bancada do PSD se reúne hoje. O líder Rogério Rosso (DF) afirmou que é uma reunião para a análise do ambiente político. Segundo ele, o partido liberou os votos dos deputados.
Assim como os demais partidos da base, no entanto, cresce no PSD o número de deputados favoráveis ao impeachment. A bancada hoje tem 36 deputados. Cálculos iniciais mostravam que haveria pelo menos 12 dispostos a votar como governo Dilma, mas muitos já reduziam o apoio a oito deputados. Temer recebeu grupos de deputados, levados por parlamentares do PSD, na Vice-Presidência para conversas. (Colaboraram Catarina Alencastro, Jeferson Ribeiro e Simone Iglesias)
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