domingo, 28 de agosto de 2016

Tríplex de Lula era propina, afirma empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um tríplex em Guarujá (SP) destinado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria abatido das propinas que a OAS tinha de pagar ao PT por obras na Petrobras, disse o empreiteiro Léo Pinheiro a investigadores da Lava Jato.

O depoimento, revelado pela revista "Veja" e confirmado pela Folha, consta da negociação de delação premiada de Pinheiro, que foi suspensa pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após vazamento de uma informação anterior, que mencionava o ministro do Supremo Dias Toffoli.

Também são citados a presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB).

"Ficou acertado que esse apartamento seria abatido dos créditos que o PT tinha a receber por propinas em obras da OAS na Petrobras", disse Pinheiro, sobre conversa com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto em 2010.

"Nesse contato, perguntei para Vaccari se o ex-presidente Lula tinha conhecimento do fato, e ele respondeu positivamente [...]", completou.

Pinheiro afirmou ainda que a reforma feita no tríplex pela OAS "não seria cobrada do ex-presidente", porque seria abatida "também como uma retribuição dos serviços prestados por Lula com a OAS na área internacional".

Em outra parte da delação, o empreiteiro tratou do sítio em Atibaia (SP) atribuído a Lula. Pinheiro disse que o petista solicitou em 2014, uma reforma no local.

Da mesma forma, disse, ficou "implícito que a OAS atuaria e seria remunerada com o abatimento dos créditos com o PT e em retribuição ao serviço prestado por Lula em favor dos negócios internacionais da empresa".

Pinheiro disse ainda que contratou Lula para uma palestra na Costa Rica, em 2011, por US$ 200 mil. A OAS tinha interesses no país e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, havia dito que o petista poderia "influenciar autoridades locais em prol dos negócios da OAS".

Após a palestra, segundo Pinheiro, Lula o levou a um jantar com a então presidente Laura Chinchilla.

Em outra parte do acordo de delação, o empreiteiro disse que pagou caixa dois à campanha de Dilma em 2014, por meio de contrato fictício com a agência de comunicação Pepper.

Foram três parcelas de R$ 239,3 mil, segundo Pinheiro —valor solicitado pelo então tesoureiro Edinho Silva "para o pagamento de despesas da campanha".

Por fim, Pinheiro disse que, a pedido de Okamotto, custeou a armazenagem de bens pessoais de Lula a partir de 2010 —quando ele ainda era presidente—, em troca de ajuda para a OAS no exterior.


Tucanos
Ao falar de tucanos, Pinheiro citou um esquema de propina nas obras do Rodoanel Sul, em São Paulo, no governo Serra (2007-2010).

Segundo ele, a OAS, que ganhou o lote 5 da obra, integrava um cartel que se reunia na Andrade Gutierrez, a partir de 2004, para acertar as licitações.

"Na licitação com contrato assinado em 2007 havia um convite de 5% de vantagens indevidas para Dario Rais Lopes e Mario Rodrigues", disse Pinheiro.

Lopes era secretário de Transportes de Serra, e Rodrigues, diretor de engenharia.

Ainda segundo o depoimento, em 2007, por determinação de Serra, o contrato foi renegociado e ficou 4% mais barato.

"Em razão dessa negociação, os valores de vantagens indevidas também foram repactuados para 0,75%".

Parte da propina, ainda segundo Pinheiro, foi paga por meio de uma empresa e outra parte, em dinheiro vivo.

Com relação a Aécio, o dono da OAS relatou propina de 3% nas obras da Cidade Administrativa, durante seu governo (2003-10).

Como adiantou a Folha em junho, os pagamentos eram feitos a Oswaldo Borges Costa Filho, considerado operador dele.

Outro lado
A defesa de Lula disse em nota que os procuradores querem "impor uma narrativa" a Léo Pinheiro. "A devassa na vida de Lula e seus familiares mostrou que, após 40 anos de vida pública, ele é honesto e comprometido com os valores que defende, incluindo combate à corrupção".

Os advogados de Lula afirmaram que ele não é dono do tríplex nem do sítio. Disseram ainda que ele, "a exemplo de outros ex-presidentes, realiza palestras e defende empresas de seus países no exterior".

Em referência à afirmação de que a OAS pagou pela guarda de bens, dizem que não são objetos pessoais, mas itens de interesse público.

A assessoria de Dilma disse que "calúnias e mentiras são lançadas contra sua honra" às vésperas da conclusão do impeachment. Edinho Silva, ex-tesoureiro dela, negou pagar caixa dois à Pepper. "Todas as reuniões que eu tive [com Pinheiro] foram para tratar de doações legais".

Aécio disse que desconhece as afirmações e as considera "falsas e absurdas".

Em nota, Serra disse que a assinatura do contrato e o início das obras do trecho sul do Rodoanel aconteceram em 2006, antes do início de seu mandato como governador.

Segundo ele, os dois dirigentes da área de transportes mencionados concluíram suas funções em 2006 e não continuaram em seus cargos na nova administração.

Nenhum comentário: