• Candidato do PRB à prefeitura do Rio passa a atuar na defensiva após revelação de declarações polêmicas e de uma detenção em 1990
Clarissa Thomé – O Estado de S. Paulo
/ RIO - A uma semana do segundo turno, a disputa no Rio, que antes parecia decidida, se acirrou. O candidato Marcelo Crivella (PRB), líder folgado nas pesquisas, passou à defensiva depois que vieram à tona declarações polêmicas sobre religião e homossexualismo e uma detenção em 1990, sob acusação de invasão de domicílio.
Já o candidato Marcelo Freixo (PSOL), que adotava um discurso ameno e propositivo e estava muito longe de Crivella nas pesquisa, contratou assessores que tinham trabalhado em campanhas do PMDB e do PSDB, conforme revelou o Estado, e adotou uma estratégia de desconstrução do adversário, com ataques duros. O resultado foi a redução em nove pontos da diferença entre os dois candidatos, que, no entanto, na ultima pesquisa Ibope, ainda apareciam distanciados um do outro, com uma vantagem de 17 pontos para Crivella.
Segundo o levantamento do instituto divulgado na quinta-feira passada, Crivella tem 46% das intenções de voto; Freixo, 29%. Os dois têm o desafio de avançar sobre os 25% dos eleitores que declararam que vão votar em branco, nulo ou ainda não se decidiram para o pleito.
Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), é cedo para afirmar que há “uma onda Freixo” e se ele terá margem para virar a disputa. “Ainda precisamos de uma terceira pesquisa. Aparentemente, houve um desgaste da candidatura do Marcelo Crivella”, disse.
Monteiro afirma que o tom da campanha está “muito belicoso de parte a parte”. “A televisão mostra um spot do Freixo seguido do Crivella, ambos com ataques bem diretos, acusações graves. Normalmente esse tipo de enfrentamento leva à situação em que os dois perdem. São informações mal decodificadas pelo eleitor. A impressão geral é de um vozerio de xingamentos. E se os dois perdem, isso favorece o Crivella, que está na frente”, afirmou.
Refluxo. A disputa no segundo turno começou morna. O primeiro debate, na TV Bandeirantes, foi centrado em propostas. Em seguida, Crivella cancelou a participação em debates, reassumiu o mandato de senador e passou a ter compromissos em Brasília.
A mudança de tom partiu de Freixo, que assumiu estratégia mais ofensiva. Passou a fazer inserções apontando a aliança de Crivella com o ex-governador Anthony Garotinho e reproduziu vídeo gravado por Carminha Jerominho, filha do ex-vereador Jerominho, condenado por chefiar a maior milícia do Estado, em que ela diz que a família apoia Crivella.
O cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ, avalia que Crivella enfrentou três ondas negativas. A primeira foi quando a campanha de Freixo fez a ligação entre o adversário e Garotinho; não obteve grande efeito. Em seguida, vieram a publicação de reportagens sobre livro em que ele faz críticas a homossexuais e outras religiões e vídeos com falas que seguem a mesma linha.
“A opção da propaganda negativa está surtindo efeito, e houve a transferências de votos dele para Freixo. Crivella não conseguiu ainda neutralizar a associação com a Igreja Universal e surge a terceira onda, que é a reportagem da Veja, com a foto de sua detenção. Mesmo que ele consiga se explicar, essa explicação faz com que o fato circule mais ainda. É prematuro dizer que haverá virada, mas existe tempo suficiente para que ela aconteça”, afirmou.
Ismael lembra que o tempo de campanha deste segundo turno está tão longo quanto o primeiro, prejudicado por Olimpíada e impeachment da presidente Dilma. “Se houver debate, este pode ser decisivo. Crivella está extremamente pressionado e vai precisar de capacidade muito grande para impedir que essa onda cresça”, concluiu o cientista político.
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