Reunião tucana deve decidir afastamento e escolha do sucessor
Maria Lima, O Globo
BRASÍLIA - Aliados do presidente afastado do PSDB, senador Aécio Neves (MG), informaram ontem que ele se rendeu a pressões de líderes do partido e decidiu convocar uma reunião da Executiva Nacional da legenda, em agosto, para se afastar definitivamente do cargo e discutir a eleição de seu sucessor. Com mandato estendido até maio de 2018, Aécio terá que renunciar para outro tucano assumir o comando do partido. Esse acerto teria sido feito entre Aécio e o presidente interino da sigla, Tasso Jereissati (PSDB-CE).
— Já está batido o martelo. Aécio vai se afastar definitivamente da presidência do PSDB em agosto. Como presidente de fato afastado, cabe a ele convocar uma reunião da Executiva Nacional, em agosto, para escolher o novo presidente. Quanto ao Tasso, não tenho certeza se será ele — disse um dirigente tucano ligado a Aécio.
PEDIDOS DE “PÉ NO FREIO”
Ontem à noite, no entanto, outros tucanos disseram que está surgindo um movimento de senadores e governadores que, diante do arrefecimento da possibilidade de desembarque do governo, preferem que Aécio “coloque o pé no freio” em relação à escolha do novo presidente do partido. Esses dirigentes avaliam que a convocação de eleições internas levaria, inevitavelmente, a um debate sobre o apoio ao governo, aprofundando o racha da legenda.
Segundo interlocutores de Aécio, ele aceitou se afastar, mas quer influenciar na escolha do seu sucessor. Eles negam, no entanto, que o senador esteja apoiando o nome do vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PB), seu antigo aliado, porque ele é um dos que mais defendem a saída do governo Michel Temer.
Passada a rejeição do recurso contra o arquivamento do pedido de cassação de Aécio no Conselho de Ética, o senador mineiro foi aconselhado a “mergulhar”, cuidar de sua defesa e deixar o PSDB seguir em frente na tentativa de recuperar o estrago de imagem causado pela delação de Joesley Batista. Aécio caiu em desgraça após ser acusado de pedir recursos ao empresário, e a Polícia Federal filmar seu primo Frederico (Fred) Pacheco de Medeiros recebendo R$ 2 milhões repassados por Joesley. O senador alegou que se tratava de uma transação privada para pagar advogados.
A delação resultou no afastamento de Aécio do mandato por 46 dias por determinação do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e nas prisões da irmã, Andrea Neves, e de Fred Pacheco. O STF recusou o pedido de prisão de Aécio e seu mandato foi restabelecido em liminar do ministro Marco Aurélio Mello. Andrea e Fred cumprem prisão domiciliar.
Antes do recesso, diante da dificuldade de trocar o comando das executivas municipais e estaduais, além da nacional, o entendimento era que o Diretório Nacional poderia deliberar sobre o sucessor de Aécio, homologando Tasso Jereissati como o presidente de fato até maio do ano que vem, pelo menos. Antes do julgamento do pedido de cassação de Aécio, ele e seu grupo político pressionaram para adiar a decisão sobre seu afastamento da presidência do partido.
Um dos defensores do desembarque do PSDB do governo, Tasso vem se mostrando incomodado com o cargo de interino. Mas, desde o início, embora cobrasse uma definição de Aécio, sempre deixou claro que qualquer iniciativa nesse sentido deveria partir do presidente afastado: renúncia, convocação das instâncias partidárias ou mesmo a volta ao cargo.
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