Bolsonaro é contra isolamento, máscara e vacina, mas oferece o que contra a covid-19?
O
presidente da Câmara, Arthur Lira, interditou
definitivamente a palavra “impeachment” e o do Senado, Rodrigo Pacheco, engavetou
indefinidamente a CPI da
pandemia. O presidente Jair Bolsonaro, porém, precisa
responder uma pergunta que o Brasil faz e a história ratificará: qual é a
política dele para enfrentar a pandemia? Ninguém sabe, ninguém viu.
Sua
ojeriza à ciência, à medicina, à pesquisa e às estatísticas é chocante e seu
comportamento e suas declarações raiam o patológico. Ele é contra todas as
medidas internacionalmente consensuais na pandemia, mas não contrapõe nada, não
apresenta uma única proposta no lugar.
Quase
um ano, 255 mil mortos e 10,5 milhões de contaminados depois, o presidente
ainda trata a Covid-19 como “gripezinha”, anunciou que a doença estava no
“finalzinho” exatamente quando ela disparava de novo e é capaz de levar a sério
quem chama de “fraudemia” uma pandemia que matou 2,5 milhões de pessoas no
planeta.
Todos
os países sérios priorizaram o isolamento social, mas Bolsonaro não seguiu
estudos do Exército e da Abin e não liderou o Brasil nessa direção. Ao
contrário, trabalhou contra, promoveu aglomerações até diante do QG do Exército
e ameaça os governadores: quem decretar lockdown que pague o auxílio
emergencial. Sem vacinas suficientes, que alternativa eles têm? Lavar as mãos
para as mortes?
No domingo, em pleno caos no País, ele postou imagens de um protesto contra medidas restritivas no DF, com 97% das UTIs lotadas. Assim como os bolsonaristas comemoraram o recuo das restrições no Amazonas, que deu no que deu, os filhos do presidente defendem o recuo do DF, que vai dar no mesmo.
E
quem explica a guerra de Bolsonaro – ou dos Bolsonaros – até contra máscara?
Ele continua abraçando incautos ou áulicos sem ela, no Planalto e em campanha
pelo interior, implicou com Roberto Castello Branco, da Petrobrás, porque ele
usava e quem vai ao Planalto é constrangido a tirar a sua. Por que isso
incomoda tanto Bolsonaro, como as cadeirinhas nos carros? Mistério!
Depois
de o presidente lançar fakenews contra máscaras, o ex-ministro Luiz Henrique
Mandetta me enviou uma lista de links, em português e inglês, sobre a
importância dessa proteção para conter o vírus e as mortes. E, no domingo, nada
mais nada menos que 45 entidades médicas alertaram que desacreditar as máscaras
só “agrava a situação do País”. Logo, o presidente agrava a tragédia
brasileira.
Como
esquecer o empenho obstinado de Bolsonaro contra as vacinas? Ele desautorizou o
general Eduardo Pazuello ao cancelar a compra “dessa vacina chinesa do Dória”
e, quando um voluntário dos testes se suicidou, acusou irresponsavelmente a
vacina por “morte, invalidez e anomalia”. Mas o que seria do Brasil sem a
Coronavac?
O
governo pendurou-se num único fornecedor, a Oxford-Astrazeneca, desdenhou da
Pfizer, ignorou a Sputnik, a Moderna, a Janssen... Segundo o presidente, quem
quer vender que se mexa e, para mostrar que não é “maricas” e é “imbroxável”,
anunciou: “Não vou tomar vacina e ponto final”. Incrível!
Logo,
o Brasil sabe que Bolsonaro é contra isolamento, máscara e vacina. O que o
Brasil não sabe é como, então, o presidente pretende combater a Covid-19. Essa
resposta é fundamental para os brasileiros saberem que saída genial e original
ele tem para salvar vidas, o sistema de saúde, a economia e os empregos.
Andando de jet-ski?
É isso que 19 governadores, 45 entidades médicas, epidemiologistas e cidadãos querem, e precisam, saber. Aliás, um registro: na foto da reunião de domingo no Alvorada, o capitão e seus generais estão sem, mas Paulo Guedes, Pacheco e Lira estão de máscara. Que recado eles quiseram passar? Que, diferentemente do presidente, são a favor da vida?
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