- Folha de S. Paulo
Caminho longo e pedregoso é a principal
aposta de adversários de Bolsonaro
Binyamin Netanyahu alcançou uma façanha em
Israel. O desgaste do primeiro-ministro fez com que partidos da esquerda à
ultradireita fechassem um
acordo para tirá-lo do poder. Na mesma aliança, estão israelenses que
defendem a anexação da Cisjordânia e líderes árabes que fazem campanha por um
Estado palestino independente.
A política é um território que estimula a
formação de maiorias por rejeição. O parlamentarismo israelense mostra que, em
certos casos, elites partidárias aceitam dividir o poder e deixar divergências
centrais de lado com o objetivo de se livrar de um adversário comum. No
presidencialismo brasileiro, o caminho é mais longo e pedregoso.
Grupos que trabalham para derrotar Jair Bolsonaro na próxima eleição procuram costurar acordos nas cúpulas partidárias, mas também precisam enviar sinais ao público. Como a corrida presidencial é decidida no voto, um candidato depende mais de movimentos de expansão do eleitorado do que de alianças entre os chefes de legenda.
O bloco que reivindica o rótulo do centro
sabe bem disso. Esses candidatos trabalham para formar uma aliança que pode
unir um punhado de partidos, mas continuam sem votos suficientes para fazer
frente aos principais concorrentes da disputa.
Ciro Gomes quer emergir nesse campo por uma
coalizão entre o PDT e partidos de direita, unidos para bater Bolsonaro. A
aliança contra o presidente pode aparecer, mas será pouco. Para sair do chão, o
ex-ministro precisará de um programa capaz de atrair
o eleitor da direita não bolsonarista e conquistar terreno na esquerda não
petista.
Mesmo o encontro entre Lula (PT) e Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) tem valor mais simbólico que direto. A fotografia manda
ao eleitor tucano a mensagem de que o petista pode ser uma opção
razoável para bater Bolsonaro, mas a escolha ainda esbarra num antipetismo
persistente naquele segmento. Os candidatos ainda terão trabalho para
consolidar essa maioria por rejeição.
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