segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Jeffrey Sachs* - A guerra econômica entre EUA e China

Valor Econômico

Tentativa americana de conter a China é equivocada e está fadada a fracassar

A economia da China está desacelerando. As previsões atuais colocam o crescimento do PIB chinês em menos de 5% em 2023, abaixo das previsões feitas no ano passado e bem abaixo das altas taxas de crescimento apresentadas pela China até o fim dos anos 2010. A imprensa ocidental está repleta de supostos erros da China: uma crise financeira no mercado imobiliário, o peso excessivo das dívidas e outros males. No entanto, grande parte da desaceleração é resultado de medidas dos Estados Unidos que visam retardar o crescimento da China. Essas políticas americanas violam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e são um perigo para a prosperidade global. Elas deveriam ser paradas.

As políticas anti-China resultam de uma cartilha familiar na forma de fazer política dos EUA. O objetivo é evitar a competição econômica e tecnológica de um grande adversário. A primeira e mais óbvia aplicação dessa cartilha foi o bloqueio tecnológico que os EUA impuseram à União Soviética durante a Guerra Fria. A União Soviética foi o primeiro inimigo declarado da América e a política dos EUA visava bloquear o acesso soviético a tecnologias avançadas.

A segunda aplicação da cartilha é menos óbvia e geralmente ignorada mesmo por observadores experientes. No fim dos anos 80 e começo dos 90, os EUA tentaram retardar o crescimento econômico do Japão. Pode parecer surpreendente, já que o Japão é um aliado dos EUA. O Japão estava se tornando “bem-sucedido demais”, à medida que suas empresas superavam as americanas em setores importantes como os de semicondutores, produtos eletrônicos de consumo e automóveis. O sucesso do Japão foi aclamado em best-sellers como “Japan as Number One”, de meu falecido e grande colega, o professor de Harvard Ezra Vogel.

No fim da década de 80, os políticos americanos limitaram os mercados dos EUA para as exportações do Japão (através dos chamados limites “voluntários” firmados com o Japão), e pressionaram o Japão para sobrevalorizar sua moeda. O iene valorizou de cerca de 240 por dólar em 1985, para 128 por dólar em 1988 e depois 94 ienes por dólar em 1995, eliminando os produtos japoneses do mercado americano. O Japão entrou em crise com o colapso do crescimento das exportações. Entre 1980 e 1985, as exportações do Japão cresceram 7,9% ao ano; entre 1985 e 1990, o crescimento caiu para 3,5% ao ano; e entre 1990 e 1995, para 3,3% ao ano. Com a desaceleração acentuada, muitas empresas japonesas entraram em dificuldades, levando a uma crise financeira no começo dos anos 90.

Em meados da década de 90, perguntei a uma das mais poderosas autoridades do governo japonês por que o Japão não desvalorizava sua moeda para restabelecer o crescimento. Sua resposta foi que os EUA não permitiriam.

As políticas anti-China resultam de uma cartilha familiar na forma de fazer política dos EUA. O objetivo é evitar a competição econômica e tecnológica de um grande adversário. Mas a China encontrará parceiros na economia mundial para apoiar uma contínua expansão

Em 2015, os formuladores de políticas dos EUA passaram a ver a China como uma ameaça, em vez de um parceiro comercial. E os estrategistas ficaram alarmados quando a China anunciou em 2015 uma política “Made in China 2025” para promover o avanço do país para a vanguarda da robótica, da Tecnologia da Informação (TI), das energias renováveis e outras tecnologias avançadas.

Na mesma época, a China anunciou sua Iniciativa do Cinturão e da Rota para ajudar a construir uma infraestrutura moderna através da Ásia, África e outras regiões, grande parte com financiamentos, empresas e tecnologias chinesas.

Os EUA tiraram o pó da velha cartilha para retardar o crescimento acelerado da China. O presidente Barack Obama propôs primeiro criar um grupo comercial com países asiáticos que excluiria a China, mas Donald Trump foi além, prometendo um protecionismo total contra a China. Trump impôs tarifas unilaterais à China que claramente violaram as regras da OMC. Para assegurar que a OMC não decidiria contra suas medidas, os EUA desativaram o tribunal de apelações da OMC bloqueando novas nomeações. O governo Trump também bloqueou produtos de importantes companhias chinesas de tecnologia como ZTE e Huawei e conclamou os aliados dos EUA a fazerem o mesmo.

Quando o presidente Joe Biden assumiu, muitos (inclusive eu) esperavam que Biden reverteria ou aliviaria as políticas anti-China de Trump. Mas aconteceu o contrário, Biden dobrou a aposta, mantendo as tarifas de Trump sobre a China e assinando novas ordens para limitar o acesso da China a tecnologias para a produção de semicondutores avançados e também os investimentos dos EUA. As empresas americanas foram informalmente aconselhadas a transferir suas cadeias de suprimentos da China para outros países, um processo denominado “friend-shoring”, em oposição a “offshoring”. Os EUA ignoraram completamente os princípios e procedimentos da OMC.

Os EUA negam veementemente que estejam em uma guerra econômica com a China, mas como diz o ditado, “se parece um pato, nada como pato e grasna como um pato, provavelmente é um pato”. Os EUA estão usando uma cartilha familiar e os políticos de Washington estão invocando uma retórica marcial, chamando a China de um inimigo que precisa ser contido ou derrotado.

Os resultados são visíveis na reversão das exportações da China para os EUA. Em janeiro de 2017, quando Trump assumiu a presidência, a China respondeu por 22% das importações de mercadorias dos EUA. Quando Biden assumiu, em janeiro de 2021, a parcela da China nas importações dos EUA havia caído para 19%. Em junho de 2023, havia caído para 13%. Entre junho de 2022 e junho de 2023, as importações americanas da China caíram espantosos 29%.

É claro que a dinâmica da economia da China é complexa e dificilmente ditada apenas pelo comércio com os EUA. Talvez as exportações chinesas para os EUA se recuperem, mas parece improvável que Biden venha a aliviar as barreiras comerciais com a China antes das eleições de 2024.

Ao contrário do Japão nos anos 90, que dependiam dos EUA para a sua segurança e assim seguia as exigências americanas, a China tem mais espaço de manobra. Mais importante, acredito eu, é que a China pode aumentar substancialmente suas exportações para o resto da Ásia, África e América Latina, por meio de políticas como a expansão da Iniciativa do Cinturão e da Rota. Minha avaliação é que a tentativa dos EUA de conter a China não é apenas equivocada, como está fadada a fracassar na prática. A China encontrará parceiros em toda a economia mundial para apoiar uma contínua expansão do comércio e do avanço tecnológico. (Tradução de Mário Zamarian)

*Jeffrey D. Sachs é diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável, da Columbia University e presidente da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

 

Um comentário:

EdsonLuiz disse...

É muito esquisito um norte-americano fazer lobby em favor da China, não é?

O lobista Jeffrey Sachs coloca neste lobby questões comerciais e tecnológicas de interesse da China, sem esquentar nenhuma fumaça sobre como a China nos últimos anos tem usado o gigante favorecimento e desprendimento que nas últimas décadas os Estados Unidos tem lhe dado exatamente em tecnologia e comércio para afrontar quem lhe estendeu a mão e, com a ajuda gigante a China saiu do buraco e conseguiu retirar 850 milhões de chinesinhos da completa miséria a que estiveran condenados enquanto a amiguinha da China esteve sendo a cavernosa ditadura da União Soviética de Stalin e o deus da China não era nada diferente do "Comunista-Fascista" Stalin:: o deus chinês nos tempos de miséria plena e hiper-comunismo era Mao Tsé-tung.

Por estas últimas décadas os Estados Unidos esteve sendo o amigão da China, que em troca nos últimos anos lhe tem afrontado e criado todas as ameaças e apoiado outras nestes anos em que o truculento Xi Jiping assumiu.

AGORA
■Agora, olhemos o quadro::
▪A China não é mais governada por gente bem mais razoável, embora ditadores, como Deng Xiaoping, Jiang Zemim e Hu Jitao ou pares assim. A China agora tem de volta um Mao Tsé-tung talvez mais macabro de volta, que é Xi Jiping.

Pronto né? É desnecessário continuar a desenhar qual é o quadro!

O estraçalhamento da Ucrânia e de seu povo...

... (mais de mil unidades hospitalares explodidas por mísseis, mais de 1200 escolas explodidas por mísseis, centenas de creches explodidas por mísseis... Vou parar aqui para não continuar até os bracinhos de meninas ucranianas arrancados por bombas, mas é macabro ou não é?)...

Pois penso que este pavor barulhento (ensurdecedor) da ditadura da Rússia e de seu ditador Vladimir Putin apavorando as noites e os dias do povo da Ucrânia, que estava quieto e tentando se recuperar das décadas em que esteve submetido à ditadura soviética ao mesmo tempo que tentava se proteger e ganhar proteção contra o novo Stalin da Rússia, o Vladimir "Stalin" Putin e que é um pavor ameaçador e barulhento contra todos os povos livres, não ocorreria se não houvesse concordância do novo Mao Tsé-tung da China, o Xi "Tsé-tung" Jiping.

Seria bom que o autor do que li acima, o lobista pró-China Jeffrey Sachs, fizesse uma listinha...
--Deng Xiaoping
--Ziang Zemim
--Hu Jital

E pensasse::
"Não é para estes que eu estou fazendo um apelativo lobby ; eu estou fazendo lobby para... Xi Jiping, o que é o mesmo que fazer lobby para... Mao Tsé-tung".

E refletisse::
▪"E Taywan?"..."E a Ucrânia?"..."E aquela região toda da Ásia e seu povo?"..."E a já esmagada África?"... "E o mundo?".

A China está ameaçando todos os povos daquele mar:: tem o nome de Mar da China e a China apavora todos, até o Vietnam, se dyzendo dona. O que será a China avançando sobre o mundo?

Fazer lobby para uma ditadura já seria o ó do borogodó, mas fazer lobby para Mao Tsé-tung e Stalin de uma vez só, é o ó do borogodó do borogodó e do borogodó!

Fazer lobby para Xijiping e para Putin é a mesma coisa que fazer lobby para os cavernosos Stalin e Nao Tsé-tung!

E aqui no Brasil tem gente que apoia esta ameaça, até partidos políticos!