sábado, 19 de junho de 2010

Fissuras na base de Dilma

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Ivan Iunes

Os cinco partidos oficialmente coligados a Dilma Rousseff na aliança nacional (PDT, PCdoB, PSB, PMDB e PR) garantem à presidenciável petista uma fatia considerável do horário eleitoral, mas ainda patinam pela coesão nos estados. Os aliados da ex-ministra da Casa Civil já admitem que dificilmente conseguirão evitar fissuras estaduais. Em pelo menos 10 situações, partidos fechados com Dilma em plano nacional já anunciaram que, na esfera local, apoiarão José Serra (PSDB) ou estarão em palanques capitaneados pelo candidato. Nesses casos, a maior incógnita será a abrangência do apoio ao tucano. Em alguns casos, integrantes dos partidos aliados aos petistas subirão nos palanques do PSDB. Em outros, as direções nacionais das legendas ainda pressionam para que o apoio seja apenas informal.

As fissuras na aliança têm uma importância dentro da chapa nacional petista. Quanto maior o peso do partido, maior a tolerância com possíveis apoios regionais a Serra. Dono de uma fatia de seis minutos diários no horário eleitoral gratuito, o PMDB é o aliado que apresenta o maior número de dissidentes: seis. O partido deve apoiar o candidato tucano na disputa pela Presidência em Santa Catarina, em Pernambuco, no Acre, no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. No Rio Grande do Sul, a legenda adotará a neutralidade. “Essas dissidências são questões locais de incompatibilidade entre PMDB e PT. Aonde existem brigas crônicas entre os dois partidos, não pudemos interferir”, admite o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN).

DEM e PSDB

Embora já tenha jogado a toalha em cinco estados, a direção nacional do PMDB garante que vai reverter a fissura em Santa Catarina, nem que seja necessária uma intervenção no diretório local. Os catarinenses peemedebistas defendiam a candidatura de Eduardo Moreira ao governo estadual. O acordo, que incluía o apoio local a Dilma Rousseff, foi traído no início da semana, com o anúncio da aliança de Moreira e do ex-governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) com o DEM e com o PSDB. O enlace inclui o reforço ao palanque de Serra no estado. “O que houve em Santa Catarina foi uma farsa. Lançaram um candidato (Moreira) só para ganhar tempo e depois fechar com o DEM e com o PSDB. Enganaram toda a direção nacional do PMDB e nós iremos intervir no estado, para garantir o apoio do partido local a Dilma”, afirma Alves.

Caso a caso
Confira os focos das dissidências entre aliados de Dilma Rousseff

PMDB
Acre
O partido chegou a cogitar lançar um nome próprio, mas decidiu por Tião Bocalom (PSDB). Por conta das disputas regionais, com o PT dos irmãos Jorge e Tião Viana, o apoio a Dilma Rousseff foi descartado desde o princípio.

Mato Grosso do Sul
A rixa entre o candidato à reeleição, André Puccinelli (PMDB), e o ex-governador Zeca do PT, que tentará voltar ao poder, jogou os peemedebistas no colo de Serra.

Pernambuco
Inimigo dos petistas, Jarbas Vasconcellos (PMDB) chegou a ser cotado para vice de José Serra. Acabou candidato a governador para garantir o palanque do amigo no estado.

Rio Grande do Sul
O partido está rachado. O senador Pedro Simon e o candidato a governador José Fogaça (PMDB) são simpáticos a Dilma Rousseff, mas o deputado federal Osmar Terra e boa parte da base no estado não toleram o PT. O resultado: anunciaram uma posição neutra.

Santa Catarina
O apoio declarado dos peemedebistas a Raimundo Colombo (DEM) provocou a ira da cúpula nacional. O presidente da sigla e vice na chapa de Dilma Rousseff, Michel Temer, já adiantou que a legenda vai intervir no estado, para garantir apoio à petista.

São Paulo
Outro estado em que o partido, sob o comando local de Orestes Quécia, recusa qualquer aliança com o PT. Sem um candidato natural, decidiu apoiar o candidato tucano ao governo, Geraldo Alckmin (PSDB). Por ironia, é o estado do vice da chapa de Dilma, Michel Temer.

PR
Minas Gerais
Os republicanos decidiram dividir o apoio no estado. A bancada de deputados federais e estaduais vai se coligar com o PSDB, do candidato ao governo, Antônio Anastasia, e apoiar José Serra à Presidência. Pré-candidato ao Senado, Clésio Andrade reforçará, informalmente, o palanque de Dilma e do candidato ao governo Hélio Costa (PMDB).

Paraná
O estado concentra o maior número de dissidências na aliança nacional de Dilma Rousseff. Entre os republicanos paranaenses, o apoio ao candidato a governador Beto Richa (PSDB) era uma tendência natural. Por extensão, o apoio a José Serra também está confirmado.

PSB

Alagoas
Os militantes são simpáticos à candidatura de Teotônio Vilela Filho (PSDB) ao governo. Ainda não anunciaram apoio a José Serra, mas a decisão é provável.
Paraná
Assim como o PR, o PSB paranaense é ligado ao ex-prefeito de Curitiba e candidato a governador Beto Richa (PSDB). Oficialmente não apoiará José Serra, mas o reforço ao palanque de Dilma está descartado.

PDT
Paraná
Os pedetistas ainda não decidiram os rumos. Tudo depende do caminho do senador Osmar Dias. Se for candidato a reeleição ao Senado na chapa de Beto Richa (PSDB), jogará o partido no palanque de Serra. Caso decida sair candidato ao governo, Dias tem a garantia de que será o aliado preferencial de Dilma no estado.
Paraná é o caso mais complicado

O caso mais emblemático de dissidências regionais na aliança nacional de Dilma é o Paraná. O candidato tucano ao governo paranaense, Beto Richa, conseguiu atrair o apoio de dois aliados petistas, PR e PSB. Para colocar a presidenciável petista em uma sinuca de bico ainda mais complexa, Richa trabalha com todas as fichas para atrair Osmar Dias (PDT) para a aliança, como candidato a reeleição no Senado. “A orientação do partido é para que as decisões regionais observem a aliança nacional, com apoio à candidatura de Dilma Rousseff. O que existe são indefinições às candidaturas majoritárias do PDT no Paraná e no Maranhão, onde o nosso candidato Jackson Lago tem o apoio do PSDB”, revela o deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ).
Para evitar o reforço de Lago à candidatura de Serra, o partido trabalha para que ele una forças ao PCdoB, que lançou Flávio Dino ao governo do Maranhão. Além da dissidência no Paraná, PSB e PR dão como certas as rupturas em Alagoas e Minas Gerais, respectivamente. Os socialistas fecharam com Teotônio Vilella no estado nordestino e os republicanos mineiros anunciaram apoio a Antônio Anastasia (PSDB). Para não desagradar aos petistas, integrantes do PR em Minas Gerais anunciaram que vão se coligar aos tucanos na eleição para deputado federal e estadual. Pré-candidato ao Senado, Clésio Andrade apoiaria Dilma informalmente.

A divisão de apoio em Minas Gerais faz com que o PR adote a estratégia de não desagradar a tucanos e a petistas. Insatisfeita com a manobra, a direção nacional do PT ainda pressiona o partido por apoio. “A prioridade na composição de alianças regionais foram as eleições proporcionais. O partido precisa de uma bancada expressiva de deputados federais para ter maior acesso a recursos do fundo partidário e horário de televisão. Esperamos eleger pelo menos 40 parlamentares”, explica o deputado federal Lincoln Portela (PR-MG). Entre os aliados de Dilma, o único a não apoiar José Serra em nenhum estado será o PCdoB. Por ironia, candidato solitário a governador do partido, Dino perdeu o apoio dos petistas no Maranhão.
“Independentemente da decisão particular que envolveu a retirada do apoio a Flávio Dino, contamos com a maioria da base do PT no Maranhão”, pondera a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG). (II)

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