Ex-presidente faz declaração ao lado de Dilma, que para concretizar plano do padrinho político tem de se eleger e ainda emplacar seu sucessor.
Pedro Venceslau, Gustavo Porto
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem uma cerimônia em São Bernardo do Campo, na região metropolitana, onde recebeu seu 26.° título de doutor honoris causa, para criticar a gestão de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, e sugerir que o PT permanecerá no governo pelo menos até 2022.
"Eu já estou pensando no Brasil de 2022, quando agente completar 200 anos de Independência e fizer uma comparação do que era esse Brasil. Aí vai ser duro, Dilminha, a gente falar do Brasil que deixamos em 2022 e o que pegamos em 2002", disse. Se vencer a eleição presidencial do ano que vem, Dilma terminará seu segundo mandato em 2018 e não poderá se reeleger.
O discurso de Lula foi proferido na Universidade Federal do ABC, que concedeu ao ex-presidente o primeiro título de honoris causa da instituição. A presidente Dilma Rousseff veio a São Paulo especialmente para prestigiar o ex-presidente, mas não discursou. Também estavam presentes os ministros Aloizio Mercadante, da Educação, e Miriam Belchior, do Planejamento, além de deputados federais e prefeitos de municípios da região. A universidade foi criada em 2005, quando o Congresso Nacional aprovou um Projeto de Lei enviado pelo executivo.
"A história da Universidade Federal do ABC é um exemplo de luta política vitoriosa", afirmou Lula. O ex-presidente disse que, em 2000, o governo federal (na gestão de Fernando Henrique Cardoso) foi procurado com a proposta de criação da universidade, mas a rejeitou. "Era um tempo em que o governo tratava a universidade pública como se fosse um estorvo. Era um gasto inconveniente no contexto de redução do Estado", afirmou.
Alvo. Os governos tucanos de São Paulo também foram alvo do discurso. "Três governos estaduais se sucederam sem atender à reivindicação (de criar a UFABC), mesmo com a aprovação na Assembleia." Ao comentar as obras do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, o ex-presidente voltou a alfinetar o PSDB. "Enquanto o programa habitacional de São Paulo constrói 20 mil casas por ano no Estado, o programa Minha Casa, Minha Vida entrega 90 mil. É uma diferença significativa para quem não tem casa".
O reitor da UFABC, Helio Waldman, também criticou de forma velado os tucanos em sua fala. "Tive um sentimento de consternação e choque quando o adversário de Lula (na eleição de 2006), em sua réplica em um debate, referiu-se à UFABC, para dizer que era apenas um projeto que não ia sair do papel", declarou o reitor.
Lula também criticou, sem citar nomes, a gestão de Fernando Henrique Cardoso por ter tirado do governo federal a responsabilidade pelo ensino técnico, passando-a aos Estados. "Houve um dia um governo que fez uma lei tirando a responsabilidade do governo federal pelo ensino técnico. Nós revogamos a lei, que é de 1998 e voltamos a fazer escola técnica", disse.
Ainda segundo o ex-presidente, o governo anterior ao dele não investiu em universidades públicas "por falta de visão e sensibilidade".
Imprensa. Ao se referir aos sucessos do governo Dilma, o ex-presidente também criticou a imprensa, um dos seus alvos mais frequentes. "Lendo a imprensa, a gente pensa que o Brasil acabou", disse.
Antes de encerrar o discurso, Lula repetiu o bordão que costuma usar e afirmou que "um complexo de vira-lata" permeou o Brasil no século XX. "Não sei porque meus adversários ficam tão incomodados quando digo "nunca antes na história desse país". É só provarem que estamos errados", concluiu.
A visita de Lula Universidade Federal do ABC faz parte de um giro político pela região que foi o berço político do PT. Hoje, o ex-presidente vai a Diadema, também na região metropolitana, participar de um ato na sede regional do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde inaugura a Escola de Formação Integral "Dona Lindu", homenagem à mãe do ex-presidente.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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