Criticado por rebelados, vice de Dilma afirma em reunião que vai fazer 'o que for bom para o partido', incluindo um possível rompimento com o PT
João Domingos
BRASÍLIA - Vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer disse ontem que acompanhará a decisão do partido se ela for no sentido de não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff. A afirmação foi feita a parlamentares em seu gabinete. Temer vem sendo cobrado dos dois lados. A presidente pede que ele resolva a crise no Congresso. Já a bancada diz que ele se preocupa mais com o próprio cargo do que com o partido.
"O que o partido resolver, eu estou junto. Faço o que for bom para o partido. Se querem fazer uma convenção que declare a independência do PMDB, que saia do governo, que façam. É preciso que saibam que essa convenção não será feita para mim, para me manter na vice", disse Temer, de acordo com relato de deputados que estiveram com ele ontem.
"Fui deputado, líder, presidente da Câmara e agora, vice-presidente, por decisão do partido. Não preciso me apegar a nada. Tive sucesso na vida. Se escrever um livro sobre Direito Constitucional, ele vende 500 mil exemplares", desabafou Temer, ainda segundo relatos de parlamentares presentes.
Ainda de acordo com os colegas de Temer, ele estava tranquilo, embora insistisse que sempre procurou agir em nome do partido. Afirmou que, quando defende a aliança com o PT, está sempre pensando que o PMDB também terá ganhos. "A coligação não foi boa só para o PT. Foi boa também para o PMDB", disse Temer, também segundo os relatos dos seus correligionários.
As afirmações nos bastidores de Temer ocorrem dois dias depois de ele falar, em público, que a aliança para a reeleição de Dilma estava "garantidíssima".
Anteontem pela manhã, após ouvir da presidente uma cobrança para que debelasse a rebelião no PMDB, Temer pediu ao líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que desse um freio na briga com o governo. Não adiantou. À noite, Cunha comandou o batalhão de dissidentes que derrotou o Planalto e criou uma comissão externa para investigar denúncias de pagamentos de propina a dirigentes da Petrobrás por uma empresa da Holanda.
Orientação. Ainda conforme o relato de deputados que estiveram com Temer, ele não reagiu quando foi indagado se Dilma enfrentava o PMDB orientada pelo marqueteiro João Santana. Entre outros, estiveram com Temer no dia de ontem os deputados Leandro Vilela, Sandro Mabel e Pedro Chaves, estes três do PMDB de Goiás, e Elizeu Padilha (RS).
Na terça-feira, no momento em que foi divulgado o resultado da derrota do governo pelo PMDB da Câmara, Temer estava reunido com o presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), o presidente do PT, Rui Falcão, e o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil). Eles faziam negociações preliminares para apresentar hoje à presidente, em reunião sobre os acordos regionais entre PT e PMDB.
Dilma já fez uma oferta de apoio do PT a candidatos do PMDB em Estados como Paraíba, Tocantins, Maranhão, Alagoas e Rondônia.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário