• Considerado um dos mais respeitados estudiosos de doenças tropicais, era diretor do Ipepatro e vice-diretor da Fiocruz Rondônia
O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Morreu nesta quarta-feira, 24, por falência múltipla dos órgãos o pesquisador Luiz Hildebrando Pereira da Silva, de 86 anos, considerado um dos mais respeitados estudiosos de doenças tropicais. Hildebrando ocupava cargo de diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia (Ipepatro) e vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico, Inovação e Serviço de Referência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rondônia.
Segundo a Fiocruz Rondônia, que em seu site "lamenta profundamente" a morte do pesquisador e manifesta solidariedade aos colegas e à família, Hildebrando estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, onde era tratado, desde o dia 8 de setembro, de uma pneumonia.
Hildebrando era também pesquisador honorário da Fiocruz, coordenador da pós-graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia (Unir), conselheiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Superior do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Além disso, era membro do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Pesquisa Translacional em Saúde e Ambiente (InPeTAm) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Neste ano, o pesquisador foi homenageado pelo governo de Rondônia com a comenda Ordem do Mérito Marechal Rondon, além de ser um dos vencedores do prêmio da Fundação Conrado Wessel, na categoria de Ciência, um dos mais tradicionais da área no Brasil.
Biografia. Hildebrando é considerado um dos maiores pesquisadores mundiais da malária. Formado em Medicina em 1953 pela Universidade de São Paulo (USP), viajou com Samuel Pessoa para a Paraíba em 1954 onde participou da organização do Laboratório de Parasitologia e do ensino da disciplina na nova Faculdade de Medicina de João Pessoa.
Desenvolveu entre 1954 e 1956, com Pessoa, pesquisas sobre a epidemiologia da esquistossomose e da doença de Chagas.
Convidado em 1956 para assistente de Parasitologia na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), voltou a São Paulo e se integrou à equipe que trabalhava com Pessoa. Desenvolveu, entre 1956 e 1960, em colaboração com Ferreira Fernandes, pesquisas em quimioterapia da tripanosomiase americana utilizando análogos de purina para inibir a biossíntese de salvação de purinas do parasita.
Depois de 1960, quando obteve a livre docência em Parasitologia, viajou como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para Bruxelas, onde trabalhou com René Thomas em genética molecular do bacteriófago lambda.
Em 1962 e 1963, trabalhou no Instituto Pasteur com François Jacob, que tinha publicado com Jacques Monod o modelo de regulação da expressão gênica em procariontes. O feito que lhes valeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1965.
Hildebrando voltou ao Brasil em 1963, quando organizou com Erney Camargo o laboratório de genética de protozoários na FMUSP e o primeiro seminário paulista sobre Biologia Molecular.
Militante de esquerda, o pesquisador foi preso após o golpe militar de 1º de abril de 1964 e depois processado e demitido da USP pelo Ato Institucional nº 1. Ele voltou a Paris e ao Instituto Pasteur, onde trabalhou com Harvey Eisen. Os dois descreveram o gene CRO, responsável pela regulação da expressão do repressor do fago lambda.
Com retorno previsto ao Brasil, Hildebrando organizou um curso sobre genética molecular de bacteriófagos no Departamento de Bioquímica da USP em 1967 e, em 1968, aceitou a posição de professor no Departamento de Genética da USP de Ribeirão Preto.
No entanto, em 1969, foi novamente demitido pelo Ato Institucional nº 5 e voltou a Paris, onde foi nomeado chefe do Laboratório de Diferenciação celular.
Entre 1977 e 1996, trabalhou em malária, reunindo uma equipe de colaboradores como Jurg Gysin, Arthur Scherf, Odile Mercereau, Gordon Langsley, Pierre Druilhe, François Trape, Christophe Rgierm entre outros, que desenvolveram importantes estudos sobre a imunidade protetora de malária falciparum.
Hildebrando organizou a unidade de produção de primatas modelo para malária experimental em Cayenne e a unidade de terreno em Diemo, no Senegal, para estudo de malária humana.
De volta ao Brasil, após sua aposentadoria no Pasteur, integrou com Mauro Tada o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia e organizou depois o Ipepatro Rondônia, que reúne atualmente alguns especialistas de renome e várias dezenas de jovens pesquisadores formados nos programas de pós-graduação da Unir.
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