quarta-feira, 3 de abril de 2024

Fernando Exman - Luz que entra pela fresta da janela partidária

Valor Econômico

O que está em jogo, além do pleito municipal deste ano, é o tabuleiro de 2026

Governo, oposição e Centrão intensificam as articulações nesta reta final da janela partidária. A fresta se fecha na sexta-feira (5), e dela surgirá uma nova correlação de forças políticas. O que está em jogo, além do pleito municipal deste ano, é o tabuleiro de 2026.

Os parlamentares foram para seus redutos eleitorais com um novo tipo de arma a tiracolo: o poder de barganha que ganharam com a crescente impositividade das emendas ao Orçamento. Nas contas de um especialista, dependendo do Estado do parlamentar, um deputado federal pode ter neste ano de R$ 50 milhões a R$ 68 milhões para destinar a projetos por meio de emendas individuais e de bancada. É muita coisa. E isso sem falar nas emendas de comissão, cuja liberação depende de um acordo com o governo ou a derrubada do veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Orçamento.

Mas, além das articulações no varejo, existem os acertos mais amplos. E estes dependem das estratégias dos partidos.

A do PL, por exemplo, é clara. Mesmo inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro desempenha papel fundamental na tática do partido.

Nesta semana, viajou a Balneário Camboriú, Santa Catarina, e depois para a cidade mineira de Uberaba. Na semana passada, esteve em São Paulo. Participou de um evento de filiação de parlamentares no PL e de uma homenagem à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, no Theatro Municipal.

Bolsonaro reuniu-se com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), cuja candidatura está atraindo vereadores de diversos partidos. Michelle, por sua vez, também tem entrado no esforço e recentemente esteve na Bahia.

A movimentação tende a continuar nos próximos dias. Pelas regras eleitorais, a janela partidária é considerada uma “justa causa” para a desfiliação partidária dos detentores de cargos eletivos em fim de mandato. Neste ano, portanto, vale só para vereadores. Já o prazo de filiação dos demais potenciais pré-candidatos acaba sábado.

No caso do PL, no entanto, um outro argumento tem sido utilizado: a possibilidade de o governador Tarcísio de Freitas sair do Republicanos e transferir-se para o partido com o objetivo de disputar o pleito de 2026 por uma nova legenda. Seja para permanecer mais um mandato administrando o maior Estado do país ou a fim de concorrer à Presidência da República pela sigla de Bolsonaro.

Para adversários do PL, à esquerda e ao centro, mesmo que a mudança de sigla não se concretize, o chamariz tem atraído algumas lideranças paulistas. A dúvida é se essa mobilização se resumirá a vereadores e militantes mais radicais.

Na visão de dirigentes de partidos do Centrão, não seria negativo, do ponto de vista estratégico, que o PL se tornasse o polo mais radical do espectro político e outros partidos passassem a abrigar os candidatos conservadores considerados mais pragmáticos. Existe a expectativa, inclusive, que entre no cálculo dos políticos nessa janela partidária a perspectiva de o PL acabar punido no julgamento dos processos decorrentes dos atos antidemocráticos que culminaram com os ataques do dia 8 de janeiro.

Os partidos de centro pretendem continuar participando do governo federal e, ainda assim, fazer parte de administrações estaduais chefiadas por aliados de Bolsonaro. Apoiadores do ex-presidente têm recebido convites, mas essas siglas demonstram preocupação em não dar espaço aos radicais.

O PT também tem a próxima formação do Congresso no radar, além da reeleição do presidente Lula. Conforme o Valor revelou em janeiro, o esforço do partido é para acolher pessoas que fizeram o enfrentamento em defesa da sigla e do atual chefe do Poder Executivo. O plano é transformá-las em lideranças locais e eleger o maior número possível de vereadores que se comprometam com a reeleição do presidente em 2026.

Além disso, a ideia do PT é consolidar uma base reforçada de vereadores para dar capilaridade aos candidatos a deputado federal daqui a dois anos. Em paralelo, assegurar que as alianças deste ano já signifiquem compromissos pré-assumidos para a disputa ao Senado.

Nas contas de articuladores políticos do governo, dos 81 senadores, 38 podem ser considerados da base e 29 senadores estão consolidados na oposição. Os votos de 14 senadores são disputados pelos dois polos, a depender da votação e da pauta. Dez senadores da base terão mandato até 2030, ante 15 da oposição e dois desse grupo “pendular”. Ou seja, a base do governo no Senado Federal é a que mais sofre o risco de possíveis trocas de meio de mandato em 2026. Avalia-se no Planalto que há um risco concreto de perder a maioria no Senado para os aliados de Bolsonaro.

Em paralelo, o plano do PT é ampliar sua bancada na Câmara dos Deputados para apresentar uma candidatura competitiva à presidência da Casa em fevereiro de 2027. Assim, em caso de reeleição de Lula, o partido tentaria romper com as seguidas presidências do Centrão e do avanço desse grupo de parlamentares sobre o Orçamento-Geral da União. Esses são alguns dos feixes de luz que passam pela fresta da janela partidária.

 

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