sábado, 7 de dezembro de 2024

Feitiço contra o feiticeiro – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Tarcísio se arrisca a perder apoio da população ameaçada pela brutalidade policial

De quantos casos "isolados" o governador Tarcísio de Freitas vai precisar para se render à evidência de que há uma crise na administração da segurança pública em São Paulo? Quantos abusos "pontuais" serão necessários para ele aceitar que a brutalidade por parte de agentes do Estado é inaceitável?

Talvez essa tomada de consciência ocorra quando, e se, a sociedade perceber que qualquer um do povo pode ser vítima da violência desmedida de policiais pagos para protegê-la, e disso decorra uma queda na avaliação positiva de seu governo.

O cálculo por ora parece se basear na preferência da maioria pela linha dura, mesmo ao preço de exorbitâncias. Por mais distorcido que seja, esse tipo de visão pode até valer para o embate com criminosos, mas pode mudar à medida que se acumulem episódios de agressões injustificadas e a população se sinta ameaçada por elas.

Um homem atirado de uma ponte feito saco de lixo, outro fuzilado pelas costas, um estudante desarmado morto à queima-roupamata-leões a torto e a direito ou a presença intimidatória de tropas no enterro de uma criança de quatro anos abatida numa operação não são cenas que se coadunem com a dita polícia "mais bem treinada do país".

O governador alude aos "números", segundo ele indicadores de eficiência. Mas e as pessoas que porventura manifestem temor de ficar à mercê dos abusos? Diria a elas que não está "nem aí", as mandaria ao "raio que o parta", como fez em relação a críticas de organizações defensoras dos direitos humanos?

Ao agente da lei não é facultado perder a cabeça em situação alguma. A alegação de que ações individuais não podem desabonar a corporação tampouco justifica nem ameniza a situação. A correção de procedimentos é dever do conjunto.

Um militar afastado da Rota por conduta excessiva no comando da Secretaria da Segurança Pública não passa aos comandados exatamente mensagem de contenção. E ainda desqualifica o governador como atrativo político para os moderados. No lugar de marcado pelo combate ao crime, Tarcísio pode sair manchado pelo estímulo à força bruta.

 

3 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade,a população,em geral,pode passar a temer a violência policial.

Anônimo disse...

Como mãe de um jovem autista com algumas estereotipias, tenho muito medo de policiais despreparados e violentos.

Anônimo disse...

CENÁRIOS HORROROSOS
1) ... agora imagina o tarcísio presidente nomeando o derrite ministro da justiça e segurança pública ...
2) se o tarcísio for voltar atrás em cada um dos erros que cometeu, vai ser preciso reelegê-lo governador de sp para que ele tenha o tempo necessário para a tarefa.