O Globo
Nossos dirigentes precisam parar de pensar em
si e buscar soluções que nos realizem. O país tem de se encontrar consigo mesmo
Escrevo este texto, após reuniões presenciais
e ao vivo, a caminho de confraternizar com meu amigo Nizan Guanaes numa festa
linda para poucos, com show de Caetano e Bethânia. Pedi a Nizan sugestão de um
assunto para esta coluna. Ele me indicou a música “Fé!”, da nossa ídola Iza. Eu
disse que já conhecia a música e veria como trazer para cá o assunto sem ser
uma leitura de um Deus dominador que impõe tudo sobre todas as coisas.
Fé na saúde da Dona Fátima, minha bússola em tempos tão duros de desamor e tensões. Ela ilumina meus dias mais cinzentos e nem sabe quanto me fortalece quando sorri, com nosso senso de humor ácido e sem filtros, ou quando a admiro passando seu dedinho gordo na tela do celular, morrendo de se abrir (como se diz lá no Ceará) com os vídeos das redes sociais.
Fé nos meus irmãos da família Cufa, pelos
aprendizados, pelas conquistas, por tudo o que fizemos pelas favelas. Saímos da
Cidade de Deus para estar em 61 países. Premiados, reconhecidos, conhecidos, e
novas lideranças surgem dia após dia nessa universidade da vida, nesse corredor
de oportunidades, nessa escola de executivos sociais. Semeadores da fé, para o
sonho não descarrilhar do caminho das realizações.
Fé no reitor, professor e orientador dessa
faculdade, Celso Athayde, pela orientação e pelos esculachos pedagógicos, pela
dureza no exemplo e pela ternura, generosidade e lealdade inquestionáveis
quando a fé nos falta.
Fé nas favelas, principalmente as do Rio, que
me adotaram num ritual de celebração lindo, cheio de simbolismo e amor. Pelo
reconhecimento do asfalto, pela interlocução com autoridades e, em especial,
pelo meu título de cidadão carioca dado pelo poder municipal. Minha cidade
adotiva. Te amo, Rio.
Que nunca falte fé para vocês que leem e me
seguem nas redes sociais e na tela da TV Globo aos domingos, quando tentamos
levar nossas causas em forma de alento e esperança com entretenimento. Valeu
Amauri e Luciano Huck,
pela fé que colocaram em mim, por me apresentarem tanta gente bacana e
talentosa que tem na fé da criatividade combustível para a vida. Especial
agradecimento por me apresentarem Dona Déa: todas as vezes que choramos juntos
ou nos emocionamos em silêncio, nos abraçamos num ritual de fé na vida e nas
memórias dos nossos filhos, que se foram em matéria, mas vivem nas melhores
lembranças e nas mais fortes emoções dos nossos corações.
Fé nas minhas aliadas e aliados da Cufa do
Ceará, que, quando parti para missões maiores, honraram a caminhada, seguiram
em frente e não deixaram o bonde parar. Tenham fé. Nem tudo são flores, porém,
nem dores. Sabemos de onde viemos, e isso nos ensina para onde vamos.
Fé na família, meus irmãos, entre barracos e
barrancos, para nunca perder a fé na compaixão, no amor e no perdão. Toda minha
fé no meu pandinha José, em quem encontro sempre inspiração para renascer todo
dia com fé num mundo melhor.
Gratidão pela fé de Cynthia, parceira, aliada
e fechamento de todas as horas, que divide comigo essa tarefa de tornar o mundo
um lugar melhor para nós e nossos filhos.
Fé na colaboração entre saberes diferentes
para derrubar a mediocridade e a arrogância dos sentimentos e atitudes
desagregadoras. Tenhamos fé no país. Temos tudo o que todos buscam, e nossos
dirigentes precisam parar de pensar em si e buscar soluções que nos realizem. O
país tem de se encontrar consigo mesmo para ser uma nação. Fé em todas as
cores, nas boas ideias, nas atitudes nobres que precisamos iluminar, na
velocidade que devemos reduzir na busca de equilíbrio para continuar seguindo o
caminho da felicidade, por mais frenético e tumultuado que seja.
O amor ao próximo como ideologia, o realismo
pessimista para não se perder em dias nublados, e o otimismo permanente para
deixar a chama da fé acesa, mesmo na pior tempestade.
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