Ex-senadora vê dificuldade de atrair bons quadros para partidos que, segundo ela, se preocupam só em ganhar eleições, sem discutir propostas
Roldão Arruda
SÃO PAULO - Em meio à crise que enfrenta em seu partido, o PV, a ex-senadora Marina Silva (AC) decidiu retomar a bandeira das candidaturas avulsas, em todas as instâncias do poder, da vereança à Presidência da República. Nos encontros com militantes do PV descontentes com a atual direção partidária, que adiou para 2012 as eleições internas previstas para este ano, ela tem mencionado que a reforma política deveria acabar com a exclusividade de candidaturas pelos partidos.
Foi o que ocorreu no sábado em São Paulo, durante um discurso sobre os problemas que enfrenta com a direção do PV, no poder há 12 anos. Disse que está cada vez mais difícil atrair bons quadros para os partidos que existem hoje, uma vez que seus dirigentes se preocupam apenas em ganhar eleições, em vez de discutir propostas políticas para o País.
Em entrevista à imprensa, Marina disse que graças à sua militância suprapartidária, como ambientalista, conhece diferentes segmentos da sociedade e bons analistas da realidade brasileira, capazes de dar boas contribuições à política. Muitos deles, porém, "não querem saber de partido, por causa de toda a degradação que foi acontecendo no sistema político".
A candidatura avulsa, segundo Marina, abriria uma alternativa de contribuição para essas pessoas. "Se a proposta for aprovada na reforma política, ela vai contribuir para o processo democrático, trazer sangue novo, oxigenar a política brasileira."
Esse tema não é novo na trajetória política da ex-senadora e terceira colocada na eleição presidencial do ano passado, com 19,6 milhões de votos. Ela defendeu a tese pela primeira vez nos anos 90, quando ainda militava no PT, e sob inspiração do modelo italiano. O assunto também apareceu no discurso de despedida do Senado, em dezembro.
Crise. O que chama atenção agora é o fato de retomar o debate em meio à crise que o PV atravessa, com o embate entre o grupo do qual ela participa e o liderado pelo atual presidente, deputado José Luiz Penna (SP). Não está descartada a possibilidade, se não houver um acordo nas próximas semanas, de um racha partidário.
A candidatura avulsa já foi discutida em diferentes ocasiões no Congresso e nunca foi adiante. Na semana passada, a comissão de reforma política do Senado voltou ao tema e aprovou a proposta de permitir candidatos avulsos para os cargos de prefeito e vereador nas eleições de 2012. O principal defensor da causa, senador Itamar Franco (PPS-MG), observou que apenas 9,6% de 217 países não admitem os candidatos avulsos.
Para os que se opõem à proposta, entre eles o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), a candidatura avulsa enfraqueceria o modelo democrático brasileiro, baseado na estrutura partidária. Outro problema seria de governabilidade, uma vez que o Executivo teria de negociar apoios individualmente com parlamentares, e não com os líderes.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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