segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Hora de faxina::Wilson Figueiredo

Foi fantástico. Domingo, a presidente Dilma se apresentou assertiva quando, entrevistada na televisão, rejeitou a qualificação de faxina para a vassourada que, com mão de gato, despejou de seu primeiro ministério quatro ministros em oito meses e, na segunda-feira, quando tudo parecia voltar à rotina, despachou mais um remanescente da primeira fornada ética. Ficou sem destaque o papel do vice-presidente nas degolas.

No modo presidencial de ver o momento brasileiro, “faxina tem hora para começar e acabar”. Não é, porém, suficiente para apanhar ninguém com a mão na grana. Faxina é atividade secundária, rotina doméstica. Obrigação. Meter a mão também ficou rotina. A entediada oposição, ainda não sintoniza com a opinião pública. Parece ter entendido pelo avesso o que se vê. Só tem olhos para o ex-presidente Lula, de onde, tão cedo, não se espera nada de aproveitável. Há silêncios que falam alto.

Na opinião da presidente, a diferença entre faxina e limpeza é que esta é permanente e aquela eventual. Optou pela permanente. A circunstância deve ser levada em consideração na era dos aspiradores de pó (sem alusões). Ela prefere o efeito detergente das denúncias para chegar à corrupção, que vem a ser o cupim da República. Dá para entender a razão pela qual dona Dilma não embarcou na proposta de investir no bullying do petismo para instalar o controle social da mídia.

Deve ter sido por aí que a vitória eleitoral trincou a unidade subjetiva que fazia a presidente e o ex parecerem gêmeos. A diferença começou a prevalecer nas palavras e se encaminha para as posições. Além da aparência, pouco os une e muito, no fundo, já os separa. À medida que o tempo se encaminha para 2014.

Em matéria de corrupção no espaço oficial, a vassoura teve preferência histórica de Jânio Quadros lá atrás, quando entrou em cena como vereador. Independente da renúncia, não se pode perder de vista o vereador que se apresentou em cena com a vassoura na mão. Na eleição e na administração municipal, a vassoura foi o cabo eleitoral do prefeito Jânio Quadros e, sem intervalo, o levou ao governo do estado para coroá-lo, em seguida, com a faixa de presidente da República. E mais não fez porque JQ se perdeu na poeira que a vassoura levantou. A faxina acabou varrendo o próprio e prestigiando os corruptos que infestam a República. Não são ouvidas por acaso as recomendações de cautela em relação à moralidade pública. Está aí o resultado: a desmoralização da política pelos próprios políticos, seja por omissão ou por meterem a mão.

Quanto mais partidos, está demonstrado, melhor para confundir as aparências. A confusão foi plantada nos espíritos e a política já se destina a enriquecer, primeiro, os que a fazem. Para os eleitores, o que sobrar dos orçamentos e os escândalos. Um mandato presidencial já é pouco para pagar, em prestações, o apoio ao governo eleito na mesma safra de votos. Na hora de escolher, entre meia dúzia de pretendentes a cargos de ministros ou os de aparente conteúdo técnico, os partidos oferecem os nomes e o (ou a, se for o caso) presidente não tem como escolher o melhor, porque todos se nivelam por baixo. Tem de se contentar com o menos ruim (com pedido de desculpa pelo desrespeito gramatical). E se dar por felizardo se conseguir um que salve as aparências.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

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