• O máximo que o governo da Grécia deverá conseguir é um prolongamento do prazo para demonstrar como cumprirá com o que o país se comprometeu
Vence amanhã o prazo dado à Grécia, em ultimato pela área do euro, para que diga se aceita ou não os termos do programa de ajuste adiantado a títulos de empréstimo ponte, num total de 240 bilhões de euros.
O compromisso do governo anterior da Grécia foi de levar a cabo um plano que não envolve apenas duras medidas de austeridade e de arrocho salarial, mas, também, de reformas e de privatizações.
Com base no seu capital de votos, equivalente a 36,3% do eleitorado, o novo governo do primeiro ministro Alexis Tsipras, que tomou posse em 26 de janeiro, avisou que não quer prorrogar esse programa e não cumprirá a agenda de privatizações.
Na última segunda-feira, a reunião entre o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, e os ministros das Finanças da área do euro durou apenas 30 minutos e aparentemente não avançou.
Varoufakis é um especialista em teoria dos jogos. Assim, a intransigência colocada à mesa parece parte desse jogo já esperado. O ministro das Finanças da Alemanha, o durão Wolfgang Schäuble, saiu dizendo que Varoufakis estava jogando pôquer. Mas não disse só isso. Disse, também, que nem ao menos ficou claro o que quer a Grécia.
No entanto, com base no festival de nãos em curso, o Banco Central Europeu avisara há uma semana que não aceita mais títulos da dívida da Grécia como garantia (colateral) que qualquer banco da área pode pleitear. Ou seja, também jogou duro: se o programa não for revalidado, esses títulos não passarão credibilidade, porque o calote seria inevitável.
A radicalização de posições é tal que alguns analistas começam a achar que o governo da Grécia está apenas à procura das expressões adequadas para se enquadrar sem decepcionar os eleitores. Varoufakis chegou a admitir que está à procura de uma “saída honrosa”.
Ficou a impressão de que o governo da Grécia agora não quer ser acusado de estelionato eleitoral: de ter vencido as eleições defendendo uma postura heroica diante dos credores e acabando por capitular diante das mesmas imposições aceitas pelo governo anterior.
O problema imediato é que o capital não tem muita paciência nem com questões de semântica nem com espetáculos de teatro – aliás, uma invenção dos gregos. A corrida aos bancos da Grécia já começou porque cada vez mais correntistas estão apostando em que não haverá outro caminho senão o calote e, junto com ele, a saída do país da área do euro. Se isso acontecer, a Grécia terá de adotar uma nova moeda, sabe-se lá com que valor em relação ao euro e, portanto, com que derrubada da riqueza nacional.
De todo modo, parecem improváveis desfechos apocalípticos. Tanto os gregos como os credores vêm fazendo um teatro de beira do abismo, jogando com pânico financeiro, tragédia na área do euro e criação de um buraco negro na Grécia. Mas, como das outras vezes, algum acordo haverá de sair.
Como das outras vezes, cede o lado mais fraco ou o que teria mais a perder com o desastre. O máximo que o governo da Grécia deverá conseguir é um prolongamento do prazo para demonstrar como cumprirá com o que o país se comprometeu.
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