quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Para o governo, carta de vice foi tentativa de forçar rompimento

Valdo Cruz, Marina Dias, Mariana Haubert

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto avaliou que o vice-presidente da República, Michel Temer, tentou forçar um rompimento com o governo ao enviar uma cartaconsiderada dura a Dilma Rousseff e decidiu não reagir –buscando, inclusive, agendar um encontro entre os dois.

Com o aval da presidente, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) telefonou para Rodrigo Rocha Loures, assessor do vice, propondo uma reunião entre Dilma e Temer, o que foi acatado pelo peemedebista. O encontro deverá ocorrer nesta quarta (9).

"Não posso me furtar de conversar com a presidente", disse o vice a interlocutores.

Wagner foi o segundo emissário presidencial a procurar Temer e atuar como "bombeiro" após a divulgação da carta em que o vice explicitou a desconfiança de Dilma em relação a ele e a seu partido, o PMDB.

O primeiro foi o ministro Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União), que esteve reunido com o vice até a madrugada desta terça no Palácio do Jaburu, com a missão de checar se havia clima para Dilma procurar o peemedebista no dia seguinte, o que acabou acontecendo.

Na avaliação do Planalto, Temer tentou, com a carta, fazer com que a iniciativa do rompimento partisse de Dilma. Nas palavras de um assessor palaciano, o governo optou por não cair na armadilha do peemedebista.

Uma ala do Planalto defendia, inclusive, não reagir nem procurá-lo –a tese acabou sendo vencida no governo, que se preocupa com o clima negativo no Congresso após a derrota na composição da comissão do impeachment.

A orientação de evitar reagir à carta de Temer caiu na noite de segunda (7), durante reunião da presidente com sua equipe, quando o documento foi divulgado.

Um dos poucos a criticar o vice foi o petista Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência Social). "A história julga o comportamento dos homens públicos. Michel Temer, por duas vezes, jurou defender a Constituição", disse.

À tarde, auxiliares de Dilma avaliavam ter tomado a decisão correta, pois até dentro do PMDB o gesto do vice recebeu críticas.

Publicamente, senadores peemedebistas afirmavam que a carta é de cunho pessoal. Reservadamente, porém, reprovaram o tom da missiva e estranharam seu conteúdo. Alguns chegaram a dizer que Temer "apequenou-se" ao reclamar de nomeações de amigos para ministérios.

A avaliação geral foi de que a decisão, tomada solitariamente por Temer, sem consultar a cúpula do partido, acabou colocando-o como alguém diretamente interessado no impeachment.

Além da reação negativa de peemedebistas, assessores presidenciais destacavam que a carta de Temer virou "piada" nas redes sociais.

Líderes da oposição associaram a movimentação de Temer a uma aproximação daqueles que defendem o impeachment e consideraram como indicação clara de rompimento com o governo.

"A questão central é que o presidente do PMDB e vice-presidente da República, no entendimento do PSDB, se afasta definitivamente do governo", afirmou o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB.

Já para o líder do partido no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), a carta revela todo o fisiologismo que existe na política brasileira, já que o vice reclama de indicados que deixaram o governo.

Carta
No documento, Temer diz que sempre soube "da absoluta desconfiança da senhora [Dilma] e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB" e que passou os primeiros quatros anos de governo como "vice decorativo".

O peemedebista abre a carta dizendo que as palavras voam, mas os escritos ficam. Avisa então tratar-se de um "desabafo" que deveria ter feito "há muito tempo" e expõe seu incômodo com declarações e ações de Dilma, do governo e de seus aliados sobre a "confiança" nele.

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