• Siglas da base, como PR, PP e PSD, teriam mais espaço num futuro governo
• Planalto tenta reagrupar seus aliados e pressiona ministros e governadores para ampliar os votos favoráveis à presidente
O grupo político do vice-presidente Michel Temer lançou ofensiva junto a parlamentares da base aliada, como os de PR, PP e PSD, para aprovar o impeachment da presidente Dilma. Na linha de frente dessa equipe estão ex-ministros, como Eliseu Padilha, e ex-deputados do PMDB, como Sandro Mabel e Geddel Vieira Lima, informam Simone Iglesias e Júnia Gama. São oferecidos mais espaços no governo e a garantia de que emendas parlamentares serão incluídas nos programas dos ministérios. Já o governo tenta reagrupar sua base, valendo-se da influência de governadores aliados e ministros.
Ao pé do ouvido
• Aliados de Temer tentam conquistar votos pró-impedimento fazendo promessas para eventual governo
Simone Iglesias e Júnia Gama - O Globo
-BRASÍLIA- Mais do que cargos, deputados e presidentes de partidos da base aliada têm recebido acenos de que passarão a ter poder político real para influenciar diretamente decisões em um eventual governo do vice-presidente Michel Temer. Em conversas que se intensificaram nas últimas semanas, parlamentares de partidos que compõem o “centrão” da base aliada, como PR, PP e PSD — aqueles que tradicionalmente apoiam todos os governos, à exceção de PT e PCdoB — se tornaram alvo de investidas do grupo do vice, que busca votos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na linha de frente da execução dessa estratégia estão os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco e os ex-deputados peemedebistas Rodrigo Rocha Loures, Geddel Vieira Lima e Sandro Mabel, este último o mais ativo da equipe nas conversas dentro da Câmara.
Os principais argumentos usados são os estilos diferentes de Dilma e Temer na convivência política; a ampliação de espaços no governo, e a garantia de que os compromissos assumidos serão cumpridos. Sempre “muito discreto”, contam os políticos que tiveram encontros recentes com o vice, Temer fala em respeito ao Parlamento e cita que irá incorporar aos programas dos ministérios as emendas dos deputados, garantindo sua execução, e fazendo sair do papel a obrigação de o governo cumprir o orçamento que for aprovado pelo Congresso — levando ao que ele próprio chamou na sexta-feira de “semiparlamentarismo”.
— Não se fala em distribuição fria de cargos, “você vai ser ministro disso ou daquilo”. As conversas giram em torno da ideia do governo de coalizão e que espaço não é problema, haverá para os que chegarem e será ampliado aos que já estão — disse ao GLOBO um dos deputados participantes das reuniões.
Nos últimos 15 dias, o vice conversou com presidentes de partidos da base aliada, como Marcos Pereira, do PRB; dirigentes do PSB e até o presidente do oposicionista Solidariedade, Paulo Pereira da Silva. Além das sinalizações de compartilhamento do poder, integrantes da base relatam que interlocutores de Michel Temer já começaram a fazer acenos com cargos em um eventual governo do peemedebista.
Ministérios no centro das especulações
Ministérios hoje ocupados por defensores de Dilma Rousseff estão no centro dessas especulações, especialmente aqueles que alojam representantes de parcelas de bancadas que já não são maioria, como Saúde e Ciência e Tecnologia. Os respectivos ministros dessas duas pastas, os peemedebistas Marcelo Castro e Celso Pansera — ambos contrários ao impeachment —, foram indicados ao cargo por Leonardo Picciani (PMDB-RJ), destituído da liderança do partido na semana passada.
Governistas que tentam recompor o apoio no Congresso para barrar o processo de impeachment dizem que enfrentam hoje uma dupla dificuldade na disputa pelos votos dos deputados. Primeiro, a falta de credibilidade do Planalto pelo descumprimento de acordos firmados anteriormente com a base aliada. E, para completar, o ex-ministro Eliseu Padilha carrega consigo uma planilha do tempo em que ocupou a articulação política de Dilma com um amplo mapeamento sobre os pedidos dos parlamentares em diversas esferas, com respostas sobre o que foi ou não contemplado.
— O governo não tem dinheiro para liberar emendas, e muitas nomeações estão travadas. Em vez de jogar com transparência e dizer que alguns casos não podem ser resolvidos e oferecer uma alternativa, o governo quer continuar fazendo reuniões para marcar novas reuniões — resume um líder governista.
O que mais tem atraído a atenção dos parlamentares é a possibilidade de ter um presidente de postura menos hostil do que Dilma. Deputados relembram nas conversas a relação que tinham com Temer nas três vezes em que ele presidiu a Câmara e acreditam que seu estilo “educado”, “gentil” e “agradável” integrará os aliados.
— Ninguém aguenta mais ser escrachado em reunião com a presidente. Temer é um lorde, e este é o maior ponto fraco de Dilma dentro da Câmara — disse um líder aliado pedindo reserva ao GLOBO.
Por trás de tantas conversas e promessas de um governo de real coalizão está a busca por votos para derrubar Dilma. Na semana passada, a votação secreta para a escolha da chapa que iria compor a comissão do impeachment serviu como um termômetro: a oposição teve 272 e o governo, 199. Os líderes dos partidos da base identificaram imediatamente defecções nas bancadas, situação que irá se repetir em todas as votações sobre o tema. Faltam à oposição 70 votos para atingir os 342 necessários (dois terços) para aprovar a admissibilidade da ação contra Dilma. Representantes partidários que estiveram em conversas com Temer nos últimos dias dizem que o mais importante agora é ficar claro que será um governo de “união nacional”, e não apenas do PMDB.
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