O Globo
Novo ministro imita Bolsonaro e estreia com
factoide sobre Petrobras
O novo ministro de Minas e Energia pode não
entender de combustíveis, mas domina a arte de produzir factoides. No primeiro
dia no cargo, Adolfo Sachsida ignorou o debate sobre a alta da gasolina.
Preferiu distrair a plateia com a promessa de vender a Petrobras.
Em pronunciamento para a TV, Sachsida
anunciou que solicitará o “início dos estudos tendentes às alterações
legislativas necessárias à desestatização da Petrobras”. Em seguida, informou
que pedirá a “inclusão da PPSA no PND”. No dialeto da burocracia, isso
significa que ele também gostaria de privatizar a estatal que cuida do pré-sal.
As duas propostas são puro teatro. Faltam menos de cinco meses para o primeiro turno das eleições. O governo não tem tempo nem condições políticas para vender a maior empresa brasileira, responsável por 4% do Produto Interno Bruto.
Privatizar a Petrobras é um velho fetiche
dos fundamentalistas de mercado, mas nem eles parecem ter acreditado na bravata
de Sachsida. Ainda assim, o economista alcançou seu objetivo. Fabricou uma
polêmica tola e se esquivou de apresentar um plano para conter a disparada dos
combustíveis. O problema derrubou seu antecessor e ameaça a reeleição de Jair
Bolsonaro.
O novo ministro comprou as ações do capitão
na baixa. Começou a cortejá-lo em 2017, quando Paulo Guedes ainda oferecia seus
serviços a outros presidenciáveis. Até a semana passada, batia ponto no segundo
escalão do Ministério da Economia. Agora é premiado com a promoção no fim do
governo.
Sachsida se diz liberal, mas milita ao lado
de extremistas. No último 7 de Setembro, participou de manifestação a favor de
Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal. Na primeira fala no novo cargo,
ele imitou o chefe ao apelar para o discurso religioso. Citou o nome de Deus e
se exibiu com uma imagem de Nossa Senhora na lapela.
Vídeos que circularam ontem ajudam a
entender a cabeça do ministro. Numa fala discriminatória, ele defendeu os
empresários que pagam salários menores às mulheres. Alegou que os homens vão
menos ao médico e não engravidam. “Pode me chamar de machista à vontade”,
provocou.
Em outra gravação, Sachsida disse que os ditadores Adolf Hitler e Augusto Pinochet eram esquerdistas. Se ele transportar seus conhecimentos de História para a economia, ainda sentiremos saudade da gasolina a R$ 8.
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